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Milhares pedem autonomia para Catalunha em meio à crise espanhola

Centenas de milhares de catalães saíram, Terça-feira (11), às ruas de Barcelona, numa inédita demonstração de apoio à autonomia da região em relação à Espanha.

A crise económica espanhola, acompanhada de um forte desemprego, tem alimentado uma febre separatista na Catalunha, uma região relativamente próspera, mas cujos líderes consideram-se explorados pelo governo central.

A multidão agitou as bandeiras listradas vermelhas e amarelas da Catalunha, uma das mais antigas ainda em uso na Europa, e cantou o hino catalão durante as celebrações da chamada Diada, um feriado regional que marca a conquista da Catalunha pelo rei espanhol Felipe 5º, em 1714, após 13 meses de cerco a Barcelona.

O governo espanhol avaliou a multidão em 600 mil pessoas. A polícia catalã estimou até 1,5 milhão. Os manifestantes disseram que o tamanho da passeata, inflada por pessoas vindas de toda a Catalunha para a sua capital nesse dia ensolarado, obrigará Madri a pelo menos ouvir a sua mensagem.

“Esse é um golpe para o governo. Gente como eu veio de todo o lugar. Não acho que eles estivessem a esperar algo tão grande”, disse Teresa Cabanes, 53 anos, moradora de Santa Coloma de Gramanet, nos arredores de Barcelona.

“Sentimos que o governo central está a enganar-nos. Nós, catalães, estamos a dar muito dinheiro para a Espanha.” Entre os cartazes levados à manifestação liam-se frases como “Não ao Quarto Reich”, “Não à Europa”, “Independência agora!” e “Catalunha: o novo Estado europeu”.

As redes de telefonia celular ficaram congestionadas e saíram do ar durante horas. Muitos manifestantes disseram que essa foi a maior Diada de que se tem lembrança nas últimas décadas. O protesto terminou já de noite, sem incidentes e sem detidos, segundo a polícia.

A demonstração de irritação contra Madrid e de orgulho regional virão a calhar para os líderes regionais, que tentam obrigar o governo nacional a conceder-lhes mais autonomia sobre os impostos recolhidos na Catalunha.

A Catalunha, que tem um idioma oficial próprio paralelo ao castelhano, concentra 15 por cento da população espanhola, e 20 por cento do seu PIB. Com a crise, muitos catalães queixam-se de que estariam a entregar a Madrid mais do que recebem em serviços públicos, os economistas calculam essa disparidade em até 12 bilhões de euros por ano.

O governo regional já precisou de demitir funcionários públicos e restringir os serviços, e o seu presidente, Artur Más, insinuou que vai pleitear a independência caso não receba mais autonomia fiscal. “Se não chegarmos a um acordo financeiro, o caminho para a liberdade da Catalunha está aberto”, repetiu ele, Terça-feira.

Más não foi à manifestação, mas disse apoiá-la. Em Julho, uma pesquisa feita pela Generalitat (governo regional) mostrou que pela primeira vez a maioria dos catalães está favorável à independência.

O primeiro-ministro espanhol, o conservador Mariano Rajoy, disse, Segunda-feira, que “a Catalunha tem sérios problemas de deficit e desemprego, e este não é o momento de confusão, de disputas e de polémicas”.

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