Milhares de pessoas gritaram, esta Sexta-feira (16), nas ruas da capital da Jordânia o slogan da Primavera Árabe, “o povo quer a queda do regime”, num momento em que as manifestações contra os aumentos dos preços ganham força no país que até então estava livre da agitação no Oriente Médio.
A Irmandade Muçulmana, organização predominantemente urbana, uniu-se aos protestos, na maioria rurais, que irromperam nos últimos dias, elevando a possibilidade de uma longa instabilidade no reino, que é um firme aliado dos Estados Unidos e tem uma extensa fronteira com Israel.
A manifestação desta Sexta-feira perto da importante mesquita de Husseini, no centro de Amã, foi pacífica.
Policiais desarmados separavam os participantes que criticavam o rei Abdullah de um pequeno grupo gritando slogans em apoio ao monarca. “Saia Abdullah, saia”, repetiam os cerca de 4 mil manifestantes enquanto a polícia, em parte com equipamentos anti-distúrbios, permaneceu de modo geral distante da multidão.
Os protestos vem se tornando violentos nas localidades pobres do reino desde Quarta-feira, quando o governo impôs um aumento no preço do combustível.
Os jovens desempregados e outros manifestantes atacaram delegacias de polícia, fecharam estradas com a queima de carros e incendiaram prédios públicos.
Um manifestante foi morto, Quinta-feira, quando uma multidão tentava invadir uma delegacia de polícia na cidade de Irbid, no norte. As províncias pareciam estar mais calmas esta Sexta-feira.
A decisão da Irmandade Muçulmana de apoiar o protesto desta Sexta-feira significa que o movimento de oposição mais bem-organizado do país une-se às manifestações, embora os líderes da Irmandade não tenham tomado parte.
“O rei Abdullah deveria inteirar-se da situação, revendo a sua decisão de aumentar os preços. O povo da Jordânia não tem condições de suportar mais fardos”, disse o líder da irmandade, xeque Hamam Said, num comunicado antes dos protestos.
Uma situação de instabilidade na Jordânia viria num momento perigoso para a região, quando a guerra na Síria corre o risco de extravasar as fronteiras do país e Israel está a bombardear a Faixa de Gaza, governada por islamistas.
O slogan “o povo quer a queda do regime” emergiu como a principal palavra de ordem nas manifestações da Primavera Árabe que derrubaram autocratas da Tunísia ao Iémen, e em muitos casos levou ao poder islamistas aliados à Irmandade.
Na Jordânia, um movimento de oposição formado por liberais e islamistas busca, geralmente, reformas, e não o derrube do rei, de 50 anos, que está no poder desde 1999.
Aliado do Ocidente, o monarca é visto pela maioria dos jordanianos como um baluarte de estabilidade, equilibrando os interesses de tribos nativas com os dos jordanianos de origem palestina, que forma a maioria e estão cada vez mais assertivos.