Não restam dúvidas de que uma das maiores virtudes da Canção Popular Moçambicana, a Marrabenta, é a exaltação do amor. Nesta perspectiva, no seu encerramento o que acontecerá na cidade da Beira a 11 de Fevereiro o V Festival Marrabenta associa-se às festividades da semana de São Valentim para estimular os moçambicanos a amarem uma das relíquias da nossa cultura, a Marrabenta.
Na verdade a festa será beirense. Basta que se tenha em conta os artistas locais que, na noite de 11 de Fevereiro, irão dar corpo ao cardápio musical do último concerto público (de acesso grátis) do Festival Marrabenta. Refere-se a músicos como Madala, Helena Macamo, Paula Augusto, Jorge Mamade, João Sutho, e Mitchini Band. Esta é a lista que o “Laboratório de Ideias”, a entidade mentora da iniciativa, nos apresentou.
No entanto, @Verdade sabe que a surpresas não terminam por aí. Stewart Sukuma, dono das composições e interpretações musicais que impelem qualquer apreciador das suas músicas a dançar, na companhia da sua banda, Nkuvo, é outro célebre artista com que se pretende sublimar a celebração.
Recorde-se que este ano, o Festival Marrabenta – um dos poucos eventos culturais que hasteiam a bandeira da música popular urbana moçambicana no mundo – teve uma evolução assinalável.
Até porque a mesma pode ser avaliada a partir das disciplinas artísticas agregadas, da quantidade de artistas envolvidos, com destaque para a participação das rainhas da música sul-africana, as Mahotella Queens, bem como da realização do teatro musical. O Lobolo e as 30 Mulheres de Muzeleni e, por fim, o facto de este evento se ter expandido para as cidades de Inhambane e Beira.
De qualquer modo, porque Moçambique é um país multicultural, nada nos impede de afirmar que os géneros musicais explorados na cidade da Beira não são, necessariamente, a Marrabenta. Apesar de que não se distanciam muito da mesma.
É por isso que Paulo Davi Sithoe, o director do Festival Marrabenta, afirma que nos dias actuais, a Marrabenta possui influências de vários géneros musicais. Neste campo, Sithoe refere-se a Madjika, Dzukuta, Xingomana, Khwaya, Timbila Chope, assim como aos estilos de música sul-africanos. Isso faz com que “a gente não deva desperdiçar essa riqueza, sobretudo porque ela nos enriquece de certa forma”.
A expectativa é grande
Grande é como se classifica a expectativa do encontro entre o público beirense e a caravana do Festival Marrabenta que este ano escala aquela região do país primeira vez. O sentido inverso também é válido. “Vai ser um bom namoro. Na verdade, amor à primeira vista”, diz Litho.
No entanto, enquanto a caravana da Festa da Marrabenta não chega à cidade da Beira (em Inhambane passou no dia cinco, recorde- se) a equipa da produção do evento em parceria com alguns artistas beirenses prepara-se para realizar o último show que terá lugar num complexo desportivo local.
Enquanto isso, Litho considera que “da mesma forma que eu defendo a não definição da Marrabenta como estilo musical – mas como um género – penso que se deve aceitar com tranquilidade a participação de artistas como Guegué, Camal Jivá, Didácia e Madala”, que não exploram necessariamente este género musical. É por essa razão que, para si, “compreende-se com tamanha naturalidade que a Marrabenta, como o respectivo festival, possuem um grande poder agregador”.
Construir um mar de rosas
Segundo Paulo David Sithoe, a expansão do Festival Marrabenta para os municípios de Inhambane e da Beira é uma clara tentativa de construir um mar de rosas do referido evento. Afinal, o mesmo nem sempre foi assim. Por exemplo, “a nossa deslocação à Beira é um grande desafio, sobretudo porque não conhecemos muito bem o local”.
E mais, “recordo-me de que, em certa ocasião, numa entrevista realizada num programa de televisão, um telespectador criticava o facto de que os eventos culturais – o Festival Marrabenta em particular – aconteciam unicamente em Maputo. Outro espectador disse que o país possui várias manifestações culturais e artísticas diferentes daquele. Porque é que vocês (referindo-se aos organizadores do evento) se limitam a explorar apenas a Marrabenta? Querem impor o estilo aos outros?”.
Por isso, o nosso interlocutor considera que nestas intervenções estava patente uma manifestação de resistência, “a qual nós sabemos que iremos encontrar em qualquer lugar onde a nossa caravana passar”.
Mas mesmo assim, “temos em mente que o convívio, a interacção de diferentes actores culturais é muito mais importante do que a possível desunião”, realça.
Aliás, “o factor integrador da Marrabenta é maior do que qualquer coisa que (possivelmente) possa promover uma desunião entre nós. Não há receio de que um músico que explora Mapiko não conheça os acordes de Marrabenta. Porque acreditamos que ? da mesma forma que conhecemos bem os nossos filhos e primos ? os nossos artistas conhecem a Marrabenta e dedilham perfeitamente a viola”, conclui.