Um contingente da Polícia da República de Moçambique (PRM) armado até aos dentes, cerca desde esta segunda-feira (24) a residência do presidente do Fórum dos Desmobilizados de Guerra de Moçambique (FDGM), Hermínio dos Santos, na Matola.
O problema começou quando o grupo de desmobilizados de guerra dos 16 anos, chefiados por Hermínio dos Santos, submeteu, recentemente, um pedido de autorização de uma reunião com a governadora da província de Maputo, cuja cópia foi enviada ao comando provincial da PRM.A petição feita por aquele grupo de moçambicanos não foi diferida pela governadora Maria Jonas. O mesmo documento não foi bem acolhido pela Polícia e opôs-se contra a reunião dos desmobilizados.
Perante o cenário que não favorecia as intenções dos desmobilizados, Hermínio dos Santos, decidiu reunir-se com os membros do seu fórum no sábado passado (22), no bairro da Machava-Sede, Matola.
Dos Santos afirma que pouco tempo depois foram confrontados com um contingente policial armado, um grupo fardado e outro à paisana. “Eles cercaram todo o campo e ordenaram que nos retirássemos daquele local, ao mesmo tempo que ameaçavam atirar contra nós. Mesmo sem nós oferecermos alguma resistência fomos empurrados de um lado para o outro”.
Depois dessa inviabilização, os cerca de mil desmobilizados de guerra não arredaram o pé, ou seja, retiraram-se do local e foram se reunir em casa do seu chefe, Hermínio dos Santos. “Mas também nos seguiram até a minha casa, onde cercaram-na. Todos estavam armados. Mais uma vez a reunião não aconteceu”, afirma.
O nosso interlocutor afiançou que não obstante tenha sido inviabilizada a reunião pelos agentes da Polícia da República de Moçambique, desde a última segunda-feira, cerca de cinco agentes da Polícia fardados estão posicionados em frente a sua casa.
Dos Santos acrescenta que a partir do momento que ele entrou em contacto com o chefe das operações do Comando Provincial de Maputo, ele ordenou a retirada dos membros da corporação. Porém, foi uma medida de pouca dura. No dia seguinte três agentes da Polícia, todos vestidos à paisana, escalaram o mesmo local transportando-se numa viatura estacionada paredes-meias com a sua residência.
“Eu quero saber o que é que aqueles agentes querem na minha casa. Será que cometi algum crime? Eles chegam de manhã e durante a sua estadia vão beber numa barraca vizinha. A minha família não fica tranquila ao ver aqueles homens armados e em frente da casa. Tudo isto revela que o regime deste país me persegue e quer me tirar a vida”, considera.
“Nós devemos garantir a ordem, segurança e tranquilidade públicas”
Entretanto, o director da Ordem e Segurança Públicas no Comando da PRM da província de Maputo, António Mulungo, desdramatiza as declarações do Hermínio dos Santos.
De acordo com ele, a Polícia impediu de forma pacífica a realização da reunião porque os desmobilizados de guerra não estavam autorizados a usarem aquele espaço público para o efeito.
“Nós devemos garantir a ordem, segurança e tranquilidade públicas na nossa jurisdição. Não podíamos permitir que usassem um espaço público sem o devido consentimento de quem de direito”, disse.
Relativamente às alegações segundo as quais os agentes foram cercar a casa do Hermínio, António Mulungo explicou que isso não constitui a verdade. Os agentes, na sua rotina de controlo da ordem e tranquilidade públicas, posicionaram nas imediações do local onde estavam reunidos os desmobilizados. Fizeram-no, afirma, para permitir a manutenção da ordem e segurança naquele local.
O director da Ordem e Segurança Pública no Comando Provincial da PRM, asseverou que o problema está com Hermínio dos Santos que não quer ver nenhum agente da PRM na sua zona, em pleno exercício do seu trabalho de patrulhas.