O governo de Mianmar assinou, esta Quinta-feira, um cessar-fogo com os rebeldes da etnia karen na esperança de acabar com uma das mais antigas insurgências do mundo, e eventualmente resolver os conflitos com grupos separatistas no país.
O governo e uma delegação de 19 integrantes da União Nacional Karen (UNK) concordaram com 11 princípios da trégua e assinaram dois amplos acordos, destinados a encerrar as hostilidades entre o governo e o Exército Nacional de Libertação Karen (ENLK) e a iniciar um diálogo com vista a uma solução política para o conflito, que já dura 62 anos.
O cessar-fogo pode ser também um pequeno passo rumo à suspensão de duas décadas de sanções a Mianmar por parte da União Europeia e dos Estados Unidos, que fazem da paz, entre o governo e as milícias étnicas, uma pré-condição para rever as punições.
Desde 1949, houve seis negociações de paz, sem nenhum acordo duradouro. Saw David Htaw, vice-líder da delegação da UNK, disse que o ambiente de mudança em Mianmar, agora sob um governo de mentalidade reformista, torna o diálogo “inevitável”.
“Nunca fomos mais confiantes nas nossas negociações… As pessoas experimentaram os horrores da guerra por muito tempo. Tenho certeza de que ficarão muito contentes ao ouvirem esta notícia. Espero que elas possam desfrutar plenamente do doce sabor da paz desta vez.”
Desde 1949, ano seguinte ao fim do domínio colonial britânico sobre a então Birmânia, o UNK já enfrentou sucessivos governos, por meio do ENLK, para reivindicar mais autonomia para o povo Karen, que vive no sudeste do país.
Segundo os acordos firmados em Pa-An, no Estado de Kayin, todos os esforços serão feitos para o retorno e reabilitação de milhares de refugiados do conflito.
A presença de armas será permitida apenas em certas áreas, as minas terrestres serão retiradas, e os escritórios de ligação serão instalados para facilitar os contactos.
O governo também já selou um acordo com o Exército do Estado Shan, do sul, ao passo que o início das negociações com o Exército da Independência Kachin (norte) é inviabilizado por persistentes combates, apesar das ordens do presidente Thein Sein para que os militares encerrem as suas operações.
As autoridades dos EUA dizem que o processo de paz pode ser o mais duro desafio aos líderes civis que se propõem a tirar o país do isolamento depois de cinco décadas do regime militar.
Os rebeldes, porém, têm profunda desconfiança contra o governo de Thein Sein, composto pelos mesmos integrantes do antigo regime militar, mas que agora tornaram-se adeptos das propostas federais defendidas pela líder da oposição, Aung San Suu Kyi.