Sete trabalhistas já avisaram Netanyahu de que não terá o seu apoio no Knesset (parlamento). Mas por agora este festeja o alargamento da sua coligação, de que precisava para tentar tranquilizar Obama.
Benjamin Netanyahu fez a Ehud Barak uma proposta que este “não podia recusar”, escreveu esta quarta-feira o jornal israelita Ha’aretz: cinco ministérios, incluindo o da Defesa, para o próprio Barak, garantias de combate ao desemprego e mais concessões. E assim, o partido que fundou o Estado de Israel teve uma tarde decisiva: ao fim do dia, depois de reunido em congresso, chegava a confirmação de que o Labour vai ser Governo, ao lado do Likud, de Benjamin Netanyahu, e da extrema-direita do Yisrael Beiteinu, de Avigdor Lieberman, e do ultra-ortodoxo sefardita Shas. Barak aceitara o acordo pela manhã, após menos de 24 horas de negociações. As cinco pastas ministeriais e duas de vice-ministros são a prova de quanto o chefe do Likud queria o Labour nas suas fileiras – nas eleições legislativas antecipadas de Fevereiro, os trabalhistas obtiveram apenas 13 lugares no Parlamento (Knesset).
Netanyahu começou por tentar uma grande coligação, mas a centrista Tzipi Livni, com mais votos mas sem condições para liderar a formação de executivo por causa da maioria da direita, exigiu uma chefia rotativa do Governo. Depois, Netanyahu começou a formar um Governo de extrema-direita. Disse a Lieberman que podia ser o “rosto de Israel no mundo”, com os Negócios Estrangeiros. Agora precisava de integrar os trabalhistas para tentar “impedir uma possível rota de colisão com o Presidente Barack Obama”, escreveu a agência Reuters.
Para além dos lugares no Governo, Ehud Barak, que já era ministro da Defesa de Ehud Olmert, conseguiu a garantia de que estará presente em todos os fóruns onde se tomem decisões diplomáticas ou de segurança. Netanyahu também deu aos trabalhistas o direito de votarem de acordo com a sua consciência a proposta do Yisrael Beiteinu de exigir aos cidadãos árabes israelitas um juramento de lealdade.
Netanyahu prometeu ainda que vai honrar todos os acordos internacionais anteriores, incluindo os negociados com a Autoridade Palestiniana, escreveram os jornais hebraicos.
Maioria ou ainda não?
O Likud elegeu 27 deputados, um atrás dos 28 do Kadima, de Tzipi Livni, seguindo-se o Yisrael Beiteinu, com 15, e, depois do Labour, os 11 do Shas. Lieberman também recebeu cinco ministérios, incluindo a Segurança Interna e Integração (pasta cara ao seu partido, que tem por base os imigrantes oriundos da ex-URSS). O Shas terá quatro pastas, incluindo o Interior.
Habitação e os Cultos.
À partida, a coligação já é maioritária: Likud, Labour, Yisrael Beitenu e Shas somam 66 deputados num Knesset de 120. Mas a entrada no Governo foi tudo menos unânime entre os trabalhistas – 680 delegados votaram a favor, 507 contra – e sete eleitos já escreveram a Bibi para o avisar de que não contará com o seu apoio.
Se assim for, só estão assegurados 59 lugares. Mesmo sem o Kadima, Netanyahu deverá tentar negociar a entrada de mais um dos pequenos partidos de direita com representação parlamentar, o Casa Judaica ou a União Nacional, próximos dos religiosos e dos colonos.
Barak passou a tarde a desfiar justificações: “Vamos ser um contra-peso para assegurar que o Governo não se limita à direita”; esta é uma decisão em nome “do interesse superior do Estado”, confrontado com graves problemas económicos e de segurança; e “os eleitores do Labour querem ver-nos no Governo, querem-nos lá porque não têm outro país onde viver”. E garantiu não ter “medo de Bibi Netanyahu” – “Não vou servir de tapa-vergonhas a ninguém e não serei o peso morto de ninguém”.
Caixote de lixo da história
Mas antes e depois ouviu as críticas dos que acham que está a matar o partido de David Ben-Gurion e de Golda Meir. Um dos sete rebeldes da carta a Bibi, Ofir Pinès, acusou assim o líder: “Obtiveste um mandato para nos dirigir, não para deitares o partido no caixote de lixo da história”.
Outros sublinharam que o Governo em que vão entrar não lhes pertence: “Este é o governo de Bibi, de Lieberman e do Shas”, disse Shelly Yacimovich. Para este deputado, “esta busca sem fim por lugares está a custar-nos muito. Nas próximas eleições não teremos nenhum mandato”.