John Kenneth Knaus, um agente da CIA que forneceu armas aos tibetanos durante a Guerra Fria, relatou que a Agência de Inteligência americana foi a primeira a saber da fuga para o exílio do Dalai Lama graças a informações transmitidas por um sistema de rádio pelos mais próximos assessores do líder budista.
Em março de 1959, quando a feroz repressão dos tumultos de Llassa obrigou o jovem Dalai Lama a fugir de sua capital antes de atravessar o Himalaia a pé, Knaus treinava rebeldes tibetanos em um campo da CIA em Colorado (oeste dos EUA).
Os serviços de inteligência americanos não participaram da preparação da operação, organizada pelos próprios tibetanos, garantiu Knaus. Contudo, a CIA acompanhou a fuga muito de perto, graças aos emissores de sinais de rádio de que dispunham os mais próximos assessores do Dalai Lama.
“Ficamos a saber (da fuga) antes de todos”, afirmou Knaus. O presidente dos Estados Unidos, Dwiht Eisenhower, pôde desta forma se manter constantemente informado do percurso do Dalai Lama e de seus assessores até a fronteira.
“O presidente tinha uma carta na qual acompanhava os movimentos de Sua Santidade com uma caneta”, revelou. John Kenneth Knaus, que tem hoje 85 anos e vive na periferia de Washington, entrara em contato um ano antes com exilados tibetanos quando a CIA lhe pediu que apresentasse a eles um balanço das relações entre a China e a União Soviética.
“Eles não pareceram muito interessados”, lembrou Knaus, contando que seus interlocutores o convidaram para uma festa de Ano Novo em seu campo de treinamento, regada a muito licor de montanha.
“Adorei os tibetanos logo de cara. Eles são tudo o que se espera deles: abertos, amigáveis, persistentes, leais e muito teimosos”, relatou.
A CIA forneceu armas aos rebeldes tibetanos até 1968, ou seja, quatro anos antes da reaproximação sino-americana concretizada pela visita a Pequim do presidente Richard Nixon, em 1972. Centenas destes rebeldes foram treinados em táticas de guerrilha nos Estados Unidos, e depois no norte da Índia, onde o Dalai Lama instalou seu governo no exílio.
O agente da CIA disse-se muito surpreso com a frieza mostrada pelo Dalai Lama no primeiro encontro entre os dois, em 1964. “Não entendi. Me apresentei praticamente como um discípulo. Conhecia centenas de tibetanos, e os amava.
Fiquei, portanto, muito decepcionado”, contou. “Demorei a entender que, do ponto de vista dele, eu representava o problema. Nós fornecíamos armas a seu povo, portanto, apoiávamos a violência, algo que ele não podia aceitar”, explicou Knaus.
“Gostaria de estar convencido de que a ajuda militar americana serviu para alguma coisa. Essa ideia de socorrer os fracos e oprimidos era muito americana” na época, concluiu.