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16º Dia da Greve dos Profissionais de saúde: marcha silenciosa em Maputo; negociações continuam em impasse

Algumas centenas de Profissionais de Saúde moçambicanos, que estão em greve há 16 dias exigindo melhores salários e um Estatuto mais digno, marcharam na manhã desta Terça-feira (4) por algumas das principais avenidas da capital de Moçambique. Entretanto “a greve só vai terminar quando for resolvida de forma pacífica, gradual, consensual e não por via de ameaças de morte e despedimento massivo”.

Sob o lema “Juramos salvar vidas, mas não juramos morrer a fome” a marcha organizada pela Associação Médica de Moçambique (AMM) começou cerca das 10h30 defronte do Ministério da Saúde e foi precedida de algum aparato policial.

Dezenas de agentes da Polícia de Protecção pública, alguns com cães e até mesmo um carro anti-motim da FIR, estiveram cedo no local.

Após negociação com os agentes da Lei e da ordem os Profissionais decidiram mudar o trajecto, inicialmente previsto para terminar no Circuito de Manutenção António Repinga, nas cercanias do Gabinete no Primeiro Ministro, a marcha foi encaminha para a praça da Paz.

Cartazes como “Podemos salvar vidas, mas não podemos morrer de fome, só queremos dignidade e respeito pelo nosso trabalho, estamos cansados de contar moedas no fim do mês”, testemunham o desamparo, a falta de incentivos e valorização dos profissionais de saúde.

O presidente da Comissão dos Profissionais de Saúde Unidos (CPSU), Adolfo Bau disse minutos antes da marcha pacífica arrancar que foram obrigados a mudar a rota da marcha para o bem dos próprios manifestantes, que estariam desprovidas de qualquer protecção policial e para além de alegadamente evitar a perturbação do funcionamento normal das instituições públicas de soberania, de acordo com as justificações da PRM.

A situação segundo Adolfo Bau não impediu que os profissionais da saúde marchassem partindo defronte ao MISAU, na Av. Eduardo Mondlane, Karl Marx, Marien Nguabi, Milagre Mabote até a Praça da Paz, local final da concentração. Durante a marcha os profissionais traziam na boca um adesivo como símbolo de revolta, insatisfação contra o governo e bem como um pedido de socorro para acabar com a fome da classe, simbolizado por ruídos de choro e um prato vazio na mão de cada um dos manifestantes que clama por um salário base condigno que melhore as condições de vida e satisfaça as necessidades básicas.

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Na praça da paz o porta-voz dos profissionais de saúde, Samo Gudo disse a imprensa que a marcha demonstra uma manifestação de repúdio contra o silêncio observado pelo governo sobre os contornos da greve, visto que muitos doentes estão desprovidos de tratamento médico, o aumento de mortes nas diversas unidades hospitalares por falta de assistência sanitária adequada e bem como os acidentes laborais que envolvem os estudantes estagiários que estão a ser penalizados pelo sistema nacional da saúde, através da punição administrativa.

O porta-voz questionado sobre o diálogo respondeu nos seguintes termos que dialogar não significa mandar recados por quem quer que seja, mas sim sentar-se a mesma mesa para chegar a um acordo que satisfaça as partes envolvidas no diferendo. Facto que não é observado pelo MISAU, que prefere usar terceiros que não estão abalizados sobre o pacote reivindicativo dos profissionais da saúde.

Esta atitude, segundo Samo Gudo, demonstra que houve e sempre haverá uma traição do MISAU, sobre os pontos chaves das exigências que continuam longe de ser satisfeitos por aquela instituição que tutela pela saúde no país. Uma vez que ainda há falta de vontade para resolver as inquietações dos profissionais de saúde.

“Mesmo com o desinteresse do MISAU para por termo a greve continuaremos a lutar contra a descriminação, desigualdade de tratamento, por condições de trabalho justo no sector, através da intensificação da pressão contra o governo, para que respeite e valorize todos integrantes da classe”, disse Samo Gudo.

Outro sinal de traição, falta de coragem e desrespeito pela classe médica foi vivida a quando do anúncio do reajuste salarial que o MISAU mandatou a ministra da Função Pública para anunciar o montante, sinal claro de falta de coragem para encarar os profissionais de saúde. No entanto grande preocupação de Samo Gudo relaciona-se com o recrudescimento das ondas de intimidações que sofrem diariamente perpetrado por alguns dirigentes hospitalares, que os ameaçam de expulsão e outros discursos intimidatórios que têm sido característicos desde que a greve arrancou.

A fonte foi peremptória em afirmar que estão preparados para enfrentar qualquer regime para o respeito dos direitos da classe dos profissionais da saúde para acabar com as ilegalidades perpetradas pelo Governo moçambicano contra o trabalhadores que tudo fazem para assegurar o bem-estar das pessoas, da economia e de outras áreas vitais para o desenvolvimento do país.

Samo Gudo disse não constituir verdade as alegações do governo segundo o qual não tem dinheiro para pagar os profissionais de saúde, porque a política salarial orçamental para o presente ano esta definida, é uma afirmação descabida de qualquer fundamento, porque isso demonstra que ainda persiste a manutenção de um sistema injusto no seio da máquina governativa nacional.

Para Samo Gudo a luta dos Profissionais de Saúde terminará quando o sistema governativo nacional por fim a injustiça e desigualdade no sector. “Não vamos compactuar qualquer acto que desrespeite qualquer direito da classe trabalhadora”. A negociação só poderá ser frutífera quando o MISAU deixar de hostilizar os profissionais de saúde e bem como a indicação de pessoas idóneas conhecedoras dos pontos chaves das reivindicações e saiba fazer valer a sua palavra, disse ainda Samo Gudo. “A greve só vai terminar quando for resolvida de forma pacífica, gradual, consensual e não por via de ameaças de morte e despedimento massivo”, concluiu Samo Gudo.

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Impasse na negociações

Desde a passada Quinta-feira (30) que as negociações entre os Profissionais de Saúde e o Governo, através do Ministério da Saúde, estão paradas. A AMM entende que a sua contraparte nestas negociações – a equipa do MISAU é liderada pelo Secretário Permanente do Ministério, pelo Director do HCM, pelo Inspector da Saúde, pelo Director Nacional da Assistência Médica e pelo Director das Finanças do Ministério – para além da falta de poder de decisão é a mesma equipa que participou nas negociações de Janeiro último e, apesar do entendimento acordado entre as parte o memorando acabou por não ser cumprido pelo Ministério da Saúde.

Por isso a AMM, em carta entregue na manhã desta Segunda-feira (3) no Gabinete do Primeiro Ministro, os médicos apelaram a intervenção de Alberto Vaquina para “que no seu mais alto sentido de direcção possa seleccionar membros integrantes da equipa de diálogo do governo que tenham poder de decisão em relação aos aspectos que constam do caderno reivindicativo.”

Entretanto, o Ministro da Saúde aparecer, enfim, nos órgãos de comunicação públicos a apelar ao fim da greve e a continuação do diálogo. Refira-se que desde que esta greve começou Alexandre Manguele não tem participado nos encontros de negociação.

 

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