Manter um casamento por muitos anos não é algo utópico, que o diga o casal Zandamela, que celebrou as bodas de ouro (50 anos) no dia 30 de Dezembro do ano passado, cuja relação começou no longínquo ano de 1959, quando Salomão Zandamela, aluno do ensino primário, se apaixonou pela sua colega Melta.
Porém, a jovem Melta não deu conta de que tinha um admirador (diga-se, secreto), daí que Salomão tenha decido falar com ela. A oportunidade para tal surgiu aquando do casamento do seu irmão, Moisés, em 1956. Na cerimónia, Salomão ficou mais ficou mais certo dos seus sentimentos e das suas intenções de se casar com com Melta, que, por sinal, era corteja.
Pelos usos e costumes da região de Zandamela, Inhambane, de onde são originários, depois do casamento, o marido ficava na casa dos sogros durante duas semanas com a sua esposa. O irmão do Salomão não podia ser a excepção. Nesse período, não faltaram visitas aos recém-casados e Salomão começou a frequentar a “nova casa” do irmão, por sinal casa da Melta, o que fez com que esta percebesse as intenções do jovem encantado.
Foi nessa altura que ele a pediu em namoro, ao que esta aceitou. As famílias anuíram e em 1959 foi realizada a cerimónia de apresentação. No ano seguinte foi a vez do lobolo e no dia 30 de Dezembro os familiares e a comunidade de Zandamela testemunharam ao enlace matrimonial de ambos, acto decorrido na Igreja Anglicana, Congregação de São Pedro e Paulo de Chiundzine.
O casal tem oito filhos (o mais velho tem 50 anos e o mais novo 35), 18 netos e três bisnetos. Hoje, Salomão e Melta contam com 71 e 68 anos, respectivamente.
Como é que foram os primeiros dias de casados?
Não tivemos muitos problemas porque crescemos num ambiente religioso. A minha esposa sabia cozinhar, engomar, lavar a roupa e fazer todos os trabalhos domésticos. Tivemos a sorte de ter tido aulas de Educação Moral na escola.
Muitos discutem porque, nos primeiros dias, a mulher encheu sal na comida, preparou de uma forma diferente o prato preferido do marido, pôs vinco nas calças ou porque não sabia que o marido não gostava de um certo tipo de ingrediente. Isso revela que os dois não tiveram tempo para se conhecer ou que não aprenderam o suficiente para formar um lar. Felizmente, nós não passámos por isso.
Qual é/foi o segredo para manter um casamento por muito tempo?
O maior e principal segredo é kufelelana, que significa respeitar o outro, ter tolerância e estar preparado para perdoar sempre que o outro cometer um erro. O segundo está intrinsecamente ligado à religião. A religião ajuda-nos a ser tolerantes e a agirmos com serenidade.
Já passaram por di culdades que pudessem abalar a vossa relação?
Claro, todo aquele que navega sujeita-se às ondas. Isso não falta. O que os casais devem fazer é gerir esses problemas e não permitir que eles afectem a relação.
Como foi criar os oito lhos?
Foi difícil, mas graças a Deus e à herança religiosa, conseguimos. Podemos afirmar que estamos felizes com os filhos que temos, eles são o nosso motivo de alegria.
Que ensinamentos transmitem a eles?
O maior exemplo que nós damos somos nós, é a nossa relação. Se eles estão casados hoje foi graças ao esforço que fizemos no sentido de os tornar parte da sociedade. Nós somos as suas referências.
Como é que olham para a sociedade actual?
Já não há respeito. A sociedade mudou e isso trouxe as suas consequências. Não queremos com isso dizer que ela deve ser estática. Há valores que se perderam. As mudanças devem ocorrer mas é preciso aproveitar apenas o lado positivo das coisas. Os jovens chamam-nos de velhos, caducos, ignoram os nossos ensinamentos.
Porque é que as relações de hoje não duram muito tempo?
É necessário que as pessoas encarem o casamento como um compromisso não só para com o parceiro, mas também para com a sociedade. Na cerimónia, os cônjuges comprometem- se a viverem juntos até que a morte os separe, isso deve ser cumprido. E a separação não só prejudica o casal.
O pior acontece quando há filhos no meio. Os pais passam a disputá-los. O pai, quando está com o fi lho, diz que a mãe não presta e a mãe diz o mesmo. Mas também há mulheres que por vezes provocam esses problemas. Não respeitam o marido porque ganha menos, estudou mais. Esquecem-se de que a relação é feita de sentimentos e não de diplomas, dinheiro.
E qual é o vosso conselho para que tal não aconteça?
Para os recém-casados, haja tolerância. Não respeitem o outro em função daquilo que tem ou que pode oferecer. Dêem-se tempo para dialogar. Como a vida urbana é muito corrida, os parceiros já não têm tempo para conversar, discutir sobre a relação, acompanhar o crescimento do filho.
Ambos saem cedo para trabalhar, voltam tarde, cansados e por vezes não passam as refeições juntos, só se vêem quando estão a dormir. Resultado: os filhos crescem sem referências e quando isso acontece, a tendência dos pais é trocar acusações, responsabilizar o outro por isto mais aquilo.
Não substituam o amor por bens materiais. Abdiquem do álcool, das drogas e/ou cigarro e dediquem-se mais à família. Verão que as coisas vão andar nos trilhos. Há quem leva uma vida feliz porque segue estes conselhos.
O que têm a dizer em relação ao 14 de Fevereiro, dia dos namorados?
Não esperem (os) pelo dia 14 de Fevereiro para renovar o compromisso de nos amarmos para sempre. Isso é algo que as pessoas devem fazer de uma forma contínua. O dia dos namorados foi convencionado apenas por mera formalidade, assim como existe o dia do abraço. Não quer dizer que não nos devemos deixar de abraçar até chegar aquele dia.