A relutância da Líbia em reprimir grupos islâmicos suspeitos de cometerem o ataque de Setembro contra diplomatas dos Estados Unidos em Benghazi ilustra o fracasso da polícia e da Justiça para impor a sua autoridade, e pode permitir que os militantes se fortaleçam.
O atentado de 11 de Setembro deste ano, que resultou na morte do embaixador norte-americano Christopher Stevens e três outros funcionários dos EUA, foi o mais relevante atentado na Líbia desde a rebelião que derrubou o regime de Muammar Khadafi, em 2011.
Ninguém foi preso até agora, e testemunhas dizem que ainda não foram ouvidas. Nos EUA, um inquérito promovido pelo governo apontou graves falhas na segurança da missão diplomática em Benghazi, e concluiu que uma milícia contratada para fazer a vigilância deixou de alertar sobre o ataque quando ele começou.
Num país onde as milícias armadas exercem o verdadeiro poder, há quem diga que as Forças Armadas regulares não têm condições de agir contra esses grupos, e que o medo de represálias desencoraja a repressão.
“Eles estão com medo e não têm poder para enfrentar essa gente, que pode simplesmente ficar cada vez mais forte”, disse um funcionário do governo provisório líbio. “A segurança é a prioridade, e isso está a segurar tudo. Ela não foi encarada adequadamente.”
Um ano depois da queda de Khadafi, o legado de quatro décadas de ditadura de um homem só – em detrimento das instituições estatais – e da rebelião que o matou é um anárquico enxame de milícias, que por um lado oferecem um sucedâneo de segurança oficial, e por outro representam a maior ameaça ao Estado.
As autoridades dos EUA dizem que os militantes ligados à Al Qaeda provavelmente envolveram-se no ataque de Benghazi, e as testemunhas apontaram a presença de membros do grupo islâmico Ansar al Shariah no local.
O grupo, que negou envolvimento, foi varrido das suas bases de Benghazi logo depois do ataque por uma multidão leal ao governo. Dias depois da invasão da sede consular, as autoridades líbias disseram que oito pessoas haviam sido detidas, e 50 estavam a ser “procuradas para investigação”.
Mas os oito detidos eram apenas saqueadores, segundo algumas autoridades. “O estado da investigação reflecte o problema da paralisia da capacidade investigativa das forças de segurança líbias”, disse Claudia Gazzini, da consultoria International Crisis Group.
“Isso está geralmente vinculado à falta de segurança, e também a ameaças feitas directamente contra promotores e juízes.”