A líder pró-democracia Aung San Kyi, de Mianmar, ganhou um assento no parlamento do país neste domingo, segundo balanço do seu partido, depois de uma histórica eleição que é um teste para as reformas adotadas pelos dirigentes militares e poderão convencer o Ocidente a pôr fim às sanções ao país.
A Liga Nacional para a Democracia, partido de Suu Kyi, anunciou na sua sede que ela conquistou a cadeira pela região de Kwahmu, ao sul de Yangun (centro comercial do país), abrindo caminho para seu primeiro papel no governo depois de uma luta de duas décadas contra a ditadura. “Daw Aung San Suu Kyi venceu”, anunciou um dirigente do partido, referindo-se a Suu Kyi pelo seu título honorífico.
A Comissão Eleitoral de Mianmar ainda não confirmou os resultados das eleições parciais para o preenchimento de 45 cadeiras do Legislativo. Os Estados Unidos e a União Europeia indicaram que algumas sanções – impostas nas últimas duas décadas em resposta a violações dos direitos humanos – poderiam ser removidas se a eleição fosse livre e justa, fato que desencadeou uma onda de investimentos no país, que é pobre, mas rico em recursos naturais e faz fronteiras com a Índia e a China, potências emergentes.
A carismática e muito popular Suu Kyi se queixou de “irregularidades” na semana passada, embora nenhuma fosse importante a ponto de afetar a intenção do seu partido de disputar as 44 cadeiras. Suu Kyi não fez comentários de imediato sobre sua vitória.
Desde a madrugada eleitores fizeram fila em seções eleitorais improvisadas em escolas, templos religiosos e prédios comunitários, alguns demonstrando entusiasmo depois de depositar seu voto em favor de Suu Kyi. Entre seus eleitores em Kwahmu, poucos tinham dúvidas de que ela venceria.
“Toda a minha família votou nela e tenho certeza que todos os nossos parentes e amigos votarão nela também”, disse Naw Ohn Kyi, de 59, agricultora de Warthinkha.
Para ser digna de crédito, a votação precisa ter o aval de Suu Kyi, que foi libertada da prisão domiciliar em novembro de 2010, seis dias depois de um eleição geral amplamente criticada, a qual abriu caminho para o fim do governo militar direto e a abertura de um Parlamento formado, na maioria, por militares na ativa ou reformados.
O presidente Thein Sein, general integrante da antiga junta militar, surpreendeu o mundo com a mais dramática reforma política desde que os militares tomaram o poder em 1962, com um golpe.
O país, ex-colônia britânica, era então conhecido como Birmânia. No prazo de um ano, o governo libertou centenas de prisioneiros políticos, firmou acordos de paz com rebeldes de minorias étnicas, relaxou a censura à mídia, permitiu a atividade de sindicatos e mostrou sinais de recuar da órbita política e económica da China, seu poderoso vizinho.
Como recompensa, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, foi a Mianmar, na primeira visita de um secretário de Estado norte-americano ao país desde 1955. Muitos empresários, na maioria da Ásia, mas também muitos europeus, estiveram em Yangun nas últimas semanas em busca de oportunidades de investimento no país, que tem 60 milhões de habitantes e é uma das últimas fronteiras para novos negócios na Ásia.
A eleição foi acompanhada por observadores da União Europeia e da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean). A última eleição, em novembro de 2010, foi considerada como amplamente fraudada em favor do partido apoiado pelos militares, o Partido União, Solidariedade e Desenvolvimento, que tem a maior bancada no Parlamento.
Na época, o partido de Suu Kyi boicotou a votação.