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Desportivo de Maputo: Mais (que) um grupo que caiu na desgraça

Com os adeptos em lágrimas, o Desportivo de Maputo escreveu, no passado domingo, a página mais negra da sua história. Os alvi-negros foram despromovidos à divisão de honra, pela primeira vez, após derrota no reduto do Chingale de Tete (1-0), que ocupa o último lugar do que se mantém no principal escalão do futebol moçambicano.

Era uma vez um clube histórico que durou cerca de 91 anos para conhecer o real valor de uma queda, no sentido lato da palavra. É, na verdade, um clube que acabou consumido pela sua própria estrutura interna que, a dado momento, perdeu o talento de bem gerir um edifício de futebol, o que acabou por se repercutir na sua continuidade como um clube de futebol de alta competição.

Foi copiosamente conhecido como um exemplo de descoberta e formação de novos talentos que, com o andar do tempo, se tornaram craques e referências do futebol moçambicano, alguns a evoluírem no estrangeiro. Porém, não só de glórias vive um clube como também do presente, esse que só fala da despromoção e do futuro que repousa no campeonato da cidade de Maputo em futebol. É ao Grupo Desportivo de Maputo que nos referimos, que 91 anos depois e pela primeira vez na sua história, cai de divisão.

O Grupo Desportivo de Maputo é um clube fundado a 21 de Março de 1921, que adoptou, na era, o nome de Grupo Desportivo de Lourenço Marques. Volvidos 55 anos e com a conquista da independência nacional, modificou o seu nome e concebeu um novo, este que dura até ao presente.

Por tradição foi um clube que se assumiu como um acérrimo candidato ao título em todas as edições do Campeonato Nacional de Futebol e da própria Taça de Moçambique. Conquistou por seis vezes o troféu de campeão nacional, nomeadamente nas edições de 1977, 1978, 1983, 1986, 1995 e 2006. Foi ainda vencedor da Taça em 1983 e 2006, tornando-se uma das poucas equipas que por duas vezes fez a dobradinha.

Com uma escola de formação invejável e exemplar, o Desportivo de Maputo lançou para as hostes do desporto-rei fabulosos atletas cuja história, em alguns deles, se confunde com a história do futebol moçambicano nomeadamente: Mário Coluna, Calton Banze, Amade Chababe, Tico-Tico, Dário Monteiro, Mexer e Dominguês, só para citar alguns exemplos.

Porém, foi exactamente depois do sucesso de 2006 ainda sob o comando de Uzaras Mahomed que aquele clube começou a registar os problemas, que hoje atingiram um extremo não tão saudável, nem para a sua massa associativa muito menos para os amantes do desporto moçambicano no geral – se atendermos ao movimento de solidariedade havido nos últimos dias da presente temporada do Moçambola.

Em 2007, o Desportivo de Maputo foi incapaz de pôr a mão no mercado das contratações de modo a fortalecer a gloriosa equipa da temporada passada (2006) e não soube, por outro lado, manter a sua espinha dorsal ao deixar “fugir” os principais jogadores que levaram o clube a conquistar a dobradinha.

Como recurso, o clube voltou-se, naquela época, à sua escola de formação que também não ofereceu muitas opções, o que desnudou por completo as falhas de estratégias no seio da direcção do clube que partiu do não aproveitamento dos ganhos de 2006, desaguando nos problemas financeiros e de formação, em que a falta de uma boa gestão serviu de ponte.

Michel Grispos, presidente do clube, tudo o que prometeu ao Desportivo de Maputo – factor que jogou e de que maneira para a sua eleição –, passava por recolocar o Desportivo de Maputo na elite do futebol moçambicano.

Dar um espaço físico ao clube bem como apresentar uma obra aos sócios, um campo relvado com dimensões do clube, eram apenas fundamentos para o propósito que se colocara a alcançar aquando da sua eleição como mais alto dirigente do clube, o que não passou de uma simples e cosmética promessa. Ou seja, o Desportivo de Maputo continua sem um campo próprio e já não faz parte da elite do futebol moçambicano.

O ano que podia ser de glória: 2011

Em 2011, a direcção do Desportivo de Maputo, ciente das dificuldades em que o clube estava envolvido, que punham em causa todo o seu projecto de futebol desde a sua presença na alta competição até à continuidade dos seus projectos de formação, decidiu naquele ano solicitar os préstimos de Augusto Matine que, como se lê no comunicado do clube “(…) para além de treinar a equipa principal de futebol, Matine é, também, responsável de todo o futebol do Desportivo de Maputo desde os escalões de formação.

O técnico é uma forte aposta da Direcção do clube que, com a sua contratação, não só quer ter uma equipa bem treinada para poder lutar pelos melhores resultados e classificações em todas as provas em que estiver envolvido, com destaque para o Moçambola e Taça de Moçambique (…)”.

