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Quando é preciso arriscar para petiscar

O comércio informal na província de Maputo, principalmente nas cidades de Maputo e Matola, tem atingido nos últimos tempos contornos alarmantes, com o agravante de os vendedores exercerem as suas actividades em lugares impróprios para o efeito, tais como bermas da estrada, apesar dos perigos que isso representa. A avidez pelo lucro arriscado torna-os intransigentes e renitentes.

Para contornar esta situação, os municípios de Maputo e Matola já se desdobra(ra)m em campanhas de sensibilização, mas debalde.

O objectivo de tais campanha é apelar aos informais no sentido de se retirarem dos passeios e das bermas das estradas e ocuparem as bancas existentes nos mercados, embora não sejam suficientes.

A nossa equipa de reportagem visitou alguns mercados das duas referidas cidades e viu o como muitos cidadãos se expõem ao perigo para poder sobreviver. Os vendedores deixam de fazer o seu negócio no interior dos mercados, que é o local apropriado e seguro para tal, para disputar a estrada e o passeio com os automobilistas e peões, respectivamente.

No mercado grossista do Zimpeto, construído há poucos anos para descongestionar os mercados da Malanga e Fajardo, o cenário é caótico.

Para quem está no seu interior até pode não parecer, pois aí há uma sensação de segurança e tranquilidade, o que não acontece do lado de fora do mesmo, onde, a todo o custo, os “ambulantes” tentam ganhar a vida vendendo os seus produtos.

“É impossível vender no interior do mercado”

Joaquina Tovela, de 35 anos, viúva e mãe de três filhos, diz exercer aquela actividade (vendedora) no mercado grossista do Zimpeto há sensivelmente quatro anos.

No princípio, fazia-o no mercado retalhista erguido no mesmo espaço para evitar a disputa entre os vendedores a grosso e a retalho, uma medida que ainda não surtiu os efeitos desejados.

“Desisti de vender no interior do mercado porque acabava o dia sem vender nada. Tenho família por cuidar e se o negócio não anda os meus filhos não terão o que comer, foi por isso que me mudei para aqui (bermas da Estrada Nacional Número Um)”, conta.

Questionada sobre se tinha consciência dos perigos a que está exposta, Joaquina Tovela foi peremptória (e, diga-se, fria) na sua resposta: “Quem não arrisca não petisca, se um dia eu for atropelada, terá sido obra do destino.

Vou morrer a lutar pelo bem-estar dos meus filhos. Deste lado (de fora) consigo vender produtos avaliados em aproximadamente 400 meticais, o que não acontecia dantes, quando a receita nem chegava aos 150 meticais”.

Abdul Mahomed, de 20 anos, é natural da província de Nampula e é vendedor há três. Diz ter ido parar àquela actividade devido à pobreza na qual nasceu e cresceu.

“Primeiro fui vendedor ambulante, andava um pouco por toda a cidade a vender bolachas, rebuçados e cigarros. Por vezes percorria longas distâncias e no fim do dia só voltava à casa com apenas 50 meticais”.

Cansado de andar quilómetros a fio, este jovem decidiu mudar de estratégia. “Arranjei uma tábua de madeira para colocar os meus produtos. Estou aqui (mercado do Benfica) há um bom tempo. Estou ciente dos riscos que corro ao vender na estrada, onde circulam pessoas e viaturas.

Mas este é o local ideal para caçar clientes, por ser uma terminal de transportes semicolectivos de passageiros”, defende o jovem, que diz sentir-se bem naquele lugar, principalmente por não pagar a taxa diária cobrada nos mercados.

Um perigo à espreita

Nos finais do ano passado, Fabião Cossa, de 28 anos, esteve na iminência de ser atropelado por uma viatura que na altura passava pela Avenida 4 de Outubro, algures no mercado Municipal T.3. Este jovem vende pão e outros produtos a pouco menos de dois metros da faixa de rodagem, fora do mercado.

“Escapei porque quando me apercebi de que ele vinha na minha direcção saltei para o lado. Ele só danificou a minha pequena banca”.

À semelhança deste caso, muitas são as pessoas que preferem vender do lado de fora do Mercado Municipal T3, construído pelo Conselho Municipal da Matola, criando, deste modo, condições para a ocorrência de acidentes.

(Um) Mercado (sem) Santos

Já no mercado Santos, situado ao longo da avenida da União Africana, caracterizada por um elevado tráfego rodoviário (camiões de grande tonelagem e chapas 100), as condições de saneamento e das infra-estruturas são péssimas. As bancas, que estão em avançado estado de degradação, podem desabar a qualquer momento.

Apesar desses problemas, aquele mercado regista um movimento desusado de pessoas, que para ali se dirigem à procura dos produtos e serviços disponíveis: refeições, roupa, salões de beleza, entre outros.

Entretanto, até aos cidadãos mais distraídos sobressai à vista um aparente abandono de algumas bancas no seu interior, e do lado dos vendedores não faltam motivos para justificar a sua atitude.

Uns porque faliram, outros pura e simplesmente porque “gostam” vender nas bermas da estrada. Alguns “Eu vendo roupa usada. Fazia-o no interior do mercado mas mudei-me para cá (fora) porque há movimento”, diz Júlia Macuale, uma das vendedoras por nós abordada.

Nem os índices de acidentes que se registam ao longo daquela via intimidam os vendedores, que muitas vezes são as vítimas.

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