A União Europeia (UE) ganhou o Prémio Nobel da Paz, esta Sexta-feira (12), por promover paz, democracia e direitos humanos há seis décadas.
A escolha foi vista como um impulso para elevar o moral num momento em que o bloco empenha-se em resolver a sua crise económica.
A premiação serviu como um lembrete de que a UE trouxe de modo geral paz para um continente que se dividiu depois de duas guerras nas quais morreram dezenas de milhões de pessoas.
A UE transformou a maior parte da Europa de “um continente de guerras para um continente de paz”, disse o presidente do Comité do Nobel, Thorbjoern Jagland, ao anunciar a premiação em Oslo.
“A UE atravessa no momento graves dificuldades económicas e agitação social considerável”, disse Jagland. “O Comité Nobel norueguês deseja focar no que vê como o mais importante resultado da UE: a sua bem-sucedida luta pela paz e reconciliação e pela democracia e direitos humanos.”
Jagland elogiou a UE por reconstruir a Europa após a devastação da Segunda Guerra Mundial e por seu papel em disseminar estabilidade depois da queda do Muro de Berlim, em 1989.
Embora tenha sido bem recebido por líderes europeus, o prémio terá pouco efeito prático na crise da dívida que afecta a zona do euro, que causa instabilidade económica e social em vários países, com distúrbios em Atenas e Madrid.
Nas ruas da capital da Grécia, onde os manifestantes queimam bandeiras nazistas em protesto contra as exigências alemãs de austeridade, o prémio foi recebido com descrença. “Isso é uma piada?”, perguntou a esteticista Chrisoula Panagiotidi, 36 anos, que perdeu o emprego três dias atrás.
“É a última coisa que eu esperaria. Zomba de nós e do que enfrentamos agora. Servirá só para enfurecer as pessoas aqui.” O prémio, de 1,2 milhão de dólares, será concedido em Oslo, em 10 de Dezembro. Não ficou claro quem representará a UE na cerimónia de entrega do cheque e como o dinheiro será aplicado.
Em segredo
Concebida em segredo num castelo perto de Bruxelas, a União Europeia de hoje foi criada pelo Tratado de Roma, de 1957, assinado com grande estardalhaço no Palazzo dei Conservatori, um edifício do século 15, na capital italiana.
O bloco surgiu como um “mercado comum” de seis Estados e cresceu até tornar-se a União Europeia, com 27 nações, desde a Irlanda no Atlântico a países nas fronteiras da Rússia. Na época, a Guerra Fria estava em pleno vigor depois que os tanques da União Soviética esmagaram uma rebelião anti-comunista em Budapeste.
Os países ocidentais liderados pelos Estados Unidos haviam formado a NATO e o governo russo respondeu com a criação do Pacto de Varsóvia. Mas a UE está agora mergulhada em crise, com enorme tensão em relação ao euro, a moeda comum compartilhada por 17 nações e criada para ampliar a união económica e monetária.
Os políticos na Alemanha, uma das principais forças na fundação da UE, ficaram entusiasmados com o prémio. A chanceler Angela Merkel, a mais poderosa líder europeia, disse ter sido uma “decisão maravilhosa”.
O presidente francês, François Hollande, cujo país forma o principal eixo de poder da UE, ao lado da Alemanha, afirmou ter sido uma “honra imensa”. O governo britânico, menos comprometido com o ideal europeu do que outros Estados membros do bloco, não fez comentários sobre o prémio.
Mas um alto dirigente do oposicionista Partido Trabalhista, Ed Balls, fez um comentário sarcástico: “Vão comemorar hoje à noite em Atenas, não vão?”
Em Madrid, o empresário Francisco González, 62 anos, manifestou perplexidade: “Não vejo a lógica de a UE receber esse prémio exactamente agora. Eles não podem nem mesmo chegar a um acordo entre si.”
Em Berlim, a ministra de relações-públicas Astrid Meinicke, 46 anos, também foi céptica. “Acho curioso. Acho que a UE poderia ter se engajado um pouco melhor, especialmente na Síria”, afirmou ela, perto da histórica Porta de Brandenburgo.
Na sede do prémio da paz, muitos noruegueses opõem-se com firmeza à UE, avaliando que o bloco é uma ameaça à soberania das nações.
A Noruega votou duas vezes contra a adesão do país a União Europeia, em 1972 e 1994. O país tem prosperado fora do bloco, parcialmente devido às enormes reservas de petróleo e gás.
