Há duas semanas, a Sociedade ITALMO LDA (Itália Mocambique), representado na parte moçambicana por um cidadão zambeziano e natural de Macuse, Constantino Governo, por sinal, sobrinho do então Bispo da Diocese de Quelimane, Dom Bernador Filipe Governo, convocou uma conferência de imprensa para denunciar a má ocorrência dum negócio que a sua sociedade tratou com o governo do distrito de Milange.
O negócio consistiu em dar créditos aos comerciantes de Milange, região fronteiriça, para a comercialização de cereiais, neste caso o milho que entrava no vizinho Malawi a olho nu. Uma vez que o governo não tinha ainda capacidade para travar aquela acção, houve este acordo (verbal) com a ITALMO LDA, para que esta firma concedesse crédito aos mutuários daquele distrito.
Do lado da empresa, sairam 250 mil meticais para a administração de Milange, na altura dirigido pelo senhor Cristiano Consola. Este valor foi entregue aos mutuários e confirmado pelo respectivo governo de Milange e a lista dos mutuários existe.
O tempo foi passando e alguns dos mutuários honestos foram fazendo o reembolso daquilo que haviam recebido. No total, conforme se vê nas guias de devolução, a ITALMO conseguiu arrecadar pouco mais de 120 mil meticais, ficando ainda mais de 130 mil meticais nas mãos dos mutuários, isto em 2005.
Com o andar da carruagem, Cristiano Consola foi transferido e, dai o assunto parou até hoje. Só que depois da saida do Consola de Milange, o administrador que lhe substitiu foi aos arquivos e encontrou este dossier que o seu governo tinha com a ITALMO, no concernente aos reembolsos e outra tranche para o financiamento.
Porque segundo explicações obtidas, a actividade teve sucesso naquele distrito. Quando a ITALMO pensava que estava tudo bem para avançar, eis que o responsável da empresa, Constantino Governo, recebe uma chamada para dirigir-se a Milange, chamada esta feita pelo director da Indústria e Comércio, o Sr. Figueiredo.
Todo ele contente, o responsável da ITALMO pela parte moçambicana foi a Milange, depois de passar por aquele martírio todo da estrada, quando lá chegou, foi directo a sala do governo de Milange e de lá foi dito que queriam informar-lhe que o valor que havia sido colectado havia sido usado pela tesouraria para as despesas da administração e fê-lo por erro, pensando que era dinheiro da administração.
Quando questionada, a tesoureira assumiu ter usado estes fundos nas despesas internas. Aqui começou o bang-bang. A partir deste dia, quando a ITALMO questionasse sobre os reembolsos em falta, ninguém conseguia dizer algo palpável. Ou porque os mutuários não querem reembolsar, ou porque isso, mas aquilo, até hoje.
Os anteriores governadores, neste caso Lucas Chomera e Carvalho Muária, são apontados como conhecedores desta novela. Mas também nada fizeram para resolver este embróglio. Já sem esperança, a ITALMO, na pessoa do seu representante moçambicano, dirige uma carta ao governador da Zambézia, neste caso o actual, Francisco Itai Meque, solicitando uma audiência.
A carta a que o DZ teve acesso, infelizmente, não tem carrimbo de entrada, mas a ITALMO diz ser essa a missiva que dirigiu ao governador, pedindo a referida audiência. Nada, não foram respondidos nem cedidos a audiência. Mais uma carta, também nada.
A terceira, foi pessoalmente o representante ao gabinete do governador pedindo que seja concedida uma audiência, mas a resposta que recebeu é aquela de sempre, o governador anda nos distritos. Sem paciência, a ITALMO decide convocar uma conferência de imprensa, semana passada, para, pelo menos, pedir socorro e também como forma de manifestar o seu desagrado com o caso.
Aliás, importa aqui referir que este negócio feito entre a ITALMO e o governo de Milange na alocação de créditos foi do conhecimento do então director provincial do Plano e Finanças, Eusébio Saide e o seu respectivo adjunto, Paulo Risco.
