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“Bebam Laurentina e tenham mais 80 anos!”

“Bebam Laurentina e tenham mais 80 anos!”

Além de tocar o seu mágico saxofone – e, por essa via, instigar a delírios colectivos do público –, no octogenário da marca, o célebre artista moçambicano, Orlando da Conceição, rebelou-se perante a inércia dos espectadores: “assim não dá. Não façamos como se faz no Parlamento. Estamos em festa. Vamos dançar”, disse para instantes depois acrescentar: “bebam mais Laurentina e tenham mais de 80 anos!”.

Uma garrafa de cerveja Laurentina, preta ou clara, abre-se. Uma assombrosa experiência sensorial é produzida. A expectativa da pessoa que em breve irá degustar o aroma do álcool se engrandece.

Nos lugares onde se vendem cervejas, quer sejam bares, restaurantes, quiosques, hotéis ou mesmo casas de pasto, dentre outros locais onde decorrem eventos culturais, o som que se produz a partir do contacto entre dois copos, contendo cerveja, nas mãos das pessoas que brindam – a vida, os negócios, a felicidade, o amor, a união e unidade entre seres humanos, entre outros temas da vida social e urbana – também é outra experiência sensorial incrível.

A Cervejas de Moçambique, empresa que produz e distribui a Laurentina, nas suas variedades, associou estas e outras experiências sensoriais no mesmo espaço, Cine Scala na cidade de Maputo, a fim de, em 2012, ocasião em que a marca de cervejas laurentina celebra 80 anos da sua criação, não somente proporcionar aos seus consumidores e o público em geral momentos ímpares sobre como aquele produto – com ou sem intempéries – conseguiu atravessar tempos, cruzar gerar, testemunhar eventos, criar vidas, destruir outras, gerar lares, aproximar pessoas, gerar amizades, construir histórias, desde o longínquo 1932 até aos nossos dias.

De facto, como se pode perceber, existem motivos grandíloquos para justificar a realização de um evento de tamanha envergadura, como pretexto para celebrar uma marca de cervejas – a laurentina – a qual quer queiramos ou não se introduziu nas nossas vidas, fazendo parte de muitos de nós, a família moçambicana. Aliás, em Moçambique – um país essencialmente jovem e com uma população moça – são muito poucos os cidadãos com 80 anos de idade.

De qualquer forma, ontem, 22 de Novembro, quando chegamos no Cine Teatro Scala, em Maputo, local onde a par das celebrações dos 80 anos da marca de cerveja Laurentina, realizar-se-ia o último concerto de Jazz, envolvendo uma banda jovem, Just Jazz – constituído por Cremildo, Muzila, Elcides e Hélder Gonzaga – tendo como convidados o célebre professor de música Orlando da Conceição, Xixel Langa e Nelma Nphumo, ficamos assustados.

Quando nos apercebemos que se tratava de um som – que para muitos é agradável – que se produz sempre que se abre uma cerveja bem gelada, ficamos a par de que a noite prometia muitas experiências sensoriais senão agradáveis para nós – por estarmos num clube que não era essencialmente o nosso –, no mínimo, nos seria surpreendentes.

O Cine Scala, uma das maiores salas de teatro e cinema que existem na capital, foi quase totalmente dividida em compartimentos: havia espaço para estar e conversar, bares para a compra e consumo de cerveja, mostras de objectos – os quais nãos chamamos de arte, apesar de possui a sua arte – que retratam a “vida” da laurentina ao longo dos anos.

Naquele dia, a Laurentina impôs-se-nos como um mundo de possibilidades – conhecer nova gente, fazer amizades e negócios, bem como um argumento para a edificação de novas relações amorosas e porque não – como se viu em relação a um casal jovem sobre o qual, para quem acompanhou a cobertura feita por @ialbinoso e @verdademz na rede social twitter, chamamos João e Maria – formando um novo lar.

