O reformado Arcebispo da Beira, Dom Jaime Pedro Gonçalves, na sua despedida da vida sacerdotal deixou ficar a sua preocupação em relação a permanência de homens armados da Renamo no distrito de Marínguè, norte da província de Sofala.
Dom Jaime é conhecido pela sua persistente contestação ao regime da Frelimo. Além de influente dirigente da Igreja Católica em Moçambique, Dom Jaime Gonçalves também tem notabilidade na vida política nacional, principalmente a partir da altura em que tornou-se principal mediador do conflito armado que opôs a Renamo e o antigo regime da Frelimo.
Desde a celebração do Acordo Geral de Paz, também conhecido por Acordo de Roma, em Outubro de 1992, Dom Jaime Gonçalves tornou-se um defensor incansável da Paz em Moçambique.
Por várias vezes nas suas intervenções criticou o governo da Frelimo de não estar a cumprir absolutamente o Acordo de Roma em defesa da Renamo.
Uma das maiores exigências que fazia é o cumprimento do capítulo que preconiza a integração dos antigos militares da Renamo no exército e na polícia nacional.
Essa exigência, vezes sem conta, foi interpretada como dando razão a Renamo que mantém homens armados em Marínguè, alegadamente a espera da sua integração no exército ou na polícia ou ainda da sua reinserção social digna.
Afinal de contas, não era bem assim. No fundo, Dom Jaime carregava igualmente preocupação pelo facto de a Renamo manter homens armados em Marínguè, uma preocupação que nunca havia tornado pública mas que deixou escapar no dia da sua despedida da vida sacerdotal, há dias na cidade da Beira.
“É meu desejo e de muitos ver a nossa província de Sofala e o país em geral crescerem num ambiente de harmonia. Nos dias que correm não se justifica termos homens armados em Marínguè. Isto não nos leva a parte nenhuma. Caríssimos irmãos, temos de mudar de mentalidade e ajudar os nossos queridos irmãos em Cristo” – destacou Dom Jaime, 20 anos após mediar o conflito armado entre a Frelimo e a Renamo.
Entretanto, alguns analistas na cidade da Beira consideram as afirmações de Dom Jaime uma autêntica mudança de discurso.
Dom Jaime é tido como quem sempre deu razão a Renamo na discussão sobre a manutenção de seus homens armados em Marínguè, alegando que o Acordo de Roma impunha a integração de antigos militares da Renamo no exército e na polícia.
Seja como for, entende-se que o novo discurso de Dom Jaime é bastante oportuno para a estabilidade do país.
Os mesmos defendem que, embora tendo sido feito tardiamente, não deixa de ser importante para a mudança de comportamento a nível da liderança da Renamo, uma liderança que sempre granjeou simpatia e protecção da parte de Dom Jaime.
“É um discurso que considero bem vindo e vai ajudar sobremaneira a isolar a teimosia da Renamo de manter homens armados em Marínguè. Oxa-lá Dom Jaime seja percebido” – afirmou um analista na Beira que não duvida da reacção da Renamo brevemente.
Dom Jaime Gonçalves, refira-se, reformou-se aos 75 anos de idade – conforme preconizam os mandamentos da Igreja Católica.
Ele é natural de Barrada, no distrito do Búzi, província de Sofala, onde nasceu e frequentou o ensino primário antes de se transferir para a cidade da Beira onde prosseguiu os estudos.