Se o insucesso de Moçambique nos X Jogos Africanos que decorreram em Maputo encontrou desculpa na observação do nível competitivo fora de portas dos nossos atletas e, dessa forma servir de marco para o sucesso nos eventos futuros, então fazia sentido esperar muito do país nos VIII Jogos Desportivos da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) que decorreram entre os dias 07 e 15 de Julho na vila lisboeta de Mafra, em Portugal. Entretanto, não passou de mais uma participação do país em mais um evento internacional onde os atletas portadores de deficiência mostraram que só a eles podemos agradecer por serem moçambicanos.
No cômputo geral do evento, Moçambique ficou na terceira posição atrás de Portugal e Brasil, primeiro e segundo classificados respectivamente, com um total de 16 medalhas, sendo 14 na modalidade de atletismo e as restantes no ténis e voleibol de praia.
Todavia, foi no atletismo para pessoas portadoras de deficiência que o país se soube impor ao conquistar nove das 14 medalhas, duas de ouro, três de prata e quatro de bronze.
Maria Muchavo, atleta paraolímpica, que, curiosamente, representará a bandeira nacional nos Jogos Paraolímpicos que se avizinham, em Londres, foi uma das destacadas da delegação moçambicana ao conquistar uma medalha de ouro na corrida dos 400 metros e duas de bronze.
A ela junta-se Edmilza Governo que somou também uma medalha de ouro e outra de prata. Nos masculinos, Hilário Chavel foi o atleta portador de deficiência que não demonstrou ter ido a Portugal para fazer turismo mas sim para competir, ao somar medalhas em número de quatro, duas de prata e as remanescentes de bronze.
Estes três medalhistas, a par de Xavier Salomão, que acabou por desistir devido à sua condição física que não ajudou na altura de competir fazem parte da lista dos moçambicanos que vencem qualquer tipo de obstáculo para, condignamente, elevar o nome do país além-fronteiras bem como içar a nossa bandeira nos principais mastros desportivos internacionais como é o caso do evento ora findo em Mafra, facto que não sucede com equipas cujo orçamento é chorudo, nomeadamente os nossos Mambas.
As restantes seis medalhas do atletismo, no tocante aos atletas convencionais, foram conquistadas por Ilídio Machava com duas de prata, Amélia Domingos com duas medalhas, uma de prata e outra de bronze, e Creve Machava, com uma de prata e outra de bronze.
As modalidades de voleibol de praia e ténis, ambas em femininos, foram as outras modalidades que conquistaram medalhas, todas de bronze.
Futebol e andebol: uma vergonha autêntica
Nula. Não se pode encontrar outro adjectivo senão no dicionário dos sinónimos para adjectivar a participação de Moçambique nos XIII Jogos da CPLP no futebol e no andebol.
Mas é na modalidade do futebol onde a desonra se tornou mais notória e corada de cinco cores da bandeira nacional, o símbolo dos 23 milhões que fazem o país. É impossível crer no sucedido em Mafra, mas a verdade é que o conjunto nacional sub-16 foi cilindrado por três vergonhosos golos sem resposta logo no primeiro jogo diante da incógnita selecção de Timor-Leste que, por sinal, foi a única delegação daquele país no evento.
No segundo jogo, a equipa da Academia Mário Esteves Coluna de Namaacha treinada pelo alemão Shacha Bahuer, ainda tentou mas em vão inverter a situação diante da Angola ao perder por 3 a 2.
A Moçambique restava apenas a honra de lutar pela penúltima posição, o que não aconteceu pois consentiu uma derrota diante do Brasil por 1 a 0, uma equipa que perdeu os dois jogos contra Cabo Verde e Portugal por 5 a 1 e 9 a 0, respectivamente. Em andebol, a procissão de futebol foi ao adro: a equipa representante de Moçambique perdeu e de todas as formas as partidas que teve pela frente.
O pontapé de saída da sequência de derrotas do país foi dado por Portugal que venceu por 42 a 17, seguido pelo Brasil pelo resultado de 31 a 11, por Angola (26 – 20) e por fim, diante de São Tomé e Príncipe, por uma diferença de três pontos. Moçambique nesta modalidade terminou também na última posição.
No basquetebol feminino, só para diversificar, o conjunto nacional terminou a prova na penúltima posição graças a uma vitória retumbante diante de São Tomé e Príncipe por 104 a 8 tendo perdido as restantes partidas com Portugal no início e com Angola no fim.
Quem tentou passar desapercebido pela medalha conquistada pela equipa feminina foram os nossos rapazes do voleibol que também não fugiram da última posição ao somarem derrotas em todas as partidas diante de Portugal, Brasil, Angola e São Tomé e Príncipe.
E foi assim feito mais um capítulo da triste novela desportiva de Moçambique para a satisfação dos que gostam de definir balizas para o sucesso no futuro. Porém, quanto a nós, resta apenas dizer: Temos de repensar seriamente no nosso desporto.