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Uma corrente contra a extinção cultural…

Uma corrente contra a extinção cultural...

Moçambicanos do grupo linguístico Chopi – espalhados por diversas partes da capital do país – já têm um movimento sociocultural e artístico, a partir do qual remam contra o desaparecimento das suas tradições, rituais e práticas. Se não vacilar, a iniciativa cujo ápice se verificou com a realização do “Primeiro Festival da Comunidade Chopi Residente em Maputo” pode impor-se como uma (nova) cultura popular no subúrbio…

Nos dias que correm, diferente do músico moçambicano, Sério Muiambo, muitos cidadãos descendentes da tribo Chopi, em Maputo, podem até ouvir falar sobre uma tendência que concorre para a extinção de algumas práticas, tradições, ritos e rituais referentes ao aludido grupo linguístico – e, diante disso, o que é preocupante, ficarem indiferentes.

Em certa medida, eles são inculpes do rumo que tais acontecimentos tomam e, por essa razão, não devem ser condenados. Facto, porém, é que perante o fenómeno da globalização, a tendência desenvolvimentista que se assinala no país, a cultura e tradição – não somente do grupo linguístico Chopi – não podem e não poderão manter-se intactas. Disso, a dissolução das danças Tchopo, Ximbveka e Makhara são exemplos.

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O outro aspecto, o qual revela muita ambição na iniciativa que daí irá surgir, é a questão sobre onde se encontram ou residem os cidadãos de origem Chopi, espalhados um pouco por diversas partes da capital moçambicana e, de que maneira podem ser unificados para em colectivo desestimularem a tendência da extinção da sua cultura. Isso não nos parece uma tarefa fácil.

Ora, reconhecidos os problemas, inspirando-se num concerto realizado no espaço Ambiente, algures no subúrbio de Maputo, em Março de 2012, sob o mote da confraternização da comunidade Chopi, um grupo de amigos, incluindo o músico moçambicano, Sérgio Muiambo, criou o “Primeiro Festival da Comunidade Chopi Residente em Maputo”, realizado nos dias 10 e 11 de Novembro, em jeito de resposta.

Existiam ideias vagas – porque pelo que se saiba nenhum estudo comprova isso – que asseguraram aos organizadores do evento de que, os bairros arredores de Choupal como, por exemplo, Luís Cabral, Jardim, Inhagoia, Benfica, Bagamoyo incluindo Khongolote são, em certo grau, altamente habitadas pela comunidade Chopi.

No entanto, o grande argumento para que o espaço Ambiente – localizado no bairro de Choupal – acolhesse o evento não somente foi o facto de estar no centro dos demais, mas o apoio, em termos de espaço e equipamentos, que Jaime Cuco, o proprietário e gestor do espaço Ambiente, cedeu teve notável importância.

Foi neste sentido que se vasculharam alguns cidadãos da tribo Chopi, incluindo grupos artísticos culturais, que desenvolvessem alguns trabalhos artístico-culturais com profunda ligação à referida comunidade. Por exemplo, os grupos Vafana Va Zandamela e Makhara ya Mwani que, respectivamente, apresentaram as danças Tchopo e Makhara, apesar da mestria que em certo grau revelaram, não conseguiram escudar que se tratava de um exibição improvisada, sem muito preparo.

A língua Chopi, os rituais incorporados nas referidas manifestações, as danças, a poesia declamada no dito idioma, o sentido que se produziu em relação à vivência tradicional num espaço, invariavelmente, rural foram as principais ofertas às pessoas que se fizeram presente no local. Na verdade, criou-se um espaço onde quem não o conhecesse, no mínimo, tivesse a possibilidade de vislumbrar a riqueza cultural do povo Chopi.

Sérgio Muiambo considera que uma das danças tradicionais praticada pelos Machopi, presentemente, em vias de desaparecimento é o Tchopo. À mesma associa-se o Ngalanga e o Xikhwakhwakhwa que se assemelha um pouco à Makwaela.

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O artista que, em parte, responsabiliza a expansão da corrente eléctrica nos distritos – entre outros motivos – como sendo um factor catalisador do abandono à exploração da música e dança produzidas de forma folclórica no âmbito dessa cultura popular pelo povo, refere:

“O Ximbveka, cuja manifestação nunca assisti, é uma dança que se pratica no norte de Moçambique apesar de possuir um nome diferente com uma sonoridade diferente produzida a partir de uma flauta de bambu. Entre os Machopi já não se executa esta modalidade de dança. Por essa razão, resgatá-la e preservá-la de modo que seja praticada novamente e se faça conhecer entre os jovens é uma mais-valia que este festival acrescenta no conhecimento da comunidade Chopi”.

Faltou público

Quando se soube que se iria realizar o “Primeiro Festival da Comunidade Chopi residente em Maputo”, compreendeu-se que estava a nascer um evento popular na capital – o qual, por essa razão, devia ter sido altamente acolhido pelo povo – o que não aconteceu. Faltou público. É verdade que isso não retira o mérito na iniciativa. Até porque o festival foi surpreendente: os Machopi são pessoas ricas em termos expressão e domínio do corpo humano. Dançam e, através desse meio, comunicam.

Cidadãos de outras culturas e nacionalidades, não somente africanas, fizeram-se presentes para testemunhar o nascimento da festa que não se restringiu unicamente à cultura Chopi. Foi por essa razão que bandas e grupos culturais como Moticoma, Ngalanga ya Unidade 7, Arrabenta Xithokozelo, Cheny Wa Guni Quarteto, entre outros que não necessariamente são Machopi partilharam o mesmo palco em dois dias consecutivos.

Seja como for, com ou sem muito público, a organização da iniciativa considera que “a premência de resgatar os valores, tradições, rituais, práticas, ritmos, músicas da comunidade Chopi nos movem a realizar o evento anualmente”. Isso equivale o mesmo que em 2013 se realizará a segunda edição do evento.

Além do mais, diga-se, o impacto do festival não somente se verifica na aproximação da comunidade Chopi, entre si, como também em relação às pessoas de diversas origens incluindo estrangeiros não africanos, como também, e acima de tudo, no estímulo que se engendra entre as colectividades artísticas que se expressam por meio de manifestações musicais e de danças.

Ao “vasculhar” os cidadãos que corporizam a comunidade em Maputo, fazendo-os interagir entre si, por meio da sua cultura, o evento em referência posiciona-se na sociedade moçambicana como uma corrente que rema contra a extinção de culturas que são uma verdadeira relíquia entre os africanos.

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