À minúscula e montanhosa cidade de Manica, na província com o mesmo nome, no Centro de Moçambique, onde circulavam luxuosas viaturas importadas, está a “retornar o rosto da pobreza” devido ao “bloqueio de contrabando de diamantes” do Zimbbwe.
“Muitos estrangeiros estão a abandonar Manica porque o comércio de diamantes ficou paralisado. Não há contrabando. As pessoas que viviam de rendas milionárias das casas neste bairro voltaram à estaca zero”, diz Laura Quene, uma dona de casa que não resistiu à proposta de arrendar a sua residência a estrangeiros.
A cidade, que havia apagado os sinais de pobreza, outrora visíveis, desde 2009 vinha assistindo a um movimento desmedido de estrangeiros, na sequência da descoberta de jazigos de diamantes em Marange, Zimbabwe, não muito longe da fronteira com Moçambique, que eram explorados fora do controlo das autoridades locais.
O mineral entrava em Moçambique num circuito de contrabando, o que atraiu vários estrangeiros, na sua maioria de nacionalidades paquistanesa, libanesa, nigeriana, somali e outros das regiões dos Grandes Lagos.
O movimento fortaleceu o comércio e infra-estruturas para acomodar os negociantes de diamantes na região.
Intervenção policial
Entretanto, uma acção conjunta das polícias moçambicana e zimbabueana desmantelou, em Setembro passado, uma rede de traficantes de diamantes, o que retraiu vários estrangeiros que se dedicavam ao negócio, tendo muitos deixado o distrito.
“O número de estrangeiros reduziu consideravelmente desde a operação das duas polícias. Das informações que temos, a maioria está a seguir para a província de Tete e outros para Angola”, diz Pedro Jemusse, comandante da Polícia no distrito de Manica.
Com as ruas quase desertas, na Eduardo Mondlane, a única avenida da cidade, defronte dos dois principais restaurantes (Flamingo e São Cristóvão), onde estacionavam nos finais de tarde veículos Hummer, Ferrari, Crysler, Jeep, quase todos com vidros fumados, é notória a desaceleração do movimento.
“Caiu muito. Ficamos por vezes a bocejar por falta de clientes. Aqueles que compravam diamantes quase passavam todas as refeições em restaurantes, o que nos obrigava a circular a toda hora”, explica Flávia David, servente de bar.
Diversas mercearias que andavam com prateleiras recheadas de produtos, entre comidas e bebidas, importados principalmente da África do Sul, encerraram as portas e outras foram transformadas em lojas de venda de fardos de roupa usada. Os hotéis estão vazios.
“Quando os estrangeiros entraram, vários escombros foram transformados em mercearias e os preços dos produtos alimentares explodiram, assim como o custo de vida. Agora que estão a sair (os estrangeiros) os preços continuam altos, e como vai baixar o fluxo de circulação de divisa (por desemprego e falta de mercado para mineiros da região), os pobres serão penalizados”, explica Baptista Sande, um funcionário bancário.
No Zimbabwe, os jazigos de diamantes actualmente são controlados por uma força privada, depois de o Governo ter decidido retirar polícias e militares, acusados de maltratar a população que arriscava em garimpar os diamantes.
Moçambique está em vias de integrar o Processo Kimberley – o mecanismo de certificação internacional com o objectivo de evitar que os diamantes continuem a financiar conflitos armados e a desacreditar o mercado legítimo de diamantes em bruto – devido à prospecção deste mineral, na zona Centro, próximo da fronteira com o Zimbabué.