A calma regressou nesta sexta-feira a cidade de Nampula, capital da província com o mesmo nome, depois dos confrontos de quinta-feira envolvendo agentes da lei e ordem e ex-guerrilheiros da Renamo que estavam aquartelados na sede do maior partido da oposição em Moçambique.
Até ao final da manhã de hoje o nosso repórter confirmou duas vítimas mortais – um agente da Força de Intervenção Rápida (FIR) e um dos homens da Renamo. Não foi possível verificar os alegados sete agentes da FIR mortos referidos pelo comandante da guarda pessoal de Afonso Dlakhama.
Existe um número não especificado de feridos ligeiros e 35 ex-guerrilheiros da Renamo estão detidos no comando da PRM em Nampula.
O Assalto a sede da Renamo
Segundo o nosso repórter em Nampula, a Polícia da República de Moçambique (PRM), apoiada por agentes FIR e do Grupo de Operações Especiais (GOE), tomou de assalto a sede política da Renamo, depois de nas primeira horas da Quinta-feira, na altura em que os agentes da Polícia que faziam a troca de turnos, terem sido provocados violentamente pelos antigos guerrilheiros da Renamo.
A polícia respondeu e seguiu-se a troca de tiros, reforço de agentes da lei e ordem na zona – o nosso repórter estima em cerca de 100 agentes entre PRM, FIR e GOE – que culminou com o assalto a sede que servia de quartel destes homens da Renamo.
A polícia usou também disparou gás lacrimogénio para o refúgio dos antigos guerrilheiros da Renamo tendo estes saindo em debandada do local. Há indicação de vários haverem-se escondido em residências e outros locais do bairro de Muatala, por sinal um dos mais populosos da cidade de Nampula, e outros terão se refugiado na residência do líder do partido, Afonso Dlakhama, que situa-se na rua das Flores a poucos quarteirões de distância.
Dlakhama mandou não disparar
O nosso repórter falou com quatro ex-guerrilheiros da Renamo, detidos agora no comando da PRM em Nampula, e apurou que todos foram chamados pelo líder do partido, Afonso Dlakhama, com a promessa de solução definitiva para a sua desmobilização – segundo eles foram desmobilizados depois do acordo de paz mas não receberam nada – e ainda um possível compensação monetária pelos anos de serviços prestados. Os detidos revelaram que durante a sua permanência na cidade capital norte de Moçambique recebiam um subsídio do partido.
Um dos detidos confirmou as indicações de que alguns dos ex-guerrilheiros que permanecem desde Outubro na sede do partido, na rua dos Sem Medo, terão perdido a vida mas não precisou quantos nem as circunstâncias das alegadas mortes.
No entanto os detidos confirmaram a permanência do cidadão Emane Puantua, na sede do partido, mas afirmaram que ele gozava de alguma liberdade e existem ordens claras do líder do partido para o manterem bem alimentado e limpo.
Ainda segundo estes ex-guerrilheiros, ora detidos, Afonso Dlakhama sempre proibiu os seus homens de dispararem sob qualquer pretexto, daí não entenderem os confrontos de hoje.
Informações de última hora indicam que Afonsa Dlakhama já não está na sua residência oficial em Nampula, na rua das Flores. Não se sabe do seu paradeiro.
Entretanto as várias forças da lei e ordem bloquearam todos os acesso à rua das Flores, onde se situa a casa do líder da Renamo, e onde terão se refugiados os restantes homens do partido que fugiram da sua sede política, tomada de assalto esta manhã pela PRM.
Mais do que um morto na FIR
No início da tarde desta Quinta-feira o partido Renamo chamou os jornalistas em Nampula, para um instância hoteleira, onde informou que o líder do partido trocou mensagem telefónicas com o Presidente da República, Armando Emílio Guebuza. Segundo o Comandante das forças da Renamo, Simão Buti, o Presidente Guebuza enviou uma mensagem a Afonso Dlakhama pedindo desculpas pelo assalto das forças polícias à sede da Renamo e pediu ao líder para “apaziguar os seus homens e não responderem (à forças da lei e ordem)”.
Ainda segundo Buti, o líder da Renamo quis sabes do Presidente da República quem deu ordem de ataque e pediu um encontro pessoal entre os dois. Segundo a fonte um pouco por todo o país os membros e simpatizantes da Renamo querem “rebentar” mas Dlakhama recusou-se a retaliar e tranquilizou a todos afirmando que aguarda uma resposta de Armando Guebuza sobre o encontro que propôs.
Entretanto o Comandante da guarda da Renamo referiu que dos confrontos desta manhã resultaram sete mortos nas fileiras da FIR e não apenas um como foi referido pela PRM. Segundo Buti, do lado dos seus homens apenas dois ficaram feridos.
O nosso repórter em Nampula dirigiu-se ao Hospital provincial para apurar o número real de mortos e de feridos mas todo o pessoal médico tem instruções superior para não proferirem declarações relacionadas com os feridos e/ou mortos nos confrontos de hoje. Contudo o nosso repórter conseguiu saber que há mais do que um morto.
Noite tensa
Pouco depois da 18h10 o nosso repórter afirma que foram ouvidos dois tiros, aparentemente de uma arma do tipo AK 47, provenientes da residência de Afonso Dlakhama onde estarão os restantes ex-guerrilheiros da Renamo que esta manhã fugiram da sede do partido, que foi tomada de assalto pela polícia.
No local, na rua das Flores, o nosso repórter descreveu a existência de um grande aparato policial, quase de guerra, dois carros blindados, três carrinhas Toyota ranger e mais de 50 homens fortemente armados entre agentes da PRM, FIR e GOE.
Às 21h23 o nosso jornalista foi detido durante 30 minutos por agentes do GOE enquanto procurava averiguar a situação tensa que se vivia na rua da Flores.