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Hóquei em patins: Moçambique a caminho do “Mundial”

De acordo com o sorteio realizado na semana passada, a selecção nacional de hóquei em patins vai ter pela frente a Itália, os Estados Unidos da América e a Colômbia, no Grupo D do campeonato mundial da modalidade. A prova vai decorrer nas cidades angolanas de Luanda e Namibe, de 20 a 28 de Setembro próximo. Pedro Tivane, seleccionador nacional adjunto, contou ao @Verdade como está a decorrer a preparação com vista à participação de Moçambique nesta competição, analisando, também, os adversários que cruzarão o seu caminho.

@Verdade – Como é que está a decorrer a preparação da selecção nacional para o Campeonato Mundial de Hóquei em Patins que se avizinha?

Pedro Tivane – A preparação está a decorrer normalmente. Recentemente, fizemos três jogos de observação na África do Sul contra a selecção daquele país vizinho, em que ganhámos dois e empatámos um. Neste momento, estamos a trabalhar na correcção dos erros que detectámos nestas partidas, dentro do nosso programa de preparação no solo pátrio.

@V – E quais são esses erros?

PT – Não são erros genéricos. São, sim, básicos, relacionados com os esquemas defensivo e de finalização.

@V – Atendendo que esses dois pilares (defensivo e ofensivo) são cruciais para o sucesso de uma equipa de hóquei, pode-se afirmar que a equipa ainda não está preparada?

PT – Absolutamente que não. Mas temos de ser francos para afirmar que a equipa ainda não está bem e que urge colmatar estes erros. Mas são detalhes que serão acertados, até porque teremos um estágio de cerca de um mês em Portugal, onde nos vamos concentrar em todos os aspectos negativos, bem como melhorar os positivos da nossa selecção nacional. Enquanto cá, só nos preparamos uma vez por semana, lá teremos treinos diários e com a equipa toda reunida. Sinto que chegaremos ao ponto que desejamos.

@V – Quais são os dias de treinos no país?

PT – Nas terças e quintas-feiras, das 19 às 21 horas. As quartas e as sextas-feiras estão reservadas para os jogos de observação e controlo, de modo a permitir que os jogadores descansem durante o fim-de-semana, incluindo a segunda-feira. Mas para o momento, em que estamos próximos ao “Mundial”, havendo necessidade de redobrar o esforços, acho que isso é pouco. Já entrei em conversações com a direcção da Federação Moçambicana de Patinagem no sentido de convencer os jogadores a treinarem também nas segundas-feiras durante este mês de Julho.

@V – Mas qual é o “ponto” a que pretendemos chegar?

PT – A equipa precisa de ganhar mais confiança, sobretudo no arranque dos jogos. O que se percebe é que os jogadores entram muito ansiosos e isso acaba por afectar o moral. Olhando para os jogos que realizámos, entrámos sempre a perder por 3 a 0, 4 a 0, mas no fim acabámos por recuperar, dando a volta no marcador e/ ou empatando. Notei, por exemplo, que tivemos erros de marcação, sobretudo no detalhe colectivo, visto que o desacerto de um atleta prejudicava toda a equipa e sofríamos golos. No jogo ofensivo perdemos muitas bolas, o que pode ser prejudicial para as nossas aspirações durante o campeonato. Na componente física estamos muito bem e não há razões de queixa.

@V – Se nesses jogos, diante da África do Sul, a equipa entrou a perder, recuperando na segunda parte, significa que os jogadores entram sempre sem confiança. Que trabalho específico está a ser feito para colmatar esta situação?

PT – Temos de tomar em conta as baixas temperaturas que se fazem sentir na África do Sul, isto por um lado. Por outro, antes destes jogos, nós tivemos duas semanas sem treinar. Mas a culpa deve ser imputada a mim pois, antes do arranque dos jogos, orientava sempre um período de aquecimento com patins, no lugar de sapatilhas.

Aliás, mesmo no próprio treino com patins, devia ter instigado um pequeno jogo de aquecimento, o que não sucedeu. Mas nós não podemos depender das condições climatéricas, embora seja um detalhe a ser tido em consideração. Dentro de dias teremos mais jogos contra a África do Sul cá em Maputo, onde poderemos tirar todas as nossas dúvidas e ir a Portugal com uma ideia clara dos defeitos da selecção.

