Hugo Chávez autorizou secretamente em 2009 a Colômbia a capturar ilegalmente na Venezuela o dirigente guerrilheiro Ivan Márquez, que continua foragido, disse o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe.
Em entrevista à Reuters, o político conservador disse que o esquerdista Chávez fez a proposta “sub-repticiamente” durante a Cúpula das Américas de 2009, num momento em que a Venezuela estava pressionada para prender e entregar o comandante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
A revelação de Uribe, presidente entre 2002 e 2010, ocorre a poucas semanas da retomada do processo de paz entre o governo e as Farc. Uribe criticou o presidente Juan Manuel Santos, seu ex-afilhado político e hoje desafecto, pelas condições estabelecidas para o diálogo.
Chávez, que está no poder desde 1999 e a 7 de Outubro disputa nas urnas um novo mandato, teve ao longo dos anos vários atritos com Uribe, que acusava-o de proteger a guerrilha esquerdista colombiana, algo que Chávez sempre negou.
“A última coisa que ele me disse, lá por 2009 em Trinidad, foi, de maneira secreta, para que eu tirasse Iván Márquez da Venezuela, como havia tirado (Rodrigo) Granda, o que deu-me um frio na espinha, porque causa muito má impressão que um presidente, mesmo que em privado, peça que faça uma armação contra o seu país”, disse Uribe, Segunda-feira (10), na sua casa de campo, nos arredores de Medellín.
Márquez, cujo nome real é Luciano Marin, pode ser extraditado para os EUA para ser julgado por narcotráfico. As autoridades norte-americanas oferecem uma recompensa de até 5 milhões de dólares por sua captura.
Granda, citado por Uribe na declaração, era outro dirigente das Farc, capturado em 2004 em Caracas numa operação clandestina de policiais colombianos. A operação teve ajuda de agentes venezuelanos, em troca de uma milionária recompensa.
O episódio levou a um rompimento nas relações diplomáticas entre os governos de Chávez e Uribe, que só reataram tempos depois, com mediação do governo cubano. Granda foi solto por Uribe em 2007, numa negociação que levou à libertação da política franco-colombiana Ingrid Betancourt, que passou vários anos como refém das Farc.
Granda reapareceu, esta semana, em Cuba para anunciar o início da negociação de paz com o governo. Na ocasião, as Farc anunciaram que Márquez irá integrar a comissão de negociadores. Em 2007, antes do resgate de Betancourt, Márquez foi visto junto com Chávez no palácio presidencial de Miraflores, em Caracas.
Para Uribe, o novo processo de paz beneficia Chávez, porque “permite-lhe lavar a cara” como protector e “legitimador do terrorismo colombiano”. Ele criticou o seu sucessor por aceitar o diálogo sem exigir que a guerrilha suspenda de antemão as suas actividades.
“A paz, queremos todos, mas uma negociação de paz não pode se dar quando o actor terrorista com o qual se negocia está a avançar nas suas actividades criminosas, e isso gera pânico para os investimentos, e além do mais cria dificuldades para poder financiar a política social”, afirmou.