No mesmo ano e com uma equipa jovem, a contar com os préstimos do capitão Tico-Tico já no fim da carreira, Matine chegou a levar o clube até à terceira posição, a cinco pontos do líder no fim da primeira volta do Moçambola. Porém, veio o problema de pagamento de salários dos jogadores que fez com que, durante o período dos Jogos Africanos que decorreram em Maputo, eles ficassem sem treinar por duas semanas, tendo retomado numa quarta-feira que antecedeu ao fim-de-semana da 21ª jornada, cujo jogo era contra a Liga Muçulmana.

Os jogadores reivindicavam cerca de dois meses e meio de salários e nessa altura a equipa caía para a quarta posição. Esta situação que deixou a equipa desmotivada contribuiu significativamente para o Desportivo de Maputo cair e terminar a época no meio da tabela classificativa, na sexta posição.

2012: O ano de “morte” da águia

Já sem Tico-Tico em campo, que era mais do que um capitão da equipa, mas sim um verdadeiro líder em campo, o Desportivo de Maputo iniciou a temporada apenas com um jogador de vulto, no caso o avançado Dário Monteiro que também está(va) no fim da carreira depois de um ano na Liga Muçulmana, onde se sagrou campeão. Ainda assim, os alvinegros tiveram um princípio impetuoso de época, que demonstrava muito mais do que unidade naquele colectivo, mas também muito trabalho de balneário por parte do técnico Augusto Matine.

A contrariedade registada no final da época de 2011 pareceu ter transcorrido para a história. Contudo, a partir da quinta jornada, todo o trabalho de equipa pareceu desmoronar-se e lentamente a caminhar para o precipício, quando depois da quinta jornada começou a espreitar a zona da despromoção para daí nunca sair.

Augusto Matine, ainda treinador da equipa, disse na altura que o objectivo traçado pela direcção do clube para a presente temporada não era de conquistar o título, mas sim ocupar as primeiras quatro posições da tabela classificativa. Porém, deixou também claro que o clube não oferecia boas condições para que se efectivasse o objectivo.

Já em Maio, ao fim da décima jornada, quando o Desportivo de Maputo assumia a 11ª posição fruto de três vitórias, dois empates e cinco derrotas totalizando onze dos trinta pontos possíveis, Augusto Matine foi afastado do comando técnico.

Na altura da despedida, Matine para além de acusar uma certa perseguição externa ao Desportivo por aqueles que os apelidou de “bandidos”, sem nunca revelar os verdadeiros nomes, justificou o mau momento com a onda de lesões que terá afectado a equipa, pelo que nem se observou a uma recuperação rápida de modo a dar continuidade com o seu projecto.

Não só, aquele treinador deu a entender que foi vítima de sabotagem protagonizada pelos próprios jogadores que não acatavam as suas ordens dentro das quatro linhas, o que não acontecia nos treinos onde a relação era estável.

Para substituir Augusto Matine foi indicado, mas de forma interina, o técnico Antero Cambaco que foi coadjuvado por Calton Banze e Samuel Abílio Chichava, enquanto o clube esperava pela chegada de Artur Semedo, posteriormente recebido como um Messias, aquele que salvaria o Desportivo da despromoção.

Todavia, Semedo nas suas primeiras semanas de trabalho remeteu-se a acusar certa perseguição ao Grupo Desportivo de Maputo e no entanto revelando nomes como de Shafee Sidat, irmão do Presidente da Federação Moçambicana de Futebol e “dono” da Liga Muçulmana, o que deixou claro que a despromoção daquele clube constituía, naquela altura, uma certeza.

Aliás, o Desportivo de Maputo perdeu por 3 a 1 diante do Maxaquene no jogo de estreia do novo técnico e no segundo foi castigado com um resultado de 3 a 0 a favor do Vilankulo FC.

Com vinte e sete pontos possíveis por disputar, o Desportivo amealhou apenas onze e no jogo crucial, em confronto directo com o Chingale de Tete que também precisava de pontuar para garantir a manutenção, não aguentou e afundou-se nas águas do rio Zambeze, para de lá voltar a pensar nos pelados da capital do país.

Em 2013, os alvinegros vão ombrear com equipas como Mahafil, Vulcano, Águias Especiais, Cape-Cape e Ferroviário das Mahotas só para citar exemplos e terá de sagrar-se campeão da cidade, para posteriormente rumar à “poule” de apuramento ao Moçambola na edição de 2014, o que não será tão fácil como se pode cogitar.

Contudo, contarão com os préstimos de Artur Semedo que se predispôs a continuar a comandar equipa.

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