O antigo ciclista norte-americano Lance Armstrong encerrou esta quinta-feira (18) vários anos de veementes desmentidos e finalmente admitiu que usava substâncias proibidas para melhorar o desempenho, o que lhe permitiu vencer sete vezes, de forma desonesta, a Volta da França, principal prova do ciclismo mundial.
Confessando uma história “tóxica” à apresentadora Oprah Winfrey, Armstrong afirmou ter um “caráter mau”, que o levou ao centro de um dos maiores escândalos de doping na história desportiva.
Logo no começo da entrevista, Oprah perguntou se ele usou doping. Armstrong respondeu que sim, e passou então a ser alvo de uma saraivada de perguntas da apresentadora, abordando todos os aspectos da carreira do ex-atleta, de 41 anos.
Sem hesitação, e sem demonstrar emoção, Armstrong respondia “sim” às perguntas sobre o uso de drogas específicas, inclusive eritropoietina (EPO), hormónio do crescimento humano, além de doping envolvendo transfusões de sangue.
Sobre o que o levou a mentir por tantos anos, ele disse: “Não sei se tenho uma grande resposta. É tarde demais, provavelmente para a maioria das pessoas, e é minha culpa. Vejo essa situação como uma grande mentira que repeti muitas vezes”.
“Esta história é tão má… Tão tóxica. Não é que eu tenha dito que não e deixado para lá. Embora eu tenha vivido esse processo, sei a verdade. A verdade não é o que eu disse, e agora já era.”
Armstrong foi banido das competições e teve todos os seus títulos desportivos confiscados depois que a Agência Antidoping dos EUA (Usada) divulgou, em outubro, um devastador relatório acusando-o de usar substâncias proibidas e distribuí-las a colegas. Ele nunca teve qualquer resultado positivo num exame antidoping.
O atleta, sobrevivente de um câncro de testículo, disse que provavelmente não teria chegado tão longe se não violasse as regras, seguindo uma cultura de doping disseminada no ciclismo.
“Não inventei a cultura, mas não tentei impedir a cultura”, declarou. “É difícil falar sobre a cultura. Não quero acusar ninguém. Estou aqui para admitir meus erros. Vou passar o resto da vida a tentar recuperar a confiança e a pedir desculpas às pessoas.”
Armstrong disse que nunca se considerou um trapaceiro, e que acreditava que conseguiria ocultar o doping, até que exames fora das competições foram adotados, e os procedimentos foram aperfeiçoados. O último doping dele teria sido em 2005, quando conquistou o seu sétimo título da Volta da França. O ciclista voltou em 2009, mas garante não ter usado drogas nessa fase final.
“Eu vi a definição de trapaça como sendo tirar vantagem. Eu não via dessa forma. Via como nivelar o campo de disputa.”
“A coisa mais importante é que estou começando a entender. Eu vejo a raiva das pessoas…”, disse. “Estas eram pessoas que me apoiavam, acreditavam em mim e têm todo o direito de se sentirem traídas. Algumas se foram para sempre, mas eu vou trabalhar para sempre para recuperar a confiança.”