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O clamor dos agricultores e da comunidade

O clamor dos agricultores e da comunidade

Os produtores de hortícolas que abastecem os principais mercados de Nampula estão na iminência de perder a sua produção devido às águas residuais evacuadas por algumas unidades fabris instaladas nas proximidades da cintura verde da cidade. Pelo menos dois agricultores já têm quase metade das suas hortas de couve destruídas. A situação também preocupa as comunidades circunvizinhas, que são obrigadas a conviver com o mau cheiro.

Os residentes do bairro de Muthita, arredores da cidade de Nampula, partilham o mesmo espaço com os resíduos sólidos que são libertados pela fábrica pertencente à empresa Cervejas de Moçambique (CDM). Eles afirmam que a situação é preocupante, uma vez que se trata de um autêntico atentado à saúde.

De acordo com a população, o cenário torna-se mais grave quando aquela unidade fabril faz a evacuação dos resíduos sólidos resultantes dos trabalhos de produção da cerveja.

António Timóteo, um dos moradores agastado com a nova realidade, disse que as águas residuais que são evacuadas da fábrica já provocaram o surgimento de um pequeno riacho que atravessa os quintais dos residentes, situação que não é bem acolhida devido ao cheiro nauseabundo que as mesmas provocam. Aquele munícipe explicou que, se o cenário prevalecer, a população corre riscos de contrair doenças. Nos últimos dias, já começam a registar-se casos de doenças.

Aurélio Sitoi, outro morador, referiu que, além do mau cheiro que é provocado pelas águas residuais, regista-se, igualmente, um enorme prejuízo na realização de actividades agrícolas por causa da qualidade das águas que não contribuem para a prática de culturas alimentares praticadas ao longo do rio Muepelume, como a cana-de-açúcar e hortícolas, que estão a ficar danificadas devido às águas residuais.

Os produtores de couve, repolho, tomate e cebola utilizam água poluída para irrigar os campos. Jossias Anibal, agricultor há mais de cinco anos, afirmou que está prestes a perder a sua produção devido à contaminação da água e do solo.

À semelhança dele, Amílcar Celestino já perdeu quase metade da horta e receia que este ano não consiga colher nada. “Vou perder quase tudo. Foram pouco mais de 50 mil meticais que investi nesta machamba”, disse.

João Fernando Mesa, um dos moradores do bairro de Muthita, disse que o problema relacionado com a poluição do rio e do meio ambiente naquela zona residencial começou a verificar-se quando a empresa Cervejas de Moçambique iniciou a sua produção.

Contudo, apelou às entidades responsáveis pela gestão da fábrica para que instalem um tubo que transporta as águas escuras para escorrê-las até ao pequeno rio sem, no entanto, passar pelas residências.

Uma fonte da Direcção Provincial da Acção Ambiental de Nampula explicou à nossa reportagem que há necessidade de se resolver o problema envolvendo a edilidade, através do Pelouro do Saneamento e Meio Ambiente.

Reacção da direcção da empresa CDM

O chefe do Departamento de Saúde, Segurança e Ambiente da empresa Cervejas de Moçambique (CDM), Lourenço Damião Ribáuè, explicou que o problema de evacuação das águas residuais derivou da saturação da lagoa onde são depositadas as águas negras oriundas da fábrica.

Reconheceu, entretanto, a falha cometida pela equipa técnica na reparação do problema na altura em que foi registado, de modo a evitar o descontentamento, provavelmente, que causaria à população que reside nas imediações daquela firma.

Ribáuè deu a conhecer que a empresa CDM de Nampula possui políticas de tratamento dos resíduos sólidos que consiste na aplicação de hidratantes para a eliminação do mau cheiro que causa problemas de saúde aos seres humanos.

Depois de ser tratada, a água é armazenada num tanque que foi construído para o efeito e, de seguida, é usada para a realização de outros trabalhos como é o caso da irrigação dos campos de relva e lavagem de materiais ligados à sua actividade. Mas quando o recipiente de tratamento da água residual regista alguns problemas de ordem técnica, o líquido é desviado para a lagoa, onde foi aberto um canal de evacuação das águas negras para o rio Muepelume, o que provoca o referido mau cheiro que afecta as comunidades circunvizinhas.

@Verdade constatou que, depois de apresentarmos o problema, o colectivo de direcção decidiu contratar uma empresa no sentido de fazer os possíveis arranjos visando reduzir a quantidade das águas escuras que são evacuadas para as comunidades.

“Admitimos que haja esse problema, mas queremos assegurar que estamos já a empreender esforços de modo a resolvê-lo porque isso aconteceu devido à saturação provocada pela acumulação das águas negras que ficaram na lagoa durante um ano sem ser evacuadas”, disse aquele responsável precisando que a fábrica funciona 24 horas e sempre são feitos trabalhos de limpeza e de drenagem para a lagoa, daí que a água não seja apenas resultante da produção de cerveja.

Outras indústrias que poluem o meio ambiente

No bairro de Napipine, sobretudo na zona da Barragem, em Nampula, alguns residentes queixam-se da poluição ambiental que a fábrica de capulanas, a Texmoque, está a provocar como resultado dos despejos de resíduos industriais. A situação verifica-se porque aquela unidade fabril não construiu nenhuma vala de drenagem para a evacuação das águas residuais e todos os resíduos sólidos são encaminhados para as comunidades circunvizinhas, provocando um ambiente insuportável.

Um dos moradores explicou que a fábrica de capulanas utiliza combustível lenhoso para as suas actividades e, no final dos trabalhos, os resíduos são depositados em locais de concentração humana. Acrescentou que, além de provocar um mau cheiro, os resíduos sólidos estão a formar uma lixeira, e a edilidade não recolhe o lixo para um local adequado.

O morador Malte Fazbem afirmou que as autoridades comunitárias nunca quiseram abordar o colectivo de direcção da empresa Texmoque para exigir a resolução do problema, mesmo estando a prejudicar os moradores daquela zona residencial. “Acho que os dirigentes locais não estão preocupados em resolver o problema que constitui uma preocupação da população, uma vez que se trata de um atentado à saúde pública”, disse.

O outro problema que está relacionado com a poluição ambiental verifica- se nas redondezas da fábrica de bolachas que se encontra localizada no meio de diversas famílias no bairro da Faina.

Segundo os nossos entrevistados, todas as águas residuais que são evacuadas do interior do empreendimento passam pelos quintais de algumas famílias que se sentem desapontadas com a direcção da empresa que nada faz para poder resolver a situação.

Alfredo, um morador que falou à nossa reportagem, disse que várias vezes foram apresentar o problema à direcção, mas até hoje nada foi feito.

Entretanto, pedem a quem de direito no sentido de ajudar os residentes daquele bairro que afirmam que a solução do problema está fora das suas capacidades. “Esta situação deve-se à falta de valas de drenagem”, disse.

No geral, as indústrias que foram instaladas na cidade de Nampula não estão a oferecer condições aceitáveis de preservação do meio ambiente, uma vez que fazem a evacuação de resíduos sólidos em direcção às comunidades que residem nas imediações do local onde foram implantadas.

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