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Maxixe: O “mova” da economia de Inhambane

Maxixe: O “mova” da economia de Inhambane

Nos últimos anos, a segunda principal cidade da província de Inhambane, sul de Moçambique, ganha protagonismo a nível provincial e exige uma nova avaliação. A cada dia que passa, Maxixe torna-se o coração económico de Inhambane sustentando, por assim dizer, uma economia de três municípios e 12 distritos. Porém, o crescimento da urbe não esconde a miséria, os problemas relacionados com o acesso a água potável, à saúde, ao saneamento do meio, incluindo a existência de bairros desordenados e um comércio informal que cresce de forma assustadora.

Apesar de dispor de uma característica mista (urbana e rural), a cidade da Maxixe, considerada a capital económica da província de Inhambane, tem um grande potencial de desenvolvimento. Atravessado pela Estrada Nacional número 1, o distrito da cidade da Maxixe conta com uma população estimada em 108,824 habitantes, distribuídos por 25,710 agregados familiares. A urbe, devido à sua localização geográfica, proporciona condições para um crescimento rápido, porém, quando se circula pelas artérias da mesma, uma realidade sobressai aos olhos: ainda há muito por ser feito.

O desenvolvimento daquele município – marcado pela convivência entre o urbano e o rural e pelos problemas relacionados com a precariedade das vias públicas, acesso limitado à água potável e bairros de difícil acesso – deve-se ao crescimento desenfreado do comércio, sobretudo o negócio de rua, e não só.

Porém, a cidade debate-se com dificuldades a todos os níveis. A população queixa-se de quase tudo, desde a criminalidade, passando pela febre de vendedores ambulantes até ao acesso à saúde. No imaginário dos munícipes, Maxixe é uma cidade abandonada à sua própria sorte, uma vez que os serviços básicos ainda são deficitários ou mesmo inexistentes.

O crescimento da actividade económica é impulsionado pela Estrada Nacional número 1 que atravessa a cidade. Porém, os sinais na Maxixe são preocupantes, pois há cada vez mais pessoas, muitas delas sem condições básicas para se manterem, a abandonarem as suas localidades para ganharem a vida naquele pequeno município com uma superfície de 268 quilómetros quadrados.

Diga-se de passagem, a urbe não está preparada para acolher tanta gente. O centro da cidade já se mostra saturado, apesar de nos últimos anos ter registado um crescimento no que respeita a infra-estruturas. Os bairros crescem de forma desordenada.

Um pouco por toda a parte é possível ver obras de melhoramento da imagem da cidade a um ritmo bastante tímido, ao contrário do que acontece com o desenvolvimento socioeconómico que galopa à semelhança de um cavalo sem freio.

Há alguns anos, pode-se dizer que não havia uma estratégia eficaz no que se refere ao ordenamento dos bairros periféricos, apesar de existir muita preocupação da parte dos munícipes de construir a sua habitação. Tendo em conta o plano de urbanização desenhado pela edilidade local, pode-se dizer que existe vontade de erguer e desenvolver o município. O primeiro passo já foi dado em 1999 com a criação de uma zona de expansão.

Maxixe é, na verdade, onde todos os caminhos se cruzam, quer de pessoas que vêm dos 12 distritos da província de Inhames, quer os que têm como destino outros pontos do território moçambicano. Ao longo das principais ruas ou avenidas, a azáfama nos passeios revela diversas actividades informais, praticadas principalmente por pessoas oriundas das zonas periurbana e rural.

O comércio formal, desde uma pequena loja de venda de acessórios para viaturas e electrodomésticos até a restauração, é dominado por indivíduos de origem estrangeira. Os nativos continuam a contentar-se com os pequenos negócios de rua, tais como a venda de verduras, peixe, roupa usada e o carregamento de mercadorias.

Movidos por oportunidades ilusórias

Todos os dias, Maxixe recebe indivíduos inebriados por sinais de oportunidades, diga-se em abono da verdade, ilusórias, criadas pelo desenvolvimento e crescimento socioeconómico da cidade. Eles chegam de diversas partes da província de Inhambane e com um objectivo em comum: ganhar a vida.

Todas as manhãs, um grupo composto por três mulheres deixa o seu lar para garantir o sustento diário do seu respectivo agregado familiar. Elas moram do outro lado da margem, conhecida por ilha de Inhambane, e têm de atravessar o mar para exercer a sua actividade de sobrevivência: vender o pescado adquirido nas primeiras horas do dia.

A travessia é feita de pequenos barcos à vela. A escolha de Maxixe para a comercialização do seu produto tem a ver com as oportunidades que a cidade apresenta e que são apregoadas em quase toda a província. “Os potenciais compradores de mariscos estão aqui em Maxixe”, diz Marta Jossias, de 38 anos de idade.

Ao contrário do dia anterior, a 30 de Agosto do ano em curso Marta adquiriu marisco no valor de três mil meticais, mas até ao meio-dia não tinha conseguido vender sequer metade.

“Tem havido dias como estes em que não conseguimos comercializar tudo e entramos em prejuízo, mas isso não nos desanima porque este negócio tem destas coisas”, reconforta-se, ao mesmo tempo que se prepara para se fazer ao interior do barco, de regresso a casa. “Talvez consiga vender alguma coisa no meu bairro”, conclui.

