A Coreia do Norte lançou com sucesso um foguete nesta quarta-feira, reforçando as credenciais do seu novo líder e ampliando tensões do isolado Estado contra seus adversários. O foguete, que a Coreia do Norte afirmou que serviu para colocar um satélite em órbita, foi descrito por Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão como o teste de uma tecnologia que no futuro poderá ser usada para o lançamento de ogivas nucleares capazes de atingir alvos tão distantes quanto a área continental dos EUA.
“O satélite entrou na órbita planejada”, disse triunfalmente uma locutora da TV norte-coreana, usando trajes tradicionais, depois da emissora tocar músicas patrióticas, com letras como “a Coreia faz o que diz”.
O foguete foi lançado pouco antes 10h (hora local), segundo funcionários de defesa na Coreia do Sul e Japão, e ultrapassou facilmente a marca de um foguete anterior, lançado em abril, que voou por menos de dois minutos antes de cair. O Comando Norte-Americano de Defesa Aeroespacial disse que o foguete “posicionou um objeto que pareceu atingir a órbita”.
Foi a primeira vez que um órgão independente confirmou as afirmações norte-coreanas. Em 2009, a Coreia do Norte disse ter realizado com sucesso o lançamento de um foguete semelhante, o que levou o Conselho de Segurança da ONU a reforçar sanções originalmente impostas em 2006, após o primeiro teste nuclear norte-coreano.
O país está proibido pela ONU de desenvolver tecnologias relacionadas a armas nucleares e mísseis balísticos, embora o jovem líder norte-coreano, Kim Jong-un, no poder há um ano, supostamente mantenha as políticas de prioridade às Forças Armadas, adotadas por seu falecido pai, Kim Jong-il.
A Coreia do Norte louvou o lançamento de quarta-feira como sendo uma homenagem aos três integrantes da dinastia Kim a governarem o país desde sua fundação, em 1948. “Num momento em que uma grande saudade e reverência por Kim Jong-il permeiam todo o país, seus cientistas e técnicos brilhantemente realizaram seus comandos ao lançar um satélite científico e tecnológico em 2012, o ano que marca o centésimo aniversário do presidente Kim Il Sung (avô do atual governante)”, disse a agência estatal de notícias KCNA.
“PROVOCAÇÃO”
Washington qualificou o lançamento de quarta-feira de “ação provocativa”, vendo nele uma violação das resoluções da ONU. O embaixador japonês na ONU convocou uma reunião do Conselho de Segurança. Mas diplomatas disseram que dificilmente haverá alguma medida mais dura, devido à oposição da China, única aliada de peso de Pyongyang.
“A comunidade internacional deve trabalhar de forma coordenada para enviar à Coreia do Norte uma mensagem clara de que suas violações das resoluções do Conselho de Segurança têm consequências”, disse a Casa Branca em nota.
A China manifestou “profunda preocupação” antes do lançamento, que foi anunciado um dia depois de um funcionário chinês de alto escalão se reunir com Kim Jong-un em Pyongyang. Na quarta-feira, Pequim adotou um tom contido, lamentando o lançamento, mas pedindo moderação em possíveis retaliações – conforme a política previamente adotada, que levou a China a na prática vetar sanções mais duras da ONU. “A China acredita que a resposta do Conselho de Segurança deve ser cautelosa e modesta, proteger a situação geral pacífica e estável na península coreana, e evitar uma escalada da situação”, disse o porta-voz da chancelaria, Hong Lei, a jornalistas.
Bruce Klingner, especialista em Coreia da Fundação Heritage, disse em teleconferência que “a China é o empecilho a uma ação mais firme da ONU, e teremos de ver se a nova liderança (chinesa) é algo diferente dos seus antecessores”. O regime comunista chinês acaba de realizar sua transição de poder, um processo que ocorre a cada década.
Na semana passada, um assessor da presidência sul-coreana disse que dificilmente haverá qualquer ação da ONU, e que Seul espera dos seus aliados que endureçam unilateralmente as sanções à Coreia do Norte. Kim Jong-un, supostamente de 29 anos, assumiu o poder após a morte do seu pai, em 17 de dezembro de 2011.
Especialistas acreditam que o lançamento teve por objetivo homenagear Kim Jong Il no primeiro aniversário da sua morte.
O lançamento de abril havia sido programado para coincidir com o nascimento de Kim Il Sung, fundador do regime. Especialistas nucleares afirmam que o país pode estar a alguns anos de desenvolver uma ogiva nuclear funcional, enquanto pode ter plutônio suficiente para produção de cerca de uma dezena de bombas nucleares.
A Coreia do Norte também tem enriquecido urânio, o que pode dar ao país uma segunda via para armas nucleares já que seu território possui grandes reservas naturais do mineral. “Um lançamento bem sucedido pela Coreia do Norte coloca o país mais perto da capacidade de lançar um míssil armado”, disse Denny Roy, integrante do Centro Oriente-Ocidente, no Havaí. “Mas isso ainda exigirá uma arma que caiba no míssil e assegurar que ele tenha grau razoável de precisão. Os norte-coreanos provavelmente não têm ainda uma arma nuclear pequena o bastante para ser transportada por um míssil”, acrescentou.
Pyongyang afirma que o desenvolvimento é parte de um programa nuclear civil, mas também tem afirmado que a Coreia do Norte é uma “potência nuclear”.