@V – Como está o “balneário” da selecção nacional?

PT – O “balneário” está muito bem. Os jogadores têm-se comportado muito bem e estão animados por saberem que estarão na maior prova mundial de hóquei em patins. Há muita dedicação e empenho durante os treinos. Agrada- -me saber que a equipa está ciente de que é preciso muito trabalho para se ter uma boa prestação num grupo muito complicado como este em que estamos inseridos.

@V – É do conhecimento do @Verdade que esta equipa não está completa, que os jogadores fundamentais estão em Portugal. Como é o processo de preparação tendo em conta este aspecto?

PT – São apenas quatro jogadores que estão em Portugal. Nós vamos encontrá- los no próximo mês lá, durante o estágio. Temos vindo a trabalhar na renovação da selecção nacional, mas os que estão no estrangeiro não deixam de ser fundamentais. E isso não deve alarmar a ninguém. Os que estão em Moçambique têm vindo a trabalhar comigo, na qualidade de seleccionador nacional adjunto.

Os que estão em Portugal estão a trabalhar com o técnico principal, o Pedro Nunes. A filosofia de trabalho é a mesma, quer cá, quer lá, até porque tudo é esboçado por ele. É preciso deixar claro que estes jogadores se conhecem e trabalham praticamente juntos já há muito tempo, ainda que haja uma e outra nova cara que levaremos ao campeonato. Mas em Portugal nós vamos coordenar e acertar tudo.

@V – O hóquei teve sempre falta de infra-estruturas. Até que ponto isso afecta o trabalho da equipa?

PT – Neste ano não tivemos falta de pavilhão. Tivemos esse problema quando regressámos da Argentina, no último campeonato mundial, em que terminámos na quarta posição. Hoje não temos razões de queixa visto que, depois da reabilitação, passámos a usar o pavilhão do Estrela Vermelha.

@V – E como se tem comportado a federação neste período de preparação?

PT – Lindamente. Não temos razões de queixa. A federação tem disponibilizado condições que estão de acordo com as exigências dos atletas.

O sorteio do Campeonato Mundial de Hóquei em Patins

@V – Moçambique encontra- -se no mesmo grupo da Itália, dos Estados Unidos de América da Colômbia. Que análise faz deste sorteio?

PT – Acolhemos o resultado do sorteio com muito agrado. Calhámos num grupo bastante acessível pois teremos a Itália, a selecção mais forte do grupo, logo na primeira jornada. Este jogo, para nós, será de vida ou de morte até porque não conhecemos esta equipa, no tocante ao historial de jogos. Mas isto não pode significar que os outros dois embates serão fáceis para nós. Vamos tentar dar o nosso máximo, de igual modo, diante das três selecções. Nós não podemos entrar a desprezar o adversário, sob pena de sermos surpreendidos. As três partidas serão autênticas finais, pois dependemos delas para o alcance dos nossos objectivos.

@V – Olhando mais para a selecção italiana, que é aparentemente a mais forte do grupo, que informações adicionais têm e o que pode ser feito para jogarem de igual para igual ou, se calhar, arrancarem uma vitória?

PT – A Itália é uma selecção muito forte. Tem um campeonato interno bastante competitivo com cerca de 250 equipas, enquanto nós só temos quatro ao nível do país. Mas, o que nos safa é o facto de termos jogadores que militam no campeonato português, tecnicamente evoluídos e com um outro tipo de rodagem. Os jogos de preparação que teremos durante o estágio em Portugal, contra algumas selecções europeias similares à Itália, poderão colocar-nos à altura de jogar de igual para igual.

@V – E o que nos diz sobre os Estados Unidos?

PT – Nós temos de estar fortes e comportarmo-nos da mesma maneira, seja contra a Itália, seja contra os Estados Unidos, seja contra a Colômbia. Como disse anteriormente, todos os jogos serão autênticas finais para nós, de modo a alcançarmos os nossos objectivos. Aprendemos uma grande lição no último campeonato mundial e neste não podemos falhar. Não queremos preparar-nos somente para defrontar a Itália, pois o risco de perdermos contra as duas restantes equipas é ainda maior.

