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Prisão israelita traumatiza crianças palestinas, diz um relatório

Das centenas de crianças palestinas detidas nas cadeias israelitas todos os anos, a grande maioria sofre com pesadelos, enurese nocturna e ansiedade depois da libertação, informou a organização Save the Children num relatório divulgado, Segunda-feira.

A organização disse que, desde o ano 2000, o Exército israelita deteve mais de 8 mil crianças palestinas na Cisjordânia ocupada e processou crianças de até 12 anos nos tribunais militares, a maioria delas suspeitas de lançar pedras.

Noventa e oito por cento das crianças detidas relataram ter sido submetidas a violência, seja física ou verbal, pelos soldados israelitas, disse o assessor da instituição Eyad al-Araj numa entrevista colectiva na Cisjordânia, uma provação que deixa cicatrizes psicológicas em quase todos eles.

“Mais de 90 por cento dessas crianças sofriam de transtorno de estresse pós-traumático”, disse Al-Araj.

O relatório sobre a detenção de palestinos menores de 18 anos pelos israelitas baseia-se numa pesquisa com 292 crianças que foram detidas e depois libertadas por Israel.

Ano passado, 2.301 crianças foram levadas sob custódia, em comparação com as 3.470 de 2010, de acordo com os dados colectados pelo grupo de direitos humanos palestino Defence for Children International (DCI).

Actualmente, há 170 menores palestinos nas prisões israelitas, disse o DCI. “A detenção tem um impacto devastador sobre as crianças, sobre as famílias delas e sobre as sociedades”, afirmou o relatório.

“As crianças sofrem os efeitos, incluindo o transtorno do estresse pós-traumático, medo de sair de casa, além dos sintomas psicológicos, como ataques de ansiedade e pesadelos. As famílias tornaram-se super-protectoras e não deixam as crianças saírem de casa”, disse o texto.

Tribunais militares

O Exército israelita diz que atirar pedras é uma infracção grave capaz de ferir ou matar. “Os meninos palestinos, por vezes de 13 ou 14 anos, atiram pedras com as mãos ou com fisgas contra carros israelitas ou veículos do Exército”, disse Arye Shalitar, porta-voz militar israelita.

“Parece que as Forças de Defesa de Israel estão  apenas a prender crianças, mas as pessoas não entendem que essas crianças são muito violentas. Em vez de jogar futebol, elas colocam em risco a vida dos israelitas.”

Na entrevista colectiva, Saudamini Siegrist, chefe do programa de protecção infantil do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), criticou o uso de tribunais militares em Israel para julgar menores palestinos.

“Em nenhum outro lugar as crianças são sistematicamente julgadas perante cortes e tribunais militares, tão inapropriados à protecção de seus direitos”, disse ele.

Ahmad Dsouqi disse ter sido preso em casa no campo de refugiados de Jalazon, perto de Ramallah, numa operação nocturna, ano passado.

Na época, tinha 16 anos. “Um grande grupo de soldados israelitas armados invadiu a nossa casa, acordou-me e arrastou-me da cama. Algemaram-me, vendaram os meus olhos e colocaram-me no jipe deles”, Dsouqi disse à Reuters.

Durante longos interrogatórios, ele foi espancado, não tinha autorização para sair e ao final foi forçado a confessar que lançou pedras contra soldados israelitas, afirmou ele.

“Os interrogadores deixavam-me na sala de interrogatório sozinho, algemado, por longos períodos, para pressionarem-me a confessar.”

Dsouqi foi condenado a 18 meses de prisão, mas cumpriu apenas metade da pena. Ele foi libertado numa troca de prisioneiros.

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