O ano de intrigas na política da China ainda deve resultar em mais algumas surpresas, uma vez que os expurgos, os complôs e as sentenças judiciais marcam a recta final dos preparativos para a transição na cúpula do regime.
A poucas semanas da sucessão, que acontece uma vez por década, a composição integral da próxima liderança chinesa e as suas pautas continuam desconhecidas e continuam a ser negociadas em segredo, num forte contraste com a disputa pelo governo norte-americano catualmente em curso.
Uma das poucas coisas que se sabe com quase certeza é que o vice-presidente Xi Jinping deve assumir o comando do Partido Comunista no congresso que começa no dia 8.
Xi então deve tornar-se presidente em Março, na sessão anual do Parlamento. Mas dezenas de cargos importantes continuam a ser disputados nos bastidores. Os três homens mais poderosos do país, o ex-presidente Jiang Zemin, o actual presidente, Hu Jinato, e Xi, o sucessor nomeado dele, tentam minimizar disputas entre facções, e as fontes dizem que eles já definiram uma lista de candidatos preferidos para o Comité Permanente do Politburo, principal órgão decisório do partido.
Mas os especialistas na China dizem que o plano deles ainda pode dar errado. “Acho que teremos surpresas desta vez . A negociação é um processo muito complicado”, disse Cheng Li, especialista em política chinesa do Instituto Brookings, nos EUA.
“Quem está de fora não tem ideia. Provavelmente só temos 20 por cento de noção do que está a contecer. Haverá mudanças de última hora, possivelmente até no Comité Permanente.”
A lista de candidatos preparada por Jiang, Hu e Xi já contém pelo menos uma grande surpresa, com a omissão de Wang Yang.
Líder do partido na província de Cantão (sul), ele é visto por muitos no Ocidente como um partidário de reformas políticas, e era cotado para integrar o primeiro escalão.
A sua omissão, aliás, pode estar indirectamente vinculada ao fim da carreira política de outro ex-favorito ao Comité Permanente, Bo Xilai, protagonista do maior escândalo político da China em duas décadas.
Bo foi expurgado do partido depois de a sua mulher assassinar um empresário britânico, crime pelo qual ela foi condenada à morte em Agosto, com direito a suspensão da pena.
Bo continua a ser muito admirado na ala esquerdista do PC chinês, que deseja reduzir o ritmo das reformas de mercado. Os sinólogos suspeitam que Jiang, Hu e Xi não quiseram apoiar Wang porque isso seria visto como uma nova provocação à esquerda do partido.
“Algumas pessoas dizem que ele é o Bo Xilai da direita , e que o partido está igualmente preocupado com essa pessoa”, disse Wang Zhengxu, pesquisadora da Escola de Estudos Chineses Contemporâneos da Universidade de Nottingham, na Grã-Bretanha.