Os rumores segundo os quais existe um grande potencial para se ganhar a vida na capital económica da província de Inhambane também chegaram aos ouvidos de Manuelito, um rapaz de 17 anos de idade. Na senda dessas alegações, o adolescente abandonou a capital provincial e tomou o ferryboat com destino a Maxixe.

Presentemente, dedica-se à comercialização de peúgas. Porém, a vida não é como ele imaginava. “Ainda não consegui vender muita coisa, até porque o negócio não é muito bom, mas já estou a pensar em mudar”, diz.

À semelhança de Marta e Manuelito, outras centenas de pessoas emigram para Maxixe todos os dias para garantir a sua sobrevivência. No entender das pessoas, do outro lado da margem as oportunidades de ganhar a vida são escassas, por essa razão fazem a travessia.

Não são somente os indivíduos movidos pela necessidade de ganhar o sustento diário que se deslocam até aquela cidade, existem dezenas de outras pessoas que para lá se deslocam para fazer compras ou ter acesso aos serviços bancários, entre outros.

Os problemas persistem

Localizada a oeste da capital provincial, cidade de Inhambane, até ao ano de 1963 Maxixe era um posto administrativo, com circunscrição em Homoíne. Porém, quando se registaram indícios de desenvolvimento, passou a ter a categoria de conselho ou circunscrição da Maxixe.

Entretanto, continuava ainda a depender do distrito de Homoíne. De 1964 a 1972, criaram-se as condições necessárias e Maxixe passou de vila para cidade, no dia 18 de Julho de 1972, e em 1997, quando foi aprovada a Lei das Autarquias Locais, torna-se autarquia.

O distrito da cidade da Maxixe tem mais mulheres (55 porcento do total da população) que homens (45 porcento). É a população feminina que movimenta a economia local, através de diversas actividades informais.

Acesso a água potável, saneamento e criminalidade

A urbe debate-se com diversos problemas sociais, próprios de uma cidade em crescimento. O acesso a água potável é uma das principais preocupações da população. Apesar de a cada ano aumentar o fornecimento de água, a população continua a caminhar longas distâncias para obter o preciso líquido. A zona de captação de água foi melhorada e criou-se um novo sistema que é o maior da província em termos de tratamento de água.

Na zona urbana quase 90 porcento da população beneficiam de água potável, porém, o mesmo não se verifica na periferia, onde o fornecimento está abaixo de 50 porcento. Segundo os dados estatísticos de 2008, apenas 3 porcento da população têm acesso a água canalizada no domicílio, 10 fora dele, 24 bebem água do poço e 27 têm acesso a um fontenário.

Quanto ao saneamento do meio, o bairro de Mazambane é tido como um dos mais problemáticos. Muitas famílias vivem sem as mínimas condições de higiene. Aliada a essa situação está o elevado índice de criminalidade.

Se durante o dia tudo parece normal, quando a noite chega a coisa muda de figura. Num distrito com aproximadamente 10 porcento da população da província, a questão da insegurança preocupa os habitantes. Os casos mais comuns estão relacionados com assaltos a residências.

Saúde

A nível do distrito da cidade de Maxixe existem 10 unidades sanitárias. Apesar disso, ainda se assiste a casos de pessoas que têm de percorrer longas distâncias para obter cuidados médicos. A malária e as doenças diarreicas têm sido as principais causas de internamento nas unidades sanitárias.

Em média, por mês, mais de 30 pessoas são internadas. Os casos mais graves são transferidos para a cidade de Inhambane. Neste momento, o desafio é melhorar o atendimento e disseminar os serviços de saúde.

Um ponto de encontro

Devido à sua localização geográfica, Maxixe é um ponto de encontro e também um local onde centenas de pessoas procuram sobreviver das mais diversas maneiras, sobretudo ao longo da N1, onde o sector informal da cidade fervilha. O principal mercado, no centro da cidade, é o lugar onde o comércio ganha vida de forma impetuosa.

Vende-se um pouco de tudo, mas é o negócio de venda de comida que chama a atenção dos visitantes. A título de exemplo, quando um autocarro de passeiros pára, um grupo de mulheres lança-se, qual um enxame, e perscruta potenciais clientes. Elas oferecem diversos tipos de comida. Há pratos para todos os bolsos, e o preço mínimo é 80 meticais.

Não é somente o negócio de comida que sobressai em Maxixe. Durante a noite, principalmente nos fins-de-semana, algumas mulheres ganham a vida prostituindo-se. Os principais pontos são as casas de pasto, onde os camionistas e gente que está de passagem frequentam, em que a actividade cresce.

São 21h00, e Maria (nome fictício) já está pronta para mais um dia de trabalho. Engana-se quem pensa que no final da noite ela volta para casa com uma grande receita. Numa quinta-feira, terá muita sorte se conseguir amealhar 600 meticais. “Os dias de semana não ajudam. Nos fins-de-semana há mais procura”, diz.

A nossa interlocutora, de 24 anos de idade, prostitui-se há cinco anos. Ela envolveu-se nesta actividade na cidade de Inhambane, mas, porque o movimento andava muito fraco, decidiu atravessar para a outra margem.

“A vida não está fácil. Tenho de sustentar os meus filhos”, afirma. Cobra 250 meticais pelo acto e, em média, por noite, amealha 500 meticais. A sua jornada não lhe permite ter hora para regressar a casa. “É muito pouco o dinheiro que ganho, mas dá para comprar alguma coisa. Este é o emprego que me permite sustentar os meus dois filhos”, conclui.

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