Para continuarmos  a fazer jornalismo independente dos políticos e da vontade dos anunciantes o @Verdade passou a ter um preço.

‘@Verdade EDITORIAL: Arrogância

A arrogância na política moçambicana é transversal, ainda que seja – não podia ser diferente – mais visível nos actos da “posição”. Porém, infelizmente não é um mal exclusivo desta. @Verdade foi vítima, durante duas semanas, dessa sobranceria dos governantes deste país. Publicámos um trabalho sobre um caso de usurpação de terra no município da Beira, mas foi impossível ouvir a posição da edilidade.

No princípio, pensávamos que tal fosse por causa da ocupação e de outras agendas. Mas não foi por isso. Há quem nos tenha dito, com uma convicção inabalável, que a nossa reportagem seria um filme sem fim. Dito e feito. Volvidos 16 dias após a publicação do texto, o Conselho Municipal da Beira continua enredado num mutismo maiúsculo. Não se pronuncia. As desculpas, essas, são tão arrogantes quanto estapafúrdias.

 

Depois de esgotar todas as engenhosas acrobacias burocráticas, o porta-voz do presidente do Município da Beira disse que o nosso repórter tinha de ir até a cidade para ouvir a versão da edilidade. Até concordamos com o porta-voz, mas é importante lembrar que essa informação deveria ter sido disponibilizada no dia do primeiro contacto.

Era muito simples informar, sem papas na língua, ao nosso repórter, que o município da Beira não trata de casos delicados ao telefone. Até porque não é culpa do Conselho Municipal o facto de o @Verdade não dispor de uma delegação na segunda maior cidade do país ou de meios para lá estar sempre que precisar de exercer o princípio do contraditório. Mas é inequívoco e cristalino que a obrigação do porta-voz é de fornecer informação atempadamente.

Ou seja, é responsabilidade do município e os seus empregados dizer, sem reservas, que não trata de tais questões telefonicamente. Ainda que fosse assim, o porta-voz estaria a proferir uma mentira do tamanho da cidade da Beira. Já falámos várias vezes com pessoas ligadas à autarquia onde trabalha. O problema é que, quando assim foi, o interesse estava do outro lado da linha.

Que fique, portanto, claro que @Verdade lutou para garantir o princípio do contraditório, mas o Conselho Municipal da Beira recusou-se. Não quis opinar porque julga, dizem, mais conveniente permanecer no silêncio. Ou seja, deixar que as coisas morram na sucessão dos dias. Até porque, em Moçambique, todo dirigente pensa que o povo tem memória curta. Nós compreendemos a posição da edilidade e de quem disse que este seria um filme sem fim.

Em Maputo também aconteceu o mesmo; um cidadão viu o seu direito violado por uma edilidade arrogante. Na posse de toda a documentação, o cidadão esbarrou na força e arrogância do presidente do município de Maputo. Privado de construir numa parcela de terra cuja titularidade é conferida pelo DUAT.

Que este filme e o da Beira não tenham fim triste. Até porque esta urbe sempre representou, no imaginário popular, o resgate da esperança. Sempre tivemos a Beira como a capital da democracia. Como o exemplo a seguir para recuperar o país das mãos de dirigentes imersos no capitalismo selvagem.

Como o espaço onde os cidadãos realmente contam e as lideranças, ainda que municipais, significam um novo dia. Nunca passou pela nossa cabeça que Beira fosse igual a Maputo.

WhatsApp
Facebook
Twitter
LinkedIn
Telegram

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *