No dia em que a vila de Quissico, no distrito de Zavala, província de Inhambane – a afamada Terra de Boa Gente – celebrou as bodas de rubi, algumas machopi acordaram com vontade de cozinhar carne. Naquela salada de aromas de comida que se apoderaram da Praça da OMM, na Estrada Nacional Número Um, apenas uma refeição fazia diferença: a xiguinha…
No mês passado, envolvido numa enorme exposição de gastronomia, entre carnes de diversos tipos, encontravase Hilário Alberto Nhantumbo, jovem de 25 anos de idade, que se dedica à culinária desde pequeno. Naquele conjunto de cozinheiros, essencialmente do sexo feminino, Nhantumbo e a sua proposta gastronómica, a xinguinha de cacana, eram os únicos. Naqueles manjares, a nossa vista ficou presa. Aproximámo-nos a fim de perguntar pelo preço da refeição, ao que o jovem cozinheiro nos respondeu que custava apenas 25 meticais.
Depois de saborearmos a comida, entendemos que era útil conhecer a relação que Nhantumbo trava com a gastronomia, as razões que o moveram a apostar na actividade de cozinheiro – ainda que de um modo informal – para ofertar uma alternativa válida, em termos de sabores, aos turistas que se encontravam na vila.
Além do afamado prato, na sua stand, Nhatumbo colocou em montra diversos produtos como por exemplo o mutona ou munhatsi, o xibeye, a aguardente e o mel, mas o que nos interessou foi a xiguinha, um prato que possui histórias.
No princípio, “as pessoas quando me viam a circular com a cacana – na stand em que exponho os meus produtos – com o fito de preparar as refeições, desdenhavam-me, e questionavam: mas o que é que ele pretende fazer com cacana? Felizmente, nunca desisti da minha aposta em relação à gastronomia.
Sempre tive em mente que as pessoas que conhecem o seu valor não iriam ignorar”, começa por dizer Nhantumbo, para instantes depois acrescentar que “como zavalense, eu sei que a xiguinha é uma refeição que nos dignifica perante os nossos visitantes”.
Para Hilário, saber que “alguns dos meus amigos admiram-me exactamente por me dedicar à culinária e o facto de outros me perguntarem sobre como é que aprendi” é, indubitavelmente, um factor de motivação.
Entretanto, ainda que não tenha nenhuma informação sobre a invenção da xiguinha, no passado, a relação que Hilário Nhantumbo trava com a cozinha encarrega-se de gerar a sua história. É por essa razão que este prato possui um valor acrescido.
Por exemplo, de acordo com o jovem, é importante lembrar que, em certa ocasião, falando à Imprensa, “o administrador de Quissico, Arlindo Mário Maluleque, teve a iniciativa de prometer aos moçambicanos que no Msaho – Festival de Timbila, edição 2012 haveria esta refeição exactamente porque confia em mim. Di-lo seguramente em resultado de na edição do ano 2011 eu ter apresentado o mesmo prato na minha mostra de gastronomia e as pessoas gostaram”.
“Não me dedico à culinária como profissão porque (ainda) não tenho a oportunidade de trabalhar integralmente no referido sector. No entanto, gosto de mostrar que tenho algum pendor para a área. Por isso, se me surgisse alguma abertura ou um convite para trabalhar num hotel ou restaurante como cozinheiro, penso que não o desaproveitaria”, afirma o jovem com alguma ponta de orgulho.
Seja como for, não será por essa razão que Nhantumbo desperdiçaria o ensejo de esboçar um conselho: “A comida, quando consumida de forma adequada, é um forte auxiliar no percurso da vida do homem. Eu, por exemplo, sabendo que no Festival de Timbila Msaho as pessoas estão mais preocupadas em preparar carnes, decidi aparecer com uma proposta diferente, a xiguinha. Sei que o público irá empanturrar-se de tanto consumir carne. Portanto, a comida é importante quando os consumidores sabem variar”, reitera.
No dia em que conversámos com Hilário Nhantumbo, a vila de Quissico, na província de Inhambane, celebravam 40 anos de elevação àquela categoria. Como tal, quisemos saber do nosso interlocutor o significado que aquela data, para si, possuía incluindo o encontro de diversas pessoas do país e do mundo que ali se estabeleceram.
“Penso que é uma honra muito grande porque os 40 anos de existência de Quissico como vila não passaram de forma indiferente. Houve muitas transformações significativas na nossa vila. Eu, por exemplo, se disser às crianças que quando frequentava as classes iniciais de escolaridade sentava no chão para aprender – o que hoje já não acontece – podem não acreditar. É que a escola em que frequentei o ensino primário melhorou muito! Sinto que em Quissico se nota um crescimento significativo em termos da comunicação social porque, ainda que não estejamos em condições perfeitas, os canais de televisão que temos – com particular enfoque para Televisão de Moçambique – possuem muita qualidade”.
Com o nível médio do ensino secundário geral concluído, Hilario Pedro Nhantumbo tem o sonho de se tornar jornalista, aliás o pendor para a área não lhe falta. No passado criou dois boletins, os Jornais Wesley (que vigou entre 2006 a 2008) e Jornal de Quissico (2008 a 2010).