O casal Agostinho Mussa, de 53 anos de idade, nascido aos 8 de Fevereiro de 1958, natural de Mualama, distrito de Pebane, província da Zambézia, e Carlota Bernardo Pauleque, de 41 anos de idade, nascida aos 12 de Dezembro de 1971, natural do Nampula-Rapale, é exemplo de uma relação feita de muitos sacrifícios, privações e compreensão. Apesar de viver na pobreza, o amor, como sempre, fala mais alto.
Residente no Posto Administrativo Urbano e bairro de Muatala, na Unidade Comunal Micolene, o casal viu a sua vida transformou-se em apenas uma, resultado da união tradicional que aconteceu no longínquo ano de 1988 na cidade de Nampula e, hoje orgulha-se de ter os seus seis filhos e cinco netos.
Este casal, ao contrário de muitos outros, faz da sua vida uma verdadeira alegria, que o leva a viver num amor fraternal e cheio de alegria e paixão. Aliás, à mercê da fome e todos os outros males, Agostinho e Carlota não se deixaram vencer pelas intempéries da vida, tendo lutado com dificuldades sem fins para criar e educar os seus filhos.
“Perdão, tolerância e paciência entre o casal é o segredo para se continuar a levar uma vida a dois durante muito tempo”, revela o casal que divide o mesmo tecto há aproximadamente 25 anos.
“Deve haver respeito acima de tudo”, acrescenta Agostinho Mussa para depois dar a palavra à sua esposa para contar a história do casal. Não se fazendo de rogada, Carlota Pauleque começa por dizer que a sua maior satisfação é nunca se ter separado do seu marido desde que o conheceu, apesar de ter passado por alguns problemas que quase arruinaram a família.
“Não há relação sem problemas, mas, com a força de Deus, superámos todas as situações e hoje vivemos numa união permanente”, comenta.
Carlota diz que o seu sonho é viver ao lado do seu marido para sempre, uma vez que, nos últimos anos, “não existem homens para casar mas sim para assinar contratos temporários e casamentos fantoches”. Afirma ainda que não é fácil manter o laço marital pois ao longo do casamento existem alguns problemas.
Quando questionada sobre o principal obstáculo que teve de enfrentar, esta (depois de uma pausa demorada, como quem não quisesse voltar a falar do assunto) respondeu o seguinte: “O meu esposo envolveu-se com uma outra mulher e tentou sair de casa”.
A relação nem sempre foi um mar de rosas. Ao longo dos anos, o casal discutia por tudo e por nada. O ambiente no lar era de um mal-estar quase insuportável. Mas tudo foi superado através do diálogo. Chegada tardia à casa por parte do homem e atraso na preparação das refeições por parte da mulher foram algumas das principais causas dos constantes desentendimentos entre os cônjuges.
“As nossas discussões começavam e terminavam no nosso quarto”, afirma e assegura que continua a amar o seu esposo com o mesmo fulgor do primeiro dia em que se conheceram.
Agostinho Mussa diz que não esperava continuar até presentemente com a mulher que conheceu há 24 anos, pois teve de ultrapassar todos os tipos de problemas e chegou ao ponto de se arrepender de se ter casado.
Ele conta que uma vez abandonou a esposa para viver com uma outra mulher durante quatro semanas, mas, devido aos conselhos que recebeu acabou por voltar para casa. Mussa justifica-se afirmando que os casos que se sucederam na sua vida deveram-se a tentações que a vida às vezes apresenta.
O primeiro encontro
Na adolescencia, Agostinho Mussa pensava em casamento, mas não podia porque ainda era um adolescente e era necessário que primeiro se dedicasse à agricultura ou arranjar emprego como empregado doméstico para formar família. Aos 21 anos de idade, casou-se e, devido a situações ligadas à guerra civil acabou por se divorciar, pois havia sido solicitado para cumprir o serviço militar.
Quando regressou da vida militar, conheceu Carlota Pauleque tendo pedido a sua prima para que fosse falar com ela sobre as suas intenções. Depois de vários contactos, decidiram encontrar-se e comunicar a situação aos pais dela, tendo estes aceitado o pedido do jovem Agostinho que se gaba de ter sido o rapaz mais querido pelas raparigas do seu bairro.
Problemas financeiros
A falta de dinheiro tem sido um problema sério na vida do casal, mas isso não faz com que o amor vapore do seu lar. Mussa não tem emprego fixo, vive do que consegue diariamente. “Passamos por momentos difíceis e outros bons, mas, na verdade, temos vivido mal”, diz Carlota Pauleque que acrescenta que não é só o dinheiro que faz com que haja amor e carinho.
14 de Fevereiro
O casal não está indiferente em relação ao Dia dos Namorados que se celebra nos dias 14 de Fevereiros de cada. Ambos afirmam que esta data significa união, nascimento e rejuvenescimento do seu amor, amizade e confiança.
Carlota Pauleque olha para a data como uma alavanca para fortificar o seu amor e recordar os velhos tempos, tendo referido que todos os anos, principalmente nos dias dos namorados, têm-se deslocado para um restaurante ou jardim para recordar os velhos tempos onde aproveitam para beber sumo e passear.
Aliás, esporadicamente o casal organiza um piquenique como na sua juventude. “O meu esposo tem dado presentes. Recordo-me de que no ano passado ele ofereceu-me duas capulanas, um par de chinelos e roupa interior”, lembra. Para Mussa, é hábito sair e andar pelas ruas de mãos dadas.
Amor de hoje
Para aquele casal, o amor e os casamentos de hoje em dia são na sua maioria comércio, troca de dinheiro ou bens materiais. Agostinho Mussa afirma que actualmente poucos são os casos em que alguém se casa com uma mulher ou um homem sem que o objectivo seja apoderar-se dos bens de que aquela pessoa dispõe.
“O que existe hoje é a troca de serviços. Ora vejamos: hoje você vai para a casa dos seus sogros por um tempo e sem dinheiro, põem-te a correr porque nada fazes para o melhoramento das condições de vida da família da sua amada”, diz e acrescenta: “Daí a existência de muitos relacionamentos que terminam prematuramente”.
Outra situação que preocupa aquele casal é o facto de os jovens de hoje não pautarem por uma boa conduta, tanto do namoro como do casamento. “Actualmente o jovem quando gosta de uma moça não procura falar com os pais dela, começa logo a namorar. Mais tarde, quando ela estiver grávida é que se sabe que afinal eram namorados”, comenta.
Desejos
O desejo do casal é ver todos os moçambicanos a viverem o verdadeiro amor, sem traição e que unam as suas famílias para lutarem contra todos os males como a pobreza, doenças, entre outros males. Tambem é ver os seus filhos formados e casados.