A imagem é enganosamente normal. Publicada na página do Facebook do presidente sírio, Bashar al-Assad, mostra a primeira-dama, Asma, vestida de jeans e camiseta, acompanhando a filha e os três filhos no seu primeiro dia de volta à escola.
Dois dos meninos usam bermudas em estampa camuflada com camisetas cáquis e bonés, combinando com o espírito de um comandante sob cerco.
No entanto, quando a mãe deixou Hafez, o mais velho, nomeado em homenagem a seu avô, na escola, apenas outra criança havia chegado na classe por causa de ataques de rebeldes em Damasco naquela manhã.
Mais de 18 meses desde o início da batalha na Síria, cerca de 30 mil pessoas estão mortas e o país está a desintegrar-se. Os rebeldes são superados em poderio militar pelo governo, mas ainda podem atacar à vontade, e Assad assumiu o comando pessoal das suas forças, ainda convencido de que pode prevalecer militarmente.
Os esforços de mediação da ONU chefiados pelo diplomata argelino Lakhdar Brahimi estão à deriva e não há nenhuma indicação de que a pressão ocidental sobre Assad vai se traduzir em apoio militar real para as forças rebeldes da Síria.
A Rússia e o Irão continuam a apoiar Damasco. Os partidários de Assad dizem que o governo firmou o seu pulso após uma onda de deserções e ataques de rebeldes contra alvos estratégicos do governo desde o verão.
Uma imagem no Facebook de Assad vestido com uniforme militar resume a sua transformação desde um ataque a bomba em Julho, que matou a liderança do seu sector de segurança, incluindo um cunhado e o ministro da Defesa.
Os visitantes recentes dizem que o presidente, de 47 anos, assumiu o dia a dia da liderança. Eles falam de um presidente autoconfiante, combativo e convencido de que acabará por vencer o conflito através de meios militares.
“Ele não é mais um presidente que depende da sua equipe e dirige por meio dos seus assessores. Esta é uma mudança fundamental no pensamento de Assad”, disse um político libanês pró-Síria, com ligações estreitas com Assad.
“Agora ele está envolvido em dirigir a batalha.” O jogo final pode ter mudado também. “Ninguém está a falar agora sobre o controle do regime sobre toda a Síria, eles falam sobre a capacidade do regime para continuar.”
Até recentemente, explicou o político libanês, as pessoas perguntavam diariamente quem seria o próximo a desertar. Mas já há algum tempo não houve deserções militares significativas.
“O pulso de combate está firme. Os iranianos e os russos podem ter ajudado. A sua capacidade de gerir e controlar diariamente a situação melhorou.” O governo decidiu concentrar os seus esforços nas áreas essenciais, a capital Damasco, a segunda maior cidade, Aleppo, e as principais rodovias e estradas.
Enganado
Outros observadores próximos do conflito dizem que Assad está enganado se acredita que pode prevalecer. “O problema é que o regime vive no seu próprio mundo. Está claro que as pessoas estão a rejeitar essa ideia, contada pelo regime, de que é um regime secular atacado por extremistas, uma batalha entre o bem e o mal, e Bashar um dia será vingado. Bashar não é a vítima. Ele é a causa da violência”, afirmou um diplomata ocidental.
O conflito culminou em uma guerra civil com massacres e assassinatos sectários quase diários, que alguns observadores dizem tornar o destino de Assad quase irrelevante.
“Todo o mundo está meio que hipnotizado pela questão de saber se Bashar é presidente ou não, se ele está a sair ou não”, disse uma autoridade árabe. “Temo que o problema seja muito maior do que isso. O problema é ver como a Síria vai sobreviver, como a nova Síria vai nascer.”
As rixas entre a oposição e o seu fracasso em unir-se sob um único comando é um factor que tem ajudado Assad a segurar-se. Ainda não há um esforço sério para unificar a oposição.
Alguns grupos rebeldes, compostos por liberais moderados e fanáticos islâmicos, entraram em choque uns com os outros militarmente, afirmam os activistas. A sua discordância religiosa e ideológica é exibida abertamente nos sites islâmicos com trocas de insultos.