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Toma que te dou: À memória do meu filho, Abebe, outra vez, agora, mais do que nunca

Ligou-me, na última quarta-feira, a Sheyla, mãe da tua filha, Kemily Nyeleti, e lembrou-me de que, naquele dia, farias 26 anos se estivesses vivo e iríamos comer, com muito gozo, um bolo em celebração do teu aniversário. E eu corrigi-a, dizendo, o Abebe está vivo e faz hoje (quarta-feira, dia 15), 26 anos.

Estava ainda na cama quando a Sheyla me ligou, e a informação que me dava era por demais uma mola de impulsão para me tirar da horizontal. A água já estava quente, ao lume, que a tua tia, a Camila, aqueceu com carinho e delicadeza, pois, por estes dias, faz frito nestas bandas.

Atirei a água pela minha cútis cantando Lidambo, a música que eu produzi com inspiração Divina e que tu gostavas também de cantar. Parecia estar a ver-te com aquele teu sorriso franco. E, sempre que me lembro de ti, quero viver mais, para teu gáudio.

Oh, meu filho! O último livro que escrevi dediquei-o inteiramente a ti. Aliás, tu sabes perfeitamente disso. Quando as pessoas falam de ti é como se tu estivesses ali presente a ouvir tudo, e sei que estás, sim, senhor. Se não estivesses comigo eu não me lembraria nunca mais de ti, não falaria nunca mais de ti. Mas é o contrário.

Quando canto é como se tu estivesses comigo no mesmo palco, dando-me força. Quando pretendo fazer algo de valor e de prestígio, oiço-te a dizer, vai para frente pai, vai! Quando começo a perder altitude tu insuflas-me o voo. E eu sinto-me regozijado.

Escrevo esta carta no dia do teu aniversário, e não me apetece estar com mais ninguém, senão contigo. Trago vestido no meu corpo o teu casaco de trabalho, em cujo peito está escrito Ntacua. As pessoas não entendem o amuleto em que se torna aquela peça de roupa para mim.

Muitas delas confundem-me com um operário. Outras perguntam-me o que é aquilo e eu explico-lhes que este casaco é do meu filho, que partiu cedo, usando um acidente de viação como ponte para transpor este limite da terra.

Quero estar contigo neste dia do teu aniversário, meu filho. Vou comprar um buquê de flores para depositar na tua campa, ali onde foi sepultado o teu corpo, ao lado do teu primo e amigo, o Celso. Vou colocar as flores nas campas onde foram guardados os vossos corpos, o teu e o do Celso. Não vou chorar, meu filho. Tu gostas de me ver alegre, voando como um pássaro e faço tudo para que seja, na verdade, uma pessoa alegre, e tenho conseguido isso, com a tua ajuda.

Foi a Lília Momple que me disse, eu chorando no peito dela, que tu partiste para me proteger. E eu acreditei. Acredito. Desde que tu foste, os meus caminhos tornaram-se cada vez mais iluminados. Os medos injustificados, que eu sentia amiúde, já desvaneceram. Agora estou a ficar agigantado como o David. Tenho-te a ti, meu filho, como meu anjo e, se te tenho a ti, quem é que pode vir contra mim?

Vou enviar o meu terceiro livro para a tua filha, a Nyeleti, e para a mãe dela, a Sheyla. Sei que vais ficar contente quando eu for a fazer isso. A tua filha está a crescer bem. Está linda, como tu, meu filho. Olhando para a cara dela, vejo-te a ti, rindo, brincando, sonhando com projectos que depois não concluíste. Não faz mal! É a lei da vida. O importante é que tu estás aqui, junto de mim neste teu dia de aniversário.

Parabéns, meu filho, um abraço profundo, cheio de canções.

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