A morte, sempre inoportuna, apareceu mais uma vez para semear luto na cultura moçambicana. Vão a enterrar na manhã desta terça-feira, 10 de Janeiro, as 10h no Cemitério de Lhanguene, os restos mortais do coreógrafo moçambicano, Júlio Matlombe. Matlombe perdeu a vida, no passado domingo, vítima de doença, no Hospital Central de Maputo.
Uma perda irreparável na História da Companhia Nacional de Canto e Dança (CNCD) e, por extensão da dança moçambicana, acaba de se assinalar. Amanhã, terça-feira, quando forem forem 10h, familiares, colegas, ex-alunos, amigos, irão prestar o último adeus a Júlio Matlombe no Cemitério de Lhanguene, em Maputo. Mas antes, segundo uma nota recebida na nossa redacção, realizar-se-á o velório em sua residência no Bairro de Magoanine “C”, pelas 8h.
“Neste momento de luto, resta-nos reafirmar o nosso compromisso de continuidade nas pesquisa, preservação e divulgação dos valores culturais da sociedade moçambicana em geral, e da dança em particular, como a melhor forma de honrarmos os princípios Matlombe defendeu – em vida –, bem como a obra por si iniciada para que neste país a arte fosse valorizada e ocupasse o lugar que merece”, afirmam os companheiros da Companhia Nacional de Canto e Dança, com que trabalhou ao longo dos anos.
Para a CNCD, a morte de Júlio Matlombe constitui um autêntico revês, sobretudo, quando se considera que em vida Matlombe foi professor da maioria dos bailarinos daquela instituição, constituindo a biblioteca móvel da história, do repertório de acção e de representação do pensamento e da visão que orientara parte do discurso da Companhia desde a sua fundação há mais de 30 anos.
Quem foi Matlombe
Júlio Armando Maltombe nasceu a 15 Agosto de 1957 no distrito da Manhiça, localidade de Ucalanga, na província de Maputo. Em 1976, fez parte do Grupo da Direcção Nacional de Cultura, criado e fortalecido com objectivo de viabiliazar a participação de Moçambique no Festival Mundial e Arte e Cultura Negra (FESTAC), realizado em Lagos, na Nigéria. Passou a sua adolescência e juventude em Maputo, mantendo sempre o cordão umbilical ligados aos familiares na Manhiça.
Mais adiante, em 1978, buscando novos conhecimentos e saberes sobre a arte, associa experiências de teatro negro-africano levado a Moçambique por técnicos guineenses-conakry. Na Companhia Nacional de Canto e Dança, Júlio Matlombe participou em todas as digressões realizadas em solo pátrio e no exterior. Ao mesmo tempo que fez o mundo delirar com o virtuosismo do seu talento. Suas exibições – muitas vezes apoteóticas – carregavam e mesclavam alguma visão espiritual e mitológica.
Quem fala de Matlombe refere-se a um artista que desde 1976 esteve em constante progresso. Acredita-se que tal vistuosismo e pragmatismo herdou do pai, maestro de makwaela em Ucalanga, na sua terra natal, Manhiça. Em 1987, ganhou o concurso de Marrabenta promovido pelos 100 anos da Cidade de Maputo, demostrando mais uma vez o seu talento na arte de dançar. O “Sol Nasceu, Grande Festa, Xitukulumukumba, A Noiva de Nhakebera, Ode á Paz, Árvore Sagrada, Amatodos” – entre outras – são algumas obras em que Matlombe revelou-se um exímio solista.
Do seu imaginário cultural brotou formações teatrais como “Voz Verde e Nambu”, em 1991, assim como, o Grupo da Casