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Biocombustíveis/Cabo Delgado introduz jatropha não tóxica

A Agro-negócio, uma empresa baseada na província de Cabo Delgado, Norte de Moçambique, e que dedica-se a promoção de boas práticas agrícolas e ambientais, vai introduzir, ainda no presente semestre, naquela região do país, a planta da Jatropha não tóxica.

Com efeito, segundo apurou a AIM, já estão a ser preparados em Bilibiza, distrito de Quissanga, em Cabo Delgado, quinze hectares para o cruzamento da Jatropha tóxica que abunda no país e uma outra não tóxica importada das Filipinas, numa parceria entre a Agro-negócio e uma empresa japonesa denominada “Nippon Biodiesel Fuel Co., Ltd”.

Espera-se que até ao final do presente ano sejam distribuídas, a dez mil camponeses, cerca de três milhões de mudas da Jatropha não tóxica.

Bachir Afonso, da Agro-negócio, disse que com a Jatropha não tóxica pretende-se garantir não só a produção de biocombustíveis, mas também o uso do respectivo bagaço para a produção de rações para animais e o respectivo óleo para o fabrico de sabões em grande escala.

Fora disso, segundo a mesma fonte, há planos de se usar o bagaço para a produção de um tipo de carvão vegetal, de forma a se minimizar a acção dos camponeses no desmatamento.

Nos dias que correm, os camponeses são aconselhados a usarem o sabão que fabricam, a partir do óleo da Jatropha tóxica, apenas para as limpezas, incluindo a lavagem de roupas. Um exemplo disso vem da Aldeia de Ngewe, distrito de Ancuabe, em Cabo Delgado.

Naquela região, como em várias outras daquela província, o óleo da Jatropha, que ainda se extrai em moldes praticamente tradicionais, é também usado para a iluminação.

Por outro lado, a Agronegócio espera desenvolver uma experiência da vizinha Tanzânia de produção de repelentes de mosquitos a partir do óleo da Jatropha.

Afonso referiu que a Jatropha não tóxica será uma mais valia mas, segundo declarou, mesmo com a tóxica “há muita coisa boa que pode ser feita”, nomeadamente a produção de biocombustiveis, uma energia considerada positiva por reduzir os níveis de emissões do dióxido de carbono, para além de ser uma energia renovável.

Ainda no âmbito da parceria com o Japão, a Agro-Negócio vai receber, “brevemente”, um novo equipamento de extracção do óleo da Jatropha, importado daquele país asiático. A maquinaria, com capacidade para produzir duas toneladas de óleo de Jatropha por dia, vai ser montada em Bilibiza, distrito de Quissanga. “Será mais um grande passo na produção do biodiesel, biogás, e bagaço”, disse Bachir Afonso.

Algumas correntes da sociedade ainda discordam da jatropha

Bachir Afonso disse, a dado passo, não entender as razões que levam a que algumas correntes da sociedade, incluindo alguns políticos, continuem relutantes em aceitar a Jatropha como benéfica, principalmente na presente fase em que o mundo se recente das mudanças climáticas, muito mais por causa dos altos níveis de emissão de gases.

“Há gente, até mesmo políticos, que fingem não perceber a relevância da Jatropha. Eles não entendem que esta planta é uma alternativa de preservação ambiental. O aquecimento global não é uma política mas sim uma realidade que afecta a todos: as temperaturas estão a subir, as chuvas caem de forma violenta, e os ciclones se multiplicam cada vez mais”, disse a fonte.

De acordo com ele, quando o Presidente da República, Armando Guebuza lançou o desafio de se cultivar a Jatropha fê-lo na qualidade de um ambientalista.

“Cultivar a Jatropha não pode ser vista como uma ordem, mas sim uma tentativa de se minimizar os riscos que a humanidade está a correr, no concernente a salvaguarda do meio em que vive”, afirmou.

Bachir Afonso disse que desde que, em 2008, vários distritos de Cabo Delgado abraçaram os projectos de cultivo da Jatropha, nunca foi reportada nenhuma morte relacionada com esta planta, mesmo sabido que há situações em que ela, ao ser ingerida, pode perigar a saúde do homem.

“Até os camponeses com quem agente trabalha já sabem que a Jatropha não é para alimentação, mas sim uma planta usada para produzir energia, entre outras finalidades”, indicou, acrescentando que “há muita informação errónea que gira mesmo no seio de gente muito bem instruída”.

Integração do cultivo da jatropha com culturas alimentares

Uma das boas práticas que se está a levar avante em vários distritos de Cabo Delgado, como é o caso de Ancuabe, Macomia, Quissanga, entre outros, é a integração da Jatropha com culturas alimentares.

Num projecto financiado pelo Centro de Promoção de Agricultura (CEPAGRI) e virado essencialmente para o sector familiar, os camponeses recorrem a Jatropha para vedarem as machambas em que produzem alimentos, criando se, a volta delas, uma espécie de “cintura verde”.

“Muitos camponeses estão a aderir ao cultivo da Jatropha nestes moldes, pois garante a produção de biocombustíveis sem descurar a componente alimentar”, disse Bachir Afonso.

António Nlelo, de Ancuabe, e Elias dos Santos Pirai, da aldeia de “Ko Ko”, em Macomia, são dois camponeses que testemunharam que a prática em questão tem múltiplas vantagens.

“A vedação com recurso a Jatropha reduz conflitos de terra entre os camponeses e entre o homem e alguns animais; reduz a erosão; periodicamente pode se colher a semente da Jatropha que os camponeses comercializam como matéria-prima para a produção de biocombustiveis, entre outras finalidades”, afirmaram eles, salvaguardando que, mesmo assim, a Jatropha é uma cultura secundária que vem acrescentar valor a diversas acções de combate a pobreza.

Seis mil camponeses já aderiram ao projecto do cultivo da Jatropha nestes moldes. A meta é, ainda este ano, o número subir para dez mil camponeses. Os incentivos disponibilizados pelo projecto tem contribuído em grande medida para esta aderência.

O projecto aloca extensionistas que assistem os camponeses no cultivo da Jatropha, nos moldes em questão, e de culturas alimentares, e distribuem insumos agrícolas, entre outro apoio.

Ainda mais, os camponeses podem, com recurso a semente da Jatropha, pagar o tractor que é usado para lavrar as suas machambas. “Com este sistema queremos que os camponeses alarguem as áreas de produção de culturas alimentares”.

Nos distritos de Cabo Delgado em que este projecto está em curso, o quilo da semente da Jatropha descascada é comprado a sete meticais, e o da semente não descascada a três meticais.

Bachir Afonso defende que esta tabela de preços é acessível porque vai permitir que o litro de biodiesel, por exemplo, seja comercializado a um preço inferior ao do diesel fóssil.

Em Maputo, a capital do país, o litro do Diesel é comprado a aproximadamente 45 meticais (cerca de Um dólar e sessenta cêntimos). Este preço é apenas uma referência pois se agrava quanto mais for a distância em relação aos principais portos nacionais.

“Se quisermos massificar o uso de bio – combustíveis, temos que criar condições para que o preço seja inferior ao dos combustíveis fosseis”, declarou a fonte.

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