Muita bebedeira

Concentramo-nos na Maria e no João. Como qualquer casal jovem, recém-formado, quando chegaram no local, João e Maria mostravam-se acanhados – um em relação ao outro – não obstante a ousadia do rapaz. Ficaram a cantonados nos últimos bancos da sala.

De repente, João entendeu que deviam sair do lugar – acompanhamos-lhes – para o bar onde a maior estrela do local são variedades de cervejas, Jolly Monk, Emporor, Goblins Bitter, T´EJ, alguns dos quais, dependendo dos resultados do inquérito que a CDM lançou – a par da celebração dos 80 anos da Laurentina – poderá lançar novas cervejas, refira-se, com sabores sugestivos ainda: café, chocolate, maçã, ananás, laranja, morango, mel e limão.

De qualquer modo, se é que a Maria – como nós, talvez equivocados, inferimos – não consumia álcool, então, as possibilidades de ela ter aprendido foram inúmeras: estava acompanhada por alguém que admira, o namorado ou pretendente; no local, havia muitos casais jovens – cheios de estilos e glamour – a consumir álcool; se ela não provasse a cerveja, em parte, decepcionaria o seu par.

Na verdade, porque diante de todos estes argumentos, a Maria acabou degustando – mesmo que de forma inocente – uma pequena porção de laurentina, em relação a pessoas como ela, a CDM ganhou novos clientes. Para isso, aquela festa também preocupava-se: ampliar o seus “caudal” de clientes.

O Jazz

Duas horas e meia depois de uma experiência sensorial proporcionada pela variedade de cervejas, pelos espaços cénicos montados no Scala, às 20horas e 30 minutos arrancaria o show de Jazz de que todos – ou pelo menos, a maior parte de nós – aguardavam.

Tímido sem aviso nenhum, uma mescla de guitarradas, sonoridades que expelem do saxofone, da bateria incluindo da viola baixo – protagonizados por Elcides, Muzila, Cremildo e Hélder Gonzaga, respectivamente – imediatamente preencheram a casa, removendo para muito longe o silêncio que – em nada interessava – aquele público que apenas queria vibrar.

Na verdade, o concerto começou sem precedentes e, por isso, de repente, todos estávamos na sua onda. Estranha! Ou melhor, exótica. Tanto jazz cheio de revolta, motivos africanos, mais também ternura, amizade e irmandade chegou até a mover-nos a reflectir sobre essa condição de ser africanos de Moçambique.

Perante o que nos servia como sonoridades artísticas, uma certeza se instalava entre nós – não precisamos de mendigar a ninguém por nada muito menos para nada. Nenhum povo, como o moçambicano, pode produzir muita arte e cultura e assumir-se pobre (absoluto).

Depois de sucessivas viagens (mesmo sem sair do lugar) para diversas temáticas alguns dos quais parnasianos, surreais e reais – os quais em que os problemas que fecundam continuam actuais, valendo a pena discuti-los – como, por exemplo, o abuso sexual de menores, através do seu saxofone – e a sua que se torna incrível sempre que a utiliza – Muzila prestou uma especial homenagem aos perecidos homens desta terra, Moçambique, que como o seu saber e fazer – ao nível da música – colocaram a nação em patamares de grande visibilidades.

Tony Django, Zaida Chongo, Fany Mpfumo, entre outros são alguns exemplos. Foi lindo! Pensar neles e na sua produção, instiga-nos também a pensar na condição do artista neste país.

Foi, enfim, nesse contexto que – através do seu conhecimento, das histórias que viveu e que os seus antepassados, que também são nossos, lhe contaram –, através do seu saxofone, o professor Orlando da Conceição, em certo sentido, levou-nos para uma época, há mais de 80 anos, em que – na cidade de Maputo, como em todo o país – se vivia uma cultura popular, de produção conjunta e colaborativa. Como tal, agregou na produção da laurentina e no seu consumo o sentido da própria vida de tal sorte que, elaborou um simples mais forte recado para o futuro da marca: “Bebam Laurentina e tenham mais 80 anos!”

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