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A mulher revoltada com o “Dando”

A mulher revoltada com o “Dando”

A depressão tropical “Dando”, caracterizada por chuvas acompanhadas de ventos fortes, que há duas semanas fustigou a região sul do país, com maior enfoque para a província de Gaza, onde provocou danos materiais e causou vítimas humanas, reduziu a vida de Violeta Mucavele, de 43 anos, à estaca zero. Ela reside no distrito de Chicumbane e encontrámo- la desesperada, sem saber como recomeçar a sua vida.

A maior parte dos seus bens foi destruída e arrastada pela fúria das águas. Antes do infortúnio, Violeta dedicava-se ao trabalho informal para garantir a sua sobrevivência.

Vendia roupa e calçado usados nos mercados informais e, na sua casa, comercializava bebida destilada. Até à primeira semana de Janeiro, as coisas pareciam correr bem para Violeta.

“No dia 5 fui comprar dois fardos de roupa e um de calçado. Gastei cerca de oito mil meticais porque tive de me deslocar à cidade de Maputo”, conta para depois acrescentar que vendeu parte considerável da mercadoria no dia seguinte.

“Por dia eu conseguia ganhar entre 500 e 800 meticais. Pensei que o ano 2012 pudesse trazer coisas boas para mim”.

… mas o Dando estava a caminho

Quis o destino e a mãe natureza que os sonhos da senhora Violeta fossem por água abaixo. “Perdi fardos e outros bens que adquiri com muito sacrifício. Quando o mau tempo começou a fazer- -se sentir fiquei desesperada. Os vizinhos tentavam arranjar as suas casas para minimizar os efeitos das intempéries”.

À semelhança dos outros residentes do distrito de Chicumbane, província de Gaza, Violeta, que perdeu o marido no ano de 2000, vivia numa minúscula casa de material precário cujo tecto permitia que, com pouca chuva, o seu interior ficasse alagado.

As paredes laterais que já clamavam por uma reabilitação ou reforço cediam consoante o ritmo que a chuva ia tomando.

“A ventania fazia a casa abanar, eu lá dentro quase que me via no fim do mundo, não podia sair porque fora a situação era pior”.

Como um mal nunca vem só, a situação tornou-se mais crítica quando, devido aos ventos fortes, começou a chover intensamente e, depois de algumas horas, as casas, incluindo a de Violeta, desabaram.

“Tentei pedir socorro, mas não houve quem me ajudasse porque as nossas residências estão distantes umas das outras, sem contar que as outras famílias passavam pelo mesmo dilema”, comenta.

Violenta acrescenta ainda que, mas do que perder quase todos os seus bens, a sua vida estava num iminente perigo, as águas transpunham a altura dos joelhos, e o vento não dava tréguas, o que provocou a queda de árvores. Algumas pessoas contraíram ferimentos.

…podia ter acontecido o pior

Violeta Mucavele conta que se os seus dois filhos menores de idade estivessem em casa na altura do temporal, o pior podia ter acontecido. “Não sei o que faria para proteger as crianças. Eu estava, literalmente, entre a vida e a morte.

O meu desejo era que o ciclone levasse tudo, menos a minha vida e a dos meus filhos, que se encontravam na cidade de Maputo”.

Entretanto, quando as chuvas começaram a abrandar, as famílias afectadas vislumbravam uma nova etapa das suas vidas; umas reconstruíam as suas casas, e outras tentavam seguir o curso das águas para reaver alguns bens, tais como panelas, roupa e loiça.

Sorte diferente teve Violeta, que não conseguiu recuperar nada, excepto uma panela e um plástico de roupa que encalharam numa das árvores que compõem o seu quintal. As chapas de zinco que o vento levou constituem a maior perda.

“Comprei-as em Maputo no ano passado. Das oito, só me restam duas, que já não servem para cobrir uma casa”.

Mesmo um cidadão incauto e desatento consegue ver a penúria por que Violeta passa. O seu abrigo não passa de um rectângulo de caniço, suportado por quatro estacas colocadas nos cantos.

Se dantes dormia numa cama de madeira, hoje passa as suas noites por cima de dois sacos de arreia. “Quem estiver do lado de fora consegue ver-me”.

Quando a esperança é a última a morrer

É no adágio popular segundo o qual “a esperança é a última a morrer” que pessoas como Violeta encontram o consolo.

“Não sei como, mas vou superar este momento”, garante. O que lhe resta é recompor- se e recomeçar do zero, o que significa reconstruir a casa, adquirir novos bens e, quiçá, retomar a sua antiga actividade: vender roupa usada e calçado.

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