Joaquim Sendela e Raquel Julião, de 79 e 76 anos respectivamente, formam um casal de idosos com muita história para contar, cuja vida a dois dura há 46 anos, o lhes confere legitimidade suficiente para passar o testemunho e deixar conselhos para as presentes e futuras gerações.
Não sabem ao certo quando é que se conheceram. Joaquim tem apenas uma referência para contar os anos da relação: o seu filho que nasceu logo após o casamento.
A idade não lhes roubou nada daquilo que a juventude lhes concedeu algum dia. Raquel continua sendo a menina dos olhos de Joaquim. “Ela é tudo o que eu tenho na vida”, confessa Joaquim.
Afinal qual é o segredo?
O casal diz que no mundo todos estamos sujeitos a diferentes pressões para que nos afastemos de quem mais amamos. Para eles, o importante não seria ligarmo-nos às pressões que importunam, mas sim aos valores que tornam o amor mais firme. Dentre eles a paciência, a humildade e a mansidão.
“Actualmente, os jovens desprezam esses valores, quem os cumpre atribuem-lhe nomes, daí que surgem situações escandalosas, de pessoas que se casam hoje e amanhã se separam. Sem paciência é quase impossível conviver com qualquer que seja o parceiro”, consideram.
“Nos nossos tempos também havia muita rebeldia e alguns desses preceitos não eram observados, talvez tenha sido por isso que os homens acabavam por se envolver com muitas mulheres, mas agora a situação piorou. As relações amorosas são de pouca duração e o sexo tomou a dianteira”, reiteram.
Para a vovó Raquel, como é carinhosamente tratada na comunidade, as raparigas precisam de se valorizar, sem isso as relações tornam-se sem perspectivas. Conta que nos tempos, as mulheres guardavam-se para um único homem sem esperar nada em troca, fora o afecto.
“A mulher quando se unia a um homem jurava diante de todos que serviria a ele e à sua família, o que hoje já não acontece, alegadamente devido à emancipação. A emancipação da mulher sempre existiu mas isso não nos dava o direito de afrontar os nossos maridos” conta Raquel.
Recorrendo ao conhecimento religioso que possui, Raquel diz que a formação da mulher através da costela do homem, como reza a Bíblia, mostra o valor que esta tem na vida do outro. “A mulher não foi feita da cabeça para que não se considerasse superior em relação ao marido, nem dos pés deste para que não fosse espezinhada, mas da costela, para que possa ser abraçada, amada e protegida, cabendo a ele responder de igual forma a estes estímulos”, disse Raquel.
Joaquim, por outro lado, aponta para a falta de diálogo entre os parceiros como sendo a causa da não durabilidade das actuais relações. Para ele, é necessário que os jovens arranjem tempo para conversar sobre as suas necessidades, os seus desejos, sonhos e muito mais, antes de se envolverem em relações sexuais, porque quando o contrário acontece, ou seja, quando se descobre a incompatibilidade entre ambos depois da relação sexual, é mais fácil afastar-se, principalmente para o homem.
Sexo no tempo certo
Joaquim admite que seria escandaloso dizer a um “jovem de hoje” que deve começar a vida sexual no tempo certo, ou seja, depois do casamento. Por isso, diz que há muita coisa a fazer antes de se correr para o sexo, dentre as quais a necessidade de se conhecerem.
Na sua experiência com a sua esposa Raquel, Joaquim diz que a vida sexual só veio mais tarde e com um objectivo bem desenhado: fazer o filho que têm.
“O sexo deve ser praticado no tempo certo, foi assim que nós conseguimos unir-nos e mantermos uma relação saudável que dura até hoje” disse. Na percepção do casal, a prática do sexo antes do casamento mina a relação porque, depois, quando se vai à lua-de-mel, não há algo de novo para mostrar ou surpreender o parceiro.
“O que mais prende o homem à sua esposa são os mistérios que esta vai revelando no dia-a-dia, quando esta esgota os mistério, então fica vazia e o homem procura outra que faça a mesma coisa”, segredou-nos Raquel.
A nossa fonte foi mais longe ao afirmar que “o sexo pode ser usado para prender o homem, por isso devemos saber cuidar dele e fazê-lo de forma certa, na certeza de estar a oferecer o que o nosso parceiro mais busca”, revela Raquel. E acrescenta: “Nós saíamos à busca de conselhos de modo a fortalecer a relação. Hoje isso não acontece, as pessoas aconselham-se nas novelas e opiniões de gente inexperiente.”
Por seu turno, Joaquim diz que a falta de atenção a cada coisa que interesse o parceiro é um mal que deteriora a boa convivência do casal. É preciso saber do é que o teu namorado ou namorada gosta, não só no contexto sexual, mas também no que concerne à alimentação, roupa e mais detalhes aparentemente mínimos”
Palavras que cativam
Na percepção do casal, há um conjunto de palavras cativantes e que nos dias que correm têm sido relegadas para segundo plano. “São essas palavras que, independentemente da idade, tocam o coração”.
O casal aponta para a palavra desculpa como sendo a chave da sua longa relação. “A cada dia, nós estamos sujeitos a erros e precisamos de reconhecer isso, bastando para isso pedir perdão de forma muito humilde”, disse Joaquim.
Eles são da opinião de que os homens devem estar sempre em sintonia com esta palavra (desculpa), porque, no seu entender, estes são os que mais erros cometem e quando tomados pelo machismo, não pedem perdão às suas parceiras, ainda que tenham consciência da dimensão do seu ‘pecado’.
Diz ainda que saudar a esposa ao acordar e desejar-lhe bons sonhos antes de dormir são formas tradicionais, mas também servem para apimentar mais a relação. “O homem precisa de paciência e dedicação da esposa, enquanto esta precisa simplesmente de atenção, de saber que alguém, neste caso o parceiro, tem consciência de que ela existe.