Origina-se no seio de uma família que igual à sua sociedade, apesar das incertezas e precariedades em que se conduz, não pára de expelir arte. Contrárias a estas, são diminutas as razões que explicam o facto de em “O Renascer” – a primeira mostra individual do pintor moçambicano Luís Neto – as artes plásticas se imporem como sendo a única certeza. Determinados apreciadores que viram as obras, se permitiram ao renascimento.
Se de facto, as artes plásticas – como as demais expressões artísticas – possuem um poder terapêutico, como se costuma dizer, então, a par disso, o estimado leitor, a partir de hoje, 23 de Novembro, numa contagem regressiva, tem pelos menos 24 horas para apreciar as obras que corporizam a primeira mostra individual do jovem artista plástico moçambicano, Luís Neto.
A mostra que está patente na Galeria da Mediateca do BCI – Fomento, Espaço Joaquim Chissano, intitula-se O Renascer e possui um total de 30 obras criadas por meio de técnicas como o batik, desenho em posto e atinta da china, feltro/cartolina entre outras.
Diante das telas, altamente expressivas, o que faz com que se prenda o olhar de qualquer apreciador de arte, ficou-se com a impressão de que – como na antiguidade, esta ligação profunda com o sentido da vida e de alguma utilidade prática, sempre foi o seu apanágio, – a pintura de Luís Neto está ao serviço da sociedade e das suas causas.
Aqui, a arte não é necessariamente por si. Manifesta-se uma arte ao serviço do combate a determinadas precariedades sociais – como, por exemplo, a insegurança alimentar, a SIDA – bem como a necessidade de se instigar o ser humano a lutar pelos seus ideais, se calhar, os de um renascimento, como forma de nobilitar o valor e o sentido da vida.
Não é obra do acaso que, tematicamente, O Renascer – que conflui um total de trinta obras – é apresentado através da obra VIDA, “que exprime acções e aspectos da vida social do quotidiano do nosso país em particular e africano no geral. É colocada ao rubro a forma de ser e de estar do nosso povo apelando a contribuição de cada um de nós pelo empenho em ter um mundo melhor”.
Temáticas como a vida rural, a produção de alimentos de um modo artesanal, a poligamia, a medicina tradicional e, muito recentemente, a violência doméstica são o exemplo de uma discussão sobre a condição do cidadão africano.
Favoravelmente criticado, Luís Neto – um artista cuja primeira aparição em exposições de arte se deu em 2000, altura que participa no Concurso Descobertas realizado pelo, então, Centro de Estudos Brasileiros – é um dos criadores de objectos de arte, no âmbito da contemporânea, para quem se deseja que esta ocasião “seja o prelúdio de uma carreira consistente e que traga sucessos à sua família”, como considera Celso Tivane representante do BCI, uma empresa que se posiciona como um forte mecenas na cultura moçambicana.
Partindo do princípio de que “a obra de arte não pode ser compreendida sem se invocar o seu criador”, o escritor moçambicano Pedro Chissano, falando na ocasião, considerou importante “apresentar Luís Neto como um jovem ambicioso, no bom sentido, que não quer deixar o seu nome artístico no anónimo, para passar a ser admirado e distinguido como um artista criativo, capaz de conceber obras de arte de alto nível estético”.
Aliás, para Chissano, Luís Neto é um protagonista que no campo, no panorama artístico nacional “não caiu do céu nem de pára-quedas, como se pode pensar. Ele é oriundo de um invólucro feito de arte, pois nasce no seio de uma família de cultores de arte”.
Ainda na flor da idade toma como hobby o traquejo dos pinceis que paulatinamente foi ficando um ofício, “sempre a calcorrear as pegadas do pai. Mas nem por isso, se deve dizer que ele é a sombra que o seu progenitor alça sobre a sua figura. Ele é uma estrela que desponta no firmamento das artes plásticas”, em Moçambique.
Mais do que falar, deve-se agir
Acanhadamente empolgado no dia da estreia da mostra, Luís Neto – cujo nome de registo é Ernesto Luís Fumo – não conseguiu abrigar, no coração, a grandeza da sua expectativa em relação à produção posta no espaço público.
“Penso que estas obras serão bem recebidas, mas a minha grande expectativa é que as pessoas também compreendam as mensagens que se emitem. Felizmente, não abordei temáticas difíceis, muito menos de forma complicada. As minhas obras reportam a realidade como é. Se o assunto é violência ou Sida, então, o apreciador não se complica muito para percebe-lo”.
Depois de denunciar uma série de precariedades sociais, como são os exemplos da SIDA, da violência doméstica, da fome e insegurança alimentar – sem excluir os temas do amor, da música, dos sonhos individuais e colectivos – no campo dos aspectos que contrariam o desenvolvimento da sociedade, Luís Neto considera que “enquanto forem actuais e não serem ultrapassados, devemos continuar a falar dos problemas que a sociedade enfrenta, procurando sempre encontrar alguma solução. E penso que mais do que falar, por exemplo, sobre a temática da Sida devemos agir de forma enérgica para contrariar os seus efeitos devastadores”.
Recorde-se que O Renascer encerra amanhã, sábado, 24 de Novembro do ano em curso, na Galeria do espaço Joaquim Chissano, em Maputo.