A mulher do ex-dirigente comunista chinês Bo Xilai será julgada, esta semana, por homicídio, no mais espectacular processo judicial no país desde a condenação da Camarilha dos Quatro, há mais de 30 anos.
Num processo encenado, a viúva de Mao Tsé-tung e três outros líderes ultraesquerdistas foram condenados em 1981 por excessos cometidos durante a Revolução Cultural (1966-76). Agora, a expectativa é que a advogada Gu Kailai receba seu veredicto com mais celeridade.
Os juristas e activistas dizem que essa é a praxe nos processos penais chineses, prática que já recebeu elogios da própria Gu, que via a Justiça chinesa como mais eficiente que a norte-americana, por exemplo, onde um criminoso pode ser absolvido graças a tecnicalidades.
“Desde que se saiba que você, Fulano de Tal, matou alguém, será preso, julgado e fuzilado”, escreveu Gu num livro de 1998 sobre o processo penal chinês. A lei chinesa, explicava ela na obra, “não mede palavras”.
Agora Gu é ré, e o seu processo, segundo os especialistas, deve mostrar que não houve reformas judiciais desde então. Segundo uma fonte judicial, o processo começa, Quinta-feira (9), em Hefei, cidade pobre e rude no leste da China.
A data, como é da natureza do regime comunista chinês, não foi anunciada publicamente. Gu pode ser condenada à morte por ter encomendado o assassinato do empresário britânico Neil Heywood, em Novembro passado.
Não está descartada, porém, a possibilidade de que ela receba uma dura pena de prisão. Seria o mesmo padrão ocorrido no julgamento da Camarilha dos Quatro, em que a viúva de Mao, Jiang Qing, e um dos seus braços-direito tiveram as suas penas de morte comutadas em prisão perpétua.
Os outros dois réus também foram condenados a longas penas de prisão. O caso de Gu é especialmente chamativo porque o seu marido, Bo Xilai, era uma estrela em ascensão na hierarquia comunista, até que o escândalo ceifasse as suas ambições políticas.
Por causa da posição de Gu e do envolvimento de estrangeiros no crime, é quase certo que a sentença e o veredicto estejam definidos de antemão.
“Essas são as últimas áreas em que se esperaria alguma disposição (do regime chinês) de agir pelas normais legais”, disse Carl Minzner, especialista em leis chinesas da Escola de Direito da Universidade Fordham, em Nova York.
Na sua opinião, o julgamento pode ser visto como parte duma campanha política contra Bo. Num sinal de que o julgamento já está definido, a ré não terá acesso ao advogado da sua família, Shen Zhigeng, que disse que o caso foi entregue pelo tribunal a outros advogados.
A agência estatal de notícias Xinhua já declarou que há provas “irrefutáveis e substanciais” contra Gu. Bo não foi citado como suspeito no caso de homicídio, mas está a ser investigado por autoridades partidárias, e pode ser submetido a julgamento posteriormente.