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Um cemitério na iminência de desaparecer em Nampula

Um cemitério na iminência de desaparecer em Nampula

Um dos maiores e o mais antigos cemitérios da cidade Nampula, denominado por Muanhua, localizado no bairro de Namutequeliua, no Posto Administrativo de Muhala, tem quase a metade do espaço ocupado com a construção de habitações como resultado de venda de campas a módica quantia mínima de 50 meticais por cada sepulcro, num esquema envolvendo os chefes dos quarteirões, secretário do bairro e funcionário do Município.

Os moradores de Namutequeliua e alguns familiares dos finados sepultados no cemitério de Muanhua, arredores da cidade de Nampula, acusam o grupo dinamizador do quarteirão 13, Unidade Comunal Miriam Nguabi, de vender aos pedaços aquela que é considerada a última morada do ser humano.

Trata-se do chefe do quarteirão 13, Ismael Maconde, secretário da Unidade Comunal, Laura Frederico, e alguns fiscais e técnicos da área de Urbanização do Conselho Municipal da Cidade de Nampula. O preço das campas varia entre 50 e 150 meticais cada, dependendo da condição financeira da pessoa que pretende o espaço. O negócio é feito de forma clandestina, razão pela qual não é fornecido ao comprador qualquer declaração de propriedade do terreno. Aliás, importa referir que também o espaço 10 por 15 metros pode ser cedido a cinco ou 10 mil meticais.

Adelino Pires, de 33 anos de idade, casado e pai de três filhos, diz ter obtido o espaço a 1800 meticais em 2000 através do um grupo dinamizador e com o aval dos funcionários do município. Na altura da aquisição, o local estava repleto de campas e viu-se obrigado a construir um muro de vedação.

Em 2005, começou-se a registar confrontos entre os compradores dos espaços, secretários do bairro, familiares dos finados ali sepultados e funcionários do município de Nampula sobre a venda de campas, o que levou à criação de um grupo de inquérito envolvendo vereadores, chefe do Posto de Muhala, entre outros funcionários, com objectivo de descobrir os vendedores, porém, até hoje não se chegou a nenhuma conclusão.

Madalena António, de 42 anos de idade, casada e mãe de dois filhos, construiu a sua habitação no centro do cemitério Muanhua. Em contacto com a nossa reportagem, ela disse que obteve o espaço em 2007 ao preço de cinco mil meticais, através de um grupo constituído pelas autoridades do bairro.

Madalena afirmou que não tem medo de viver entre as campas com os seus filhos, uma vez que não outra opção devido à falta de dinheiro. “Não tenho para onde ir, este foi o único espaço que consegue com o pouco dinhero que tinha”, justificou-se. Izuera Vicente, 17 anos de idade, disse que reside no cemitério por falta de espaço. Aliás, contou que todas às noites tem sonhado com a sepultura de cadáveres naquela que é considerada a última casa do ser humano.

Izaera acrescentou que cada dia que passa o local é ocupado por diferentes famílias. A maioria contrata os serviços de algumas pessoas para demolir as campas e construir a sua habitação.

Clara António, casada e mãe de dois filhos, contou que viver naquele cemitério não tem sido fácil, sobretudo devido aos confrontos que alegadamente tem enfrentado com os familiares dos defuntos ali sepultados, uma vez que não nenhuma documentação comprovando a aquisição do espaço.

Divisão dos espaços no cemitério

Num outro ponto algumas fontes contactadas pela nossa reportagem informaram-nos que grande parte das campas localizadas no cemitério Muanhua já foi dividida entre os chefes dos diferentes quarteirões daquele bairro, principalmente Laura Frederico, Ismael Maconde, Landinho Ali Abdala, e funcionários do Município de Nampula afectos no Posto Administrativo de Muhala.

Uma fonte anónima residente naquele bairro informou-nos que aqueles autoridades locais já criaram uma equipa de pessoas responsáveis na agariação de clientes para a compra dos espaços. Aliás, acrescentou ainda que todo o processo é do conhecimento da edilidade, porém, nada fazem em respeito aos mortos e as famílias. “Todos fins-de-semana têm estado aqui os tais chefes como se fosse familiares dos defuntos. Aliás, vezes há em que os mesmos fazem limpeza nas campas”, contou.

A nossa fonte mostrou-nos 10 casas construída sobre campas e a sua construção foi possível graças à chefe do quarteirão Laura Frederico. “Ela não é única que tem casa neste cemitério”, disse.

Chefes dos quarteirões ameaçam jornalista

A nossa reportagem procurou as autoridades do bairro para ouvir a sua versão em relação à acusação de venda de campas no cemitério para construção de habitações, porém, um grupo de cinco chefes do quarteirão de Namutequeliua ameçou processar o repórter do @Verdade em caso de publicar o artigo sobre o assunto.

“Trabalho aqui desde 1997 como secretário do quarteirão 13, Unidade Comunal Miriam Nkwabi, bairro de Namutequeliua, Zona verde, Posto Administrativo de Muhala. Caso eu perca este mandato, o senhor vai-sever comigo e outros chefes do quarteirão”, ameaçou Ismael Maconde.

Maconde disse, num outro ponto, que ele não vende as campas, mas sim um pessoal ligado ao Município de Nampula. “Mas atenção não apontei a ninguém e a nenhum chefe, mas sim são vendidos, ou não vai procurar saber com o chefe do Posto Administrativo Urbano de Muhala”, disse.

Laura Frederico, detentora de 10 casas naquele cemitério, defendeu-se dizendo que o seu esposo terá adquirido o talhão em 2009, depois de o dono do espaço no qual construíram as habitações ter perdido a vida.

Entretanto, tentamos sem sucesso ouvir o chefe do Posto de Muhala. Apesar de termos marcado uma entrevista, a mesma nunca chegou a acontecer, uma vez que nunca estava no seu local de trabalho. Procuramos colher o parecer da vereação que vela pelos assuntos sociais e cemitérios, também não nos foi possível.

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