Pelo menos mais 15 pessoas foram mortas nesta sexta-feira na Síria, e soldados amparados por tanques atacaram a cidade de Zabadani, perto da fronteira com o Líbano, disse um líder oposicionista, na primeira grande ofensiva militar desde a chegada ao país de monitores da Liga Árabe, no mês passado.
O governo do presidente Bashar al-Assad reprime há dez meses um movimento pró-democracia, que mais recentemente ganhou a adesão também de militares desertores. A situação levou o secretário-geral da Liga Árabe a alertar para o risco de uma guerra civil.
Alguns observadores da Liga deixaram a missão nos últimos dias em protesto contra a continuidade da violência por parte das forças de segurança. “Os tanques estão bombardeando a cidade e entraram nos arredores, mas eles estão encontrando resistência”, disse à Reuters Kamal al-Labwani, líder oposicionista de Zabadani, que fugiu há duas semanas para a Jordânia. “O Exército Sírio Livre (desertores) tem uma forte presença na área.”
O Observatório Sírio de Direitos Humanos afirmou que sete civis foram mortos, sendo quatro na cidade de Homs. Entre os mortos há também duas pessoas que haviam ficado feridas dias antes. Já a agência estatal de notícias Sana noticiou que cinco membros das forças do governo, inclusive um tenente-coronel, foram mortos por “grupos terroristas armados” em dois ataques em Homs e no entorno rural de Damasco. Como já é tradicional, houve manifestações depois das preces islâmicas da sexta-feira. “O povo quer a queda do regime”, gritava a multidão na cidade portuária de Latakia.
A Organização das Nações Unidas (ONU) diz que mais de 5.000 pessoas, a maioria civis, já morreram em dez meses de distúrbios na Síria. O governo afirma que “terroristas” com apoio estrangeiro já mataram 2.000 soldados e policiais.
Os confrontos armados das últimas semanas, após meses de protestos não-violentos, geram temores de uma guerra civil nesse país árabe de 23 milhões de habitantes. “Sim, temo uma guerra civil, e os fatos que vemos e ouvimos a respeito agora podem levar a uma guerra civil”, disse Nail Elaraby, secretário-geral da Liga Árabe, à TV egípcia Al Hayat. “Quaisquer problemas na Síria terão consequências para os Estados vizinhos”, alertou.
A Síria tem fronteiras com Líbano, Turquia, Iraque, Jordânia e Israel, e tem o Irã e o grupo xiita libanês Hezbollah como seus maiores aliados. Em visita ao Líbano, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, exigiu que as autoridades sírias “respondam às aspirações democráticas legítimas do povo sírio”, e aconselhou o Conselho de Segurança a se manifestar a uma só voz, o que até agora é impossível devido às restrições de China e Rússia contra qualquer medida mais incisiva que afete o regime de Assad.
O mais graduado oficial do Exército sírio a ter desertado até agora disse à Reuters que as deserções estão desgastando o Exército, mas que os rebeldes podem levar mais de um ano para derrubar Assad. Segundo o general Mostafa Ahmad al-Sheikh, até 20 mil soldados, principalmente sunitas, deixaram as Forças Armadas apesar dos “controles férreos”.
O general disse, porém, que a maioria desses desertores está mais empenhada em não ser capturada do que em combater as forças leais a Assad, que pertence à seita minoritária alauita.