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Moçambicanos vivem uma paz misturada com dificuldades básicas

A paz é um ganho incontestável, mas em contrapartida há inúmeros males que a ensombram, o que faz com que não seja efectiva em Moçambique. Esta é a constatação de alguns citadinos da capital do país, entre eles políticos, entrevistados esta quinta-feira (04) pelo @Verdade por ocasião da passagem do 20º aniversário da assinatura do Acordo Geral da Paz, em Roma, capital italiana, entre a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e movimento rebelde, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO).

Pedro Silva, de 48 anos de idade, é residente no bairro de 1º de Maio, diz que a paz foi o ganho mais precioso dos moçambicanos até então. Porém, apela para que cada moçambicano contribua na sua preservação e consolidação. Graças a ela foi possível resgatar a dignidade do povo, o bem-estar, a convivência social e a união dos moçambicanos rumo ao progresso.

A preservação da paz depende da existência de canais de diálogo permanente entre as entidades governamentais e a população, sobretudo a das zonas recônditas que enfrenta dificuldade de comunicação e desprovida de informação.

O nosso entrevistado realça que foram 20 anos de desafios para responder às necessidades dos moçambicanos, os quais resultaram na expansão rede escolar, hospitalar e no alargamento das vias de acessos. Algo melhorou consideravelmente.

Lizete Chaúque, de 38 anos de idade, o dia 4 de Outubro é uma vez por ano, mas a paz tem de ser celebrada todos os dias. “Só podemos sentir uma paz efectiva se tivermos combatido a pobreza, a fome, entre outros problemas que directa ou indirectamente minam a paz”.

Para ela, o grande ganho destes 20 anos foi a reconstrução do país, que por sua vez possibilitou a circulação de pessoas e bens. “Se dantes a pessoa estava impedida de andar livremente, agora é diferente. As pessoas podem deslocar-se para qualquer canto do país sem nenhumas restrições. Durante a guerra, quando víssemos polícias posicionados nas ruas nos transmitiam um sentimento de medo e terror. Mas hoje, vemo-los como garantes da Lei e Ordem e protectores do cidadão”.

Por seu turno, Edson Macamo, jovem de 24 anos de idade, disse que “não obstante os problemas por que o país passa, a paz nunca traz desvantagens, e para que ela seja vivida e sentida pelos moçambicanos, é preciso que sejam removidas algumas barreiras, como por exemplo o desemprego, a fome, a miséria que afectam a milhares de moçambicanos”.

Enriquecimento excessivo preocupa

Para o secretário-geral do Partido Ecologista, António Massango, os 20 anos da paz são um bem alcançado. Abriu espaço para a garantia da segurança de pessoas e bens, permitiu a entrada de investimentos ao país, alavancou o desenvolvimento humano, social e económico, através da abertura de bancos de microfinanças, que apoiam o auto-sustento dos moçambicanos.

Entretanto, o político considera que a paz não é efectiva porque ainda reina um espírito de conflito de interesses dentro dos partidos políticos, incluindo no partido no poder. Trata-se de situação que mina o exercício da democracia.

Segundo ele, está preocupado com o enriquecimento desmedido da minoria em detrimento da maioria. A falta transportes, habitação, insegurança, atentam contra os princípios da paz. Por isso, apela para que haja separação nítida entre o partido Frelimo e o governo, pois o contrário afecta o multipartidarismo.

A paz é a participação inclusiva de todos no desenvolvimento

O vice-presidente do Conselho Nacional do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), na cidade de Maputo, Guambe Ismael, entende que a paz nunca é efectiva numa nação com um desenvolvimento social desequilibrado. “Muitos pensam que a paz é só o calar das armas, estão enganados porque para além do silêncio do armamento há que existir paz social, política económica e cultural”.

“Penso que a paz não se cinge apenas ao silêncio das armas, quando o povo morre a fome, ressente-se da falta de emprego, não tem acesso à escola, entre outros serviços básicos, isso acaba ferindo a paz”, secundou Hipólito Macuácua, de 47 anos de idade.

À semelhança do que tem sido dito pela Renamo, Guambe Ismael considera que o Acordo Geral da Paz não está a ser cumprido na íntegra pelo partido no poder, devido à arrogância e falta de vontade política. A paz, segundo acrescentou, implica a participação inclusiva de todos no processo de desenvolvimento, alargamento da educação e provimento de serviços sociais para população, o que actualmente ainda está longe de ser uma realidade.

Povo que enfrenta problemas básicos não tem paz

O académico Brazão Mazula é da opinião de que a paz só pode ser efectiva se os moçambicanos unirem-se e lutarem para alcançar os mesmos ideais e objectivos. As violações sexuais, físicas e psicológicas demonstram que ainda há muito por se fazer por parte da sociedade, que sem se aperceber estão perigar a existência da paz.

Esses fenómenos rompem com a tranquilidade e deturpam, de forma preocupante, a paz que deve ser consolidada por cada moçambicano, fazendo dela instrumento para vencer os males que continuam a afligir o país.

De acordo com Brazão Mazula, o maior desafio imposto ao governo é o de erradicar a propagação das diversas doenças, reduzir a falta de transporte, capacitar os moçambicanos para fazerem face às vicissitudes do quotidiano e que sejam verdadeiros embaixadores da paz.

Brazão Mazula, Acrescenta que a paz trouxe ganhos acrescidos ao povo, criou condições para o aperfeiçoamento da intelectualidade, através da formação a diversos níveis, implementou uma democracia que apesar de se ainda jovem está consolidada porque permitiu o surgimento de vários partidos, bem como a conquista da liberdade de expressão e direito e valorização da nossa dignidade e da cultura.

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