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Chávez supera novo desafio por socialismo “sem retorno”

Hugo Chávez enfrentou um cancro e uma oposição mais unida do que nunca, mas conseguiu ampliar o seu horizonte de poder na Venezuela até 2019, usando as mesmas armas de sempre: a abordagem popular, com sorrisos e presentes.

Chávez obteve cerca de 55 por cento dos votos nas eleições presidenciais de Domingo, contra o jovem governador de oposição Henrique Capriles. Diante do mais sério desafio eleitoral desde que chegou ao poder, em 1999, ele precisou de levar ao limite o uso da máquina pública para entregar casas, inaugurar obras e acelerar subsídios.

“Eu me comprometo a ser cada dia melhor presidente do que fui nestes anos”, disse Chávez, de 58 anos, a uma multidão que festejava o resultado eleitoral em frente ao palácio presidencial, empunhando uma réplica da espada do herói da independência Simón Bolívar.

Nascido numa casa rural com chão de terra, nas remotas planícies venezuelanas, Chávez superou um rosário de obstáculos desde que assumiu o poder na Venezuela. Nem um golpe de Estado, nem uma feroz greve dos petroleiros, nem um referendo para revogar o seu mandato puderam descarrilar o seu projecto socialista.

Agora, o cancro na região pélvica, do qual declarou-se curado há cinco meses, depois de submeter-se a três cirurgias e um duro tratamento, é a maior nuvem que se projecta sobre o futuro do líder boliviano. Em parte por isso, ele tem declarado que o chavismo não é só uma questão de Chávez.

“Chávez já não sou eu. Você também é Chávez, menina. Você também é Chávez, rapaz. Somos todos Chávez!”, insistiu na campanha. No seu novo mandato de seis anos, o presidente buscará levar o socialismo a um ponto sem retorno, mas enfrentará pela primeira vez um líder oposicionista que, com 45 por cento dos votos, revela um país profundamente mais dividido do que nas últimas eleições presidenciais, em 2006.

“A Venezuela nunca mais voltará ao neoliberalismo! A Venezuela continuará a transitar para o socialismo democrático e boliviano do século 21”, gritou Chávez, vestindo a sua clássica camisa vermelha, o traje praticamente oficial durante toda a campanha.

Os seus críticos acusam-o de dividir o país e de não dar atenção aos problemas como a criminalidade, a precariedade dos serviços públicos e a burocracia.

Mas os militantes socialistas continuam a vê-lo como um protector dos excluídos, e identificam-se com a história do rapaz do interior que sonhava em ser jogador de basebol nos EUA, mas acabou por tornar-se o principal líder anti-americano da América Latina contemporânea.

Famoso por seus longuíssimos discursos, que chegam a durar nove horas, Chávez tornou-se conhecido da população, paradoxalmente, numa fala improvisada e curta, depois de, como tenente-coronel, liderar o frustrado golpe de Estado de 4 de Fevereiro de 1992, obtendo um valioso capital político que o catapultou à Presidência seis anos depois.

As suas populares “missões” sociais de alimentação, saúde e educação fizeram nos últimos anos a diferença para milhões de venezuelanos pobres, e lubrificaram um inegável carisma, o que permitiu-lhe vencer 12 batalhas eleitorais e sofrer apenas duas derrotas, por margem estreita.

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