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Ngolhosa, um lugar esquecido

Ngolhosa

Uma comunidade em constante início é a caracterização que se pode dar ao bairro Ngolhosa, no Posto Administrativo de Moamba, a dezenas de quilómetros para norte da cidade capital, Maputo. O lugar é, incontestavelmente, uma das provas da desatenção de quem (o Governo) tem por obrigação prover meios de sobrevivência aos seus cidadãos, independentemente da sua localização geográfica dentro do território sob sua direcção.

Ngolhosa tem tudo em pequenas porções. Numa classificação de zero a dez, damos nota zero para área de saúde, zero para segurança pública, dois para transporte, três para actividades económicas, quatro para educação e cinco para água.

Para quem vai, numa primeira experiência, ao bairro Ngolhosa fica com a sensação de estar a entrar num habitat unicamente selvagem quando, na verdade, o espaço é dividido por homens e animais, sendo que estes últimos afastam-se, paulatinamente, do lugar assustados pela destruição, pelo Homem, das matas.

Esta situação sistematizou a separação Homem/animal pelas zonas. Há zonas, cuja mata ainda é virgem, interessantes até para acampamentos turísticos e zonas habitadas pelo Homem, em forma de aldeias, lembrando os tempos e lugares de clãs.

Saúde – “o senhor administrador priva-nos dos serviços de saúde” – desabafo da população

De saúde, o bairro Ngolhosa só tem um edifício sanitário que não está e nunca esteve em funcionamento desde a sua edificação. Essa infra-estrutura é um investimento das missões católicas que tiveram vontade de amparar a população daquele lugar, mas, segundo testemunhos de residentes, o governo, representado pelo administrador do posto administrativo de Moamba, não permite a sua abertura alegadamente por não contemplar serviços de maternidade. Não se sabe se os missionários irão mover fundos para atender a essa exigência.

“O senhor administrador priva-nos dos serviços de saúde”, diz Firmino Moio* que em desaprovação daquele posto sanitário que ele próprio um dia o viu ser erguido mas hoje vê-o degradar- se sem antes experimentar os seus serviços.

Para cuidados de saúde, os viventes do bairro Ngolhosa deslocam-se para Muhalaze, Tenga e/ou Quilómetro 25, essas distâncias todas a pé. As nossas testemunhas dizem que “as pessoas preferem ficar descansadas porque não conseguem percorrer longas distâncias quando estão doentes, algumas acabam morrendo”.

Afirmam também haver um jovem que foi fazer o curso farmacêutico, mas não dispõe de condições materiais para desenvolver actividades relacionadas com o seu curso. Mas afinal de que lado anda o Governo? Que autoridades locais são essas que não conseguem persuadir o Executivo a colocar em funcionamento aquele posto médico.

Educação – “somos limitados como no tempo colonial”

Na área de educação, o bairro Ngolhosa dispõe unicamente de uma escola primária com três imagens diferentes. É que a escola tem duas salas de cimento, duas de caniço e muitas de sombras de árvores.

Os residentes daquela comunidade que não dispõem de condições para viagens estão condenados a terminar os seus estudos no ensino primário uma vez que a Escola Primária Completa (EPC) de Ngolhosa só lecciona até à sétima classe. Orlando Magaia*, que concluiu a sétima classe em 2011, agora sem nenhuma ocupação, diz que “isto é o que acontecia no tempo colonial. Não tínhamos que estudar mais do que o colono determinava”.

Transporte – “Conseguimos andar entulhados nos camiões nos dias de sorte”

Uma vez que o bairro Ngolhosa não tem mercados, há necessidade dos populares se deslocarem para lugares distantes a fim de efectuarem as suas compras, o que tem sido uma dura manobra.

Há carros de “caixa aberta” que vão carregar, de vez em quando, as pessoas de Ngolhosa para Muhalaze, onde conseguem outros que as levam a Intaca onde, por sua vez, há carros que as levam para o mercado Drive-in e grossista de Zimpeto. Aqueles que trabalham na cidade alugam casas perto dos seus postos de trabalho e voltam para Ngolhosa aos fins-de-semana.

Água – “a água dos poços faz-nos escapar da comercializada”

O bairro Ngolhosa não tem água canalizada. O precioso líquido é conseguido nos poços e num dos dois fontanários, sendo que o outro sofreu uma avaria que se acredita ser pequena. Há quem foi instalar no bairro um furo e vende a água a um metical/vinte litros, mas, segundo o residente Miguel Ndeve*, “não temos condições para encher os nossos tambores de água comprada. Preferimos continuar a consumir água dos poços porque não é estranha como a dos poços doutras zonas”.

Segurança – “começamos a sentir a falta de policiamento”

Ngolhosa é um bairro caracterizado por calma e boa reputação dos residentes. Daí que, segundo eles “o nosso medo foi sempre de ataques de animais como javalis e cobras que saíam do mato para as nossas residências, antes de muitos deles se afastarem para matos ainda não habitados pelo Homem”.

Acrescentam que “mas agora fala-se muito de malfeitores (já humanos) que agridem e assaltam pessoas de noite. Isso faz-nos começar a sentir a falta de policiamento”.

Porquê o nome Ngolhosa? “Nem é Ngolhosa como dizem muitos, é KaNghodloza”

O nome Ngolhosa é registo oficial de KaNghodloza, numa situação que lembra as operações de razão linguística de KaMandlhakazi para Manjacaze e KaNtxaintxai para Xai-Xai, foram só exemplos. O nome KaNghodloza, segundo o conselheiro das estruturas do bairro, Carlos Ubisse, surgiu da divisão de Mukhatine.

Assim este é um lado de Mukhatine que passa a ser KaNghodloza, nome que nos registos é manobrado para Ngolhosa, por causa da influência da língua oficial portuguesa.

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