Conferência de imprensa o entornar da água
Há duas semanas, se não exagerado, a ITALMO chamou, para as suas instalações, a imprensa para informar sobre este assunto. Falou-se disso e outras coisas. Mas então, depois de a informação ter sido veiculada, eis que o representante da ITALMO recebe chamada do gabinete do governador, solicitando-lhe para um encontro entre o chefe do executivo, neste caso Itai Meque e Constantino Governo, representando a ITALMO.
O estranho, conforme explica o visado, neste caso o homem da ITALMO, é que começou a ver a entrada de jornalistas. Ia-se questionando-se, se chamaram-lhe para falar com o governador, porquê a presença da imprensa? Mas como era no gabinete do governador, Governo deixou para ver.
Já quando entrou o governador começou o “baile”. O governador Itai Meque disse que o assunto entre a ITALMO e a administração de Milange não tinha base legal, era um combino de amigos. E se a ITALMO quisesse, poderia ir cobrar os valores ao então administrador Consola.
Isso criou indignação no seio do representante da ITALMO, que, na sua óptica, não compreende como é que o governador diz isso, enquanto há documentos de reembolso assinados e carimbados com instrumentos usados na administração de Milange. Nesse ponto não se entenderam. Itai Meque continuou a bater na mesma “tecla”, de que não sairá do governo dele nem um tostão para pagar a ITALMO.
Aliás, um despachado pelo governador mostra claramente o distanciamento deste caso, alegando no mesmo despacho ser improcedente a reclamação da ITALMO.
Zangado com esta atitude, o representante da ITALMO, nem mais, também mandou vir com o governador em plena sala. Repórteres presentes no encontro, contactados pelo DZ para aperceber-se da veracidade dos factos, confirmaram que houve bate bocas e o governador abandonou a sala indicando os assessores para falarem com o representante da ITALMO.
O homem da empresa na sala, com a imprensa, já sem norte, aproveitou-se da ocasião e soltou também aquilo que lhe vinha da alma. As fontes dizem que houve palavras feias e até que o representante da ITALMO chamou o governador de arrogante, astuto, anti-democrata, que pensa que é tudo para os zambezianos, e por ai fora.
O homem da ITALMO não parou por ai, chamou o governador da Zambézia de terrorista, pela forma como age com as pessoas. E, esta Terça-feira, falando ao DZ, Constantino Governo reiterou que “Itai Meque não é governador para esta província, ele pensa que é tudo” .
Estou a ser vítima porque sou da oposição
“Nunca fui membro da Frelimo, apoio a Renamo e, desta vez apoiei o Manuel de Araújo, para mudarmos deste sistema marxista”.
Foi assim que o representante da ITALMO começou a sua abordagem quando perguntado se isso tudo tinha alguma motivação política. A fonte respondeu que sim. E mais, Constantino Governo disse que é também pelo facto de ser sobrinho do então bispo de Quelimane, Dom Bernardo Governo, tido como apoiante da Renamo que o governador está a agir desta forma.
“Mas eu digo-lhe que não tenho medo, enfrento qualquer um que vier” – alertou. Por fim, Governo convidou a reportagem do DZ para ver as máquinas de lapidação e lavagem de minérios que haviam sido adiquiridas pela sua sociedade na perspectiva de montar-se uma espécie de uma indústria onde os minérios seriam processados localmente.
Depois de acete a ideia por parte do então governador Orlando Candua, o projecto ficou encalhado. No total, as máquinas custaram quase 7 mil euros. Constatino diz que até roubaram-lhe as lupas e outros equipamentos.
Isso tudo, de acordo com a fonte, resultaria na instalação duma fábrica de cimentos em Naciaia, mas por causa destas acções de Itai Meque ele pediu aos seus parceiros para que esta actividade não acontecesse até que Itai saia dali.