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FAO diz que os preços da soja e do milho continuarão firmes

Os preços mundiais de cereais continuarão “muito firmes” pelo menos até o final de Abril por conta do golpe sofrido pela seca nas culturas da América do Sul e pela forte demanda na Ásia, disse, esta Segunda-feira, um alto funcionário da Organização das Nações Unidas (ONU).

A seca afectou os campos com milho e soja na América do Sul no início desta temporada, reduzindo a oferta num período de demanda asiática maior que o esperado.

A classe média emergente da China adquiriu um gosto pela carne bovina, que ficou forte apesar da desaceleração económica do país. Bifes e outras carnes exigem milho e farelo de soja para produção.

“No curto prazo, neste mês e no próximo, vamos continuar a ver os preços muito fortes. O que acontecerá a seguir vai depender do desenvolvimento das culturas e do clima”, afirmou Abdolreza Abbassian, economista sénior da FAO, braço da ONU para agricultura e alimentos, em entrevista por telefone à Reuters.

“Há alguns meses estávamos a espera dum crescimento mais lento da demanda”, acrescentou ele. “Os factores macroeconómicos estavam a fazer-nos acreditar que a demanda por uso da ração, por exemplo, cresceria num ritmo mais lento. Mas eu acho que nós sempre subestimamos o crescimento nos países emergentes, na Ásia em particular.”

Os preços globais dos alimentos estavam em alta de 1 por cento em Fevereiro ante o mês anterior, levado pelos ganhos nos cereais, óleos vegetais e açúcar, mas ainda cerca de 10 por cento abaixo da máxima recorde atingida em Fevereiro de 2011, mostrou o índice de alimentos da ONU.

“A demanda está a crescer, definitivamente, mais rápido do que esperávamos, enquanto a oferta acabou sendo menor do que o esperado”, disse Abbassian. “Colocas essas duas coisas juntas e isso explica o que está a acontecer hoje com os preços, globalmente.”

Os preços dos alimentos atingiram máximas recordes em Fevereiro de 2011, estimulando as agitações relacionadas à Primavera Árabe. Os preços caíram deste então, mas a melhora nos primeiros dois meses de 2011 tem elevado os temores de inflação.

“O facto de o preço de certas culturas estar a aproximar-se do pico do ano passado diz alguma coisa sobre a direcção e o sentimento do mercado”, disse Abbassian, do seu escritório em Roma, três dias antes da reunião regional da FAO América Latina, que acontecerá em Buenos Aires.

A ONU esperava que os preços da soja começassem a cair neste ponto do ano, enquanto a Argentina, o país maior exportador mundial de farelo e óleo de soja, começa a sua colheita 2011/12.

Porém depois da seca de Dezembro-Janeiro, que afectou muitos campos do país, o mercado continua preocupado com o clima. As condições de tempo seco estão a gerar temores na Europa, África do Norte e Oriente Médio.

“A imprevisibilidade nos preços está a aumentar”, disse Abbassian. “Se os chineses sentem que os preços do milho ainda podem subir, eles podem nos surpreender e comprar mais, o que faria os preços subirem. Considerando a agitação no mercado, isso pode levar a compras de pânico.”

“Se tivéssemos tido essa conversa há algumas semanas eu não teria nem considerado isso como estando nas cartas”, acrescentou ele.

“Os eventos das últimas semanas e o rebaixamento das estimativas de safra na América do Sul e Argentina em particular, estimularam a tendência da alta dos preços.”

O governo da Argentina espera uma safra de milho de 21,2 milhões de toneladas nesta temporada, enquanto a colheita de soja 2011/12 foi estimada em 44 milhões de toneladas.

As projecções iniciais haviam previsto o milho em 30 milhões de toneladas e a soja em 53 milhões de toneladas.

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