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Quando o amor supera tudo

Quando o amor supera tudo

O amor é um sentimento surpreendente. A relação de Carlos Manhiça e Paulina Manganhela é um exemplo disso. Um é portador do vírus da SIDA, mas não se viu rejeitado pelo parceiro. Muito pelo contrário, viu o amor superar todos obstáculos. Hoje, são felizes. Ainda que a sociedade não compreenda.

Paulina Elias Manganhela, de 18 anos de idade, é natural e residente no distrito de Matutuíne, sede de Bela-Vista, na província de Maputo. Estava na 5ª classe quando uma gravidez indesejada lhe fez deixar de estudar. “Quando fui à consulta pré-natal a enfermeira aconselhou-me a fazer o teste de HIV. Eu era muito nova, ingénua e facilmente aceitei fazer os exames. Foi assim que descobri que era HIV positiva.

Na altura confesso que não dei muita atenção ao que a enfermeira me informou sobre a doença e a sua prevenção, continuei com as consultas, mas não cumpri com o tratamento de Prevenção de Transmissão Vertical que devia seguir para que o meu filho não contraísse o vírus”, conta. Em 2007, Paulina deu à luz a uma menina aparentemente saudável, a quem deu o nome de Deolinda.

“Eu não fiz o teste ao bebé, com 12 meses ela começou a adoecer, levei-a ao hospital onde foi diagnosticada HIV positiva. Foi um grande choque para mim, pensei em tudo o que a enfermeira havia dito e fi quei muito triste”, recorda com as lágrimas a percorrem o seu rosto.

Mesmo com o choque, ela percebeu que a vida não parava por ali. Com a ajuda e aconselhamento do pessoal do hospital e da Associação Kupona vocacionada para a área de HIV/SIDA, ergueu a cabeça e hoje tem a sua filha a gozar, diga-se, de boa saúde, uma vez que está em Tratamento Anti-Retroviral (TARV).

O marido não é o pai da filha

Paulina Manganhela vive com o seu marido e “ele conhece o meu estado e o da minha filha, mesmo não sendo o pai biológico.

Estou muito feliz porque ele encoraja-me a continuar a cuidar de mim e da minha filha. Eu ainda não iniciei o TARV, o meu sistema imunitário está bem, pois o meu CD4 é elevado”, revela.

Dentre várias pessoas que marcaram a vida da Paulina, a conselheira Lídia, da Associação local Kupona, afi gura-se extremamente importante, porque foi ela quem fez muitas visitas à casa do casal, deixando conselhos sobre a doença e como se deviam e devem prevenir.

Carlos Manhiça é um jovem determinado. Com 27 anos, este jovem, natural do distrito da Massinga, província de Inhambane, consegue, através do seu trabalho (como pesacdor), sustentar a família.

Diariamente, Carlos faz-se ao mar nas primeiras horas do dia no seu pequeno barco. “Ao cair da tarde volto ao continente com mariscos, tais como peixe corvina, carapau, magumba, entre outras espécies. Uma parte vendo e outra é destinada à minha família”.

Embora a profissão a que se dedica há cerca de 10 amos não lhe permita sonhar, Carlos tem planos de comprar um terreno e construir uma casa digna, deixando para trás a vida difícil que leva. “Quero deixar de arrendar e ter o meu próprio tecto”.

“Tenho a certeza de que um dia estaremos na nossa casa, desfrutando dos melhores momentos que estão por vir. Aliás, um dos meus deveres é garantir a felicidade da minha mulher, Paulina, e da minha filha Deolinda, ainda que eu não seja o pai biológico dela, pouco me importo com isso”, afirma.

Quebrar o silêncio

“Quando conheci a Paulina apaixonei-me e hoje vivo maritalmente com ela, estamos juntos há dois anos. Ela sempre foi honesta comigo sobre o seu estado serológico e aconselhou- me a fazer o teste. Fi-lo e o resultado foi negativo”, confessa.

Tal como noutros casos, o casal foi aconselhado a usar sempre o preservativo nas suas relações sexuais, como forma de evitar a contaminação pelo vírus que causa a SIDA.

“Apesar desta situação, amo a minha mulher. Vivemos juntos sem preconceito, nas relações sexuais usamos preservativo, aceito-a e à filha na condição em que ambas se encontram.”, assegura.

A discriminação Mal a comunidade, amigos e familiares souberam que a jovem Paulina era seropositiva começaram a fazer apelos no sentido de Carlos se separar dela alegadamente por se encontrar numa situação de iminente risco. Mas o amor falou mais alto e Carlos não lhes deu ouvidos.

“As pessoas dizem que eu sou jovem e que devia abandonar a minha mulher por ela ser HIV positiva. Afirmam que existem mulheres saudáveis com as quais eu posso relacionar-me, mas eu respondo-lhes sempre a mesma coisa: ´eu gosto muito da minha mulher e este vírus (o HIV) está em todo o lado. Posso deixar esta mulher e envolver-me com outra que também tenha a mesma doença”.

Embora não seja o caso de Paulina, Carlos acredita que haja pessoas revoltadas com o seu estado e que, por causa disso, queiram transmitir deliberada e propositadamente a doença às outras.

“Quero oficializar a nossa relação”

Um dos planos de Carlos Manhiça é, a curto prazo, ofi cializar a relação que mantém com a jovem Paulina há mais de 5 anos. “Sei que não temos condições, mas eu quero casar-me com ela para mostrar às pessoas que o HIV não deve ser motivo para nos afastarmos das pessoas. Ela foi a mulher que eu escolhi e nada nos vai separar”, promete.

O sonho de ter (mais) um filho

Paulina Manganhela disse que nas conversas com a conselheira durante as suas visitas à sua casa, ela e o marido sempre pergunta(va)m se podem ter um filho naquelas circunstâncias e a resposta tem sido encorajadora.

“A conselheira diz que temos de ir ao hospital ter com a médica e apresentar a preocupação. Gostaríamos de ter (mais) um filho e prometemos seguir à risca todas as orientações médicas.

O que mais queremos é que os nossos filhos nasçam e cresçam saudáveis. Se disserem que não é possível, não vamos insistir”. Actualmente, o casal faz parte de um grupo de pessoas a viver com o HIV/SIDA na comunidade em que reside.

Embora o marido não esteja infectado, ele filiou-se apenas para fazer companhia à esposa e, quiçá, servir de exemplo para aqueles que discriminam o seu parceiro, parente ou conhecido só por ser seropositivo. “Não desprezem as suas esposas que estejam infectadas, muito menos os filhos, eles não têm culpa.

As pessoas podem não saber mas o que este grupo precisa é muito simples: carinho, afecto, amor e atenção. Quem vive nesta terra está propenso a contrair esta doença”, apela a terminar.

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