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A madeira que (já) não é nossa!

A madeira que (já) não é nossa!

Desde princípios deste ano, aqueles que directa ou indirectamente trabalham com a madeira, sobretudo os carpinteiros, têm estado a passar por enormes dificuldades para adquirir esta matéria-prima indispensável à sua profissão. Paradoxalmente, Moçambique é um dos principais fornecedores deste recurso aos mercados asiático e europeu.

Os problemas relacionados com a aquisição da madeira nacional começaram a despontar em Janeiro, as razões ainda não são claramente conhecidas, mas o que é sabido é que apesar de Moçambique ser um dos principais fornecedores da madeira a alguns países asiáticos e europeus, ela está cada vez mais rara para os compradores e exploradores nacionais.

A zona Norte do país é a principal abastecedora dos mercados das restantes regiões do país. Mas desde o mês de Janeiro que o fornecimento daquela matéria-prima reduziu drasticamente para uma esmagadora maioria de compradores a grosso e a retalho, sobretudo a nível da região Sul onde a dependência continua extrema.

Na sequência destas di ficuldades, os que lidam directa ou indirectamente com a madeira, a exemplo dos exploradores, compradores e carpinteiros, sentem na pele as suas implicações.

A carpintaria é um sector de actividade cuja matéria-prima é essencial e indispensavelmente a madeira e com a sua escassez os profi ssionais desta área dizem estar a passar por um calvário sem precedentes, chegando nalgumas vezes a cogitar mudar de pro fissão.

Chineses: os fi lhos do Governo!

O @Verdade visitou esta semana o mercado Ben fica, na cidade de Maputo, que é tido como um dos locais indicados para a aquisição (a grosso e a retalho) da madeira processada e não processada.

Naquele local existem pouco mais de dez o ficinas de carpintaria onde, depois de comprada a madeira junto aos fornecedores, os “artistas” desta área mandam-na à serração para efeitos de processamento e posteriormente usam-na para produzir mobiliário.

Para além destes, existem carpinteiros que para àquele local se dirigem para comprar madeira processada (em tábua). Todos eles passam por um dilema sem um fim à vista.

Eles vêem a sua pro fissão à beira de extinção e, segundo dizem, há quem pode estar a contribuir para isso, neste caso o Governo.

Esta conclusão, justi ficam, resulta do facto de a máquina governativa estar alegadamente a privilegiar os chineses e outros cidadãos de origem estrangeira na concessão de licenças de exploração, em detrimento dos nacionais.

“Esta falta da madeira não se deve ao seu esgotamento, mas sim porque o Governo dá mais prioridade à sua exportação. Temos visto, nos portos, las de camiões carregados de madeira em toros e serrada com destino aos continentes europeu e asiático”, queixam-se alguns vendedores.

Os tipos de madeira cujo uso é frequente no país são pinho, jambire, umbila e chafuta e a menos usada, e por sinal a mais cara, é a do tipo cubicage. Todas estas variedades estão a ser fornecidas a conta-gotas ao mercado nacional, dominado por informais.

Situação tende a piorar

Todos os nossos entrevistados foram unânimes em a firmar que a madeira está a escassear, uma realidade visível até aos olhos dos mais incautos. Francisco é um deles. Carpinteiro há mais de quatro anos, ele sempre trabalhou no mercado Benfica. Decidiu instalar a sua o ficina naquele local por ser mais próximo e estratégico para a aquisição da madeira junto aos fornecedores.

Segundo afi rma, esta crise despoletou no princípio deste ano e “pensámos que talvez fosse um problema de pouca dura, mas a realidade provou-nos o contrário. A situação tende a piorar”.

Clientes rejeitam qualquer aumento

De acordo com o nosso interlocutor, os preços subiram exponencialmente, chegando, nalguns casos, a duplicar. Uma tábua de 2,5mX30cm, que antes custava 500 meticais, está a ser comercializada actualmente a 1000 meticais. Este é o preço mais baixo.

Para Francisco, os preços da matéria-prima, neste caso a madeira, não corresponde ao das obras. Por exemplo, um aro de janela é vendida a mil meticais, mas devia custar o dobro para compensar os custos da sua produção.

“Já tentámos aumentar os preços, mas os clientes não aceitam. Pedem descontos e nós acabamos por vender a mil meticais, e quando assim acontece só acumulamos prejuízos”, diz.

“Nós temos muita madeira aqui em Moçambique. Por estarmos ao longo da estrada nacional número um (EN1), vemos camiões carregados de madeira (processada e não processada) a passar. A nal, qual é o destino da mesma? A quem deve servir?”, questiona, visivelmente agastado com a situação.

Este problema abre espaço para a especulação. Nos últimos meses, os fornecedores têm vendido, embora também com algumas restrições, a madeira do tipo cubicage, uma variedade rara e cara, chegando uma tábua de 3mX40cm a ser comercializado a 3.500 meticais. No ano passado, custava metade.

“Não havendo alternativa, acabamos por comprar (a madeira do tipo cubicage). E nós é que saímos a perder porque os preços praticados ao cliente não compensam os custos de produção”, acrescenta.

…e a crise já fez “vítimas”

Perante este drama, maior parte dos carpinteiros, pelo menos na cidade e província de Maputo, já está a abdicar da sua profi ssão. A razão reside no facto de haver difi culdades para a aquisição da matéria-prima que geralmente provém da zona Norte do país.

Só no mercado Benfi ca, algumas ofi cinas já fecharam as portas, arrastando consigo inúmeros trabalhadores para o desemprego. Dentre eles faz parte Paulo Dambo, que interrompeu temporariamente o fabrico de mobiliário não por falta de encomendas, mas porque a actividade já não era sustentável. E para não morrer à fome, ele optou por apostar num negócio um tanto ou quanto duro: circular pela cidade com uma caixa de bolachas e rebuçados desde as primeiras horas do dia até o pôr-do-sol.

MINAG promete reagir hoje

Relativamente a este assunto, entrámos em contacto com o director nacional de Florestas e Terras no Ministério da Agricultura, Dinis Lissave, mas este, embora reconhecendo a importância do assunto, mostrou-se indisponível e não prestou declarações, tendo prometido convocar uma conferência de imprensa para hoje, sexta-feira.

E porque a nossa edição encerrou na quarta-feira, iremos apresentar a posição daquela instituição na próxima semana.

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