@V – Qual é o objectivo neste Campeonato Mundial de Hóquei em Patins?

PT – Estamos a trabalhar para melhorar a classificação passada, obviamente ganhando uma medalha. Mas se não der, teremos de manter a quarta posição conquistada no “Mundial” de 2011, em San Juan. Estamos cientes de que teremos adversários fortes pela frente, como, por exemplo, a Espanha, a Argentina, Portugal e a própria Itália.

@V – Existe capacidade para alcançar esses objectivos?

PT – Se alcançamos a quarta posição no último campeonato, porque é que não podemos fazer melhor neste ano?

@V – Reina a convicção de que Moçambique é uma potência de hóquei a nível mundial. Porquê?

PT – Felizmente temos uma selecção humilde, forte e unida. Os jogadores são muito amigos e com um espírito de trabalho em grupo excelente. Temos atletas ambiciosos, que conhecem o valor da nossa bandeira. Estes são os grandes segredos da selecção nacional.

 

O rejuvenescimento da selecção nacional

@V – Olhando para a média de idades da nossa selecção, nota-se que ela é bastante adulta. Qual é o projecto de rejuvenescimento que se tem em vista?

PT – Estamos a pensar nisso desde que regressámos do último Campeonato Mundial de Hóquei em Patins. Neste momento temos dois jogadores novos na selecção. Não é o que pretendíamos, mas é sabido que em Moçambique temos falta de equipas das camadas mais novas, ou seja, de juniores, de juvenis e de iniciação. Isso obriga-nos a tornar o rejuvenescimento da nossa selecção em algo gradual, como estamos a fazer agora.

@V – Mas teremos uma geração como esta, futuramente?

PT – Precisamos de investir mais na formação. Talento, nós temos. É preciso que os clubes trabalhem mais no hóquei cientes de que só se pode ter uma equipa sénior depois de se ter uma equipa júnior.

@V – E como alguém que conhece o hóquei em patins moçambicano, quais são os defeitos que tem notado do mesmo?

PT – Nós temos de trabalhar muito mais. E como disse anteriormente, por um lado, é preciso que os clubes trabalhem mais na componente da formação. Por outro, temos de expandir a modalidade para as outras regiões do país, de modo a tornar a patinagem um desporto nacional. Neste momento o hóquei é praticado apenas nas cidades de Maputo, de Nampula e de Quelimane. Mas, deixando de fora a capital do país, quais são os benefícios que tiramos dos outros pontos do país? Nenhuns, senão uma patinagem deficiente. Eu acho que é preciso enviar para essas duas cidades monitores que possam transmitir os seus conhecimentos acerca da modalidade. Precisamos, um dia, de ter uma competição nacional e competitiva, com cerca de dez equipas no mínimo.

@V – Que mensagem tem a transmitir ao povo moçambicano?

PT – Queria pedir aos moçambicanos para depositarem toda a confiança em nós, acreditando sobremaneira nesta selecção. Nós faremos todos os possíveis para orgulhar este país que anda, há muito, sem conviver com glórias a nível das competições internacionais. Vamos neste certame tentar elevar a nossa moçambicanidade, erguendo mais alto a nossa bandeira.

 

Taça “Zedú”

@V – Em Agosto de 2012, Moçambique participou na Taça Zedú, em Angola, tendo perdido na final diante da equipa da casa. O que falhou, sabendo que a nossa selecção era, aparentemente, a mais forte do torneio?

PT – Para nós foi uma boa prova. Não perdemos essa qualidade de potência mundial. As pessoas precisam de perceber que nós não tínhamos, no período de preparação, um campo para treinar. A equipa só efectuou quatro sessões e, ainda assim, chegou à final, onde perdeu de forma estranha, pela má actuação da arbitragem e mais coisas que aconteceram naquele jogo. Mas o que fizemos e deixámos de fazer naquela competição pouco nos preocupa. Agora estamos focalizados no “Mundial”.

 

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