Uma empresa vocacionada ao fomento da produção de algodão, no distrito de Mocuba, província da Zambézia, centro de Moçambique, foi pressionada a devolver oitenta hectares de terra arrável lavrada à associação de camponeses naquele ponto do país.
Trata-se da empresa denominada por Mocotex, que recebeu autorização do governo para explorar extensas áreas de terra outrora pertencente a Mocuba Sisal, uma empresa estatal que faliu durante o período de conflito armado no país.
Desde então, as terras foram sendo exploradas por famílias camponesas locais, onde produziam comida para o seu auto-sustento. Depois de receber autorização do governo para explorar as referidas terras, que distam a cerca de dez quilómetros a sul da cidade de Mocuba, a Mocotex introduziu este ano máquinas que desenvolveram o trabalho de lavra de pelo menos trezentos hectares.
Durante a execuação do trabalho de preparação da terra, as famílias camponesas que já haviam se organizado desenvolveram acções de protesto, alegando que a firma havia usurpado terras onde faziam suas machambas a mais de vinte anos.
De início a empresa em causa mostrava-se resistente às reclamações das famílias camponesas, alistadas em número de 250. Mas, a onda de protestos promovida pelas famílias camponesas agravou-se durante a semana passada. Foi necessária a intervenção do governo distrital de Mocuba para mediar o conflito.
A empresa Mocotex não resistiu a pressão das famílias camposesas, acabando por ceder, tendo acordado a devolução de pelo menos oitenta hectares de terra lavrada que serão repartidos pelas 250 famílias camponesas. Casos de conflitos de terras do género tendem a ser frequentes na província da Zambézia.
Recentemente, investidores de nacionalidade chinesa que haviam beneficiado de autorização do governo para explorarem uma área considerável no distrito de Nicoadala, na qual pretendiam fomentar a produção industrial da cultura de arroz, foram escorraçados por populares que reivindicavam a propriedade da terra.
A manifestação que degenerou para violência resultou ferimentos graves ao representante do grupo de investidores chineses, que teve de ser evacuado de emergência para receber cuidados médicos na África do Sul.
Desde então, consta que os investidores acabaram desistindo do seu projecto em Nicoadala. Zambézia é uma das províncias do país com extensas áreas com potencial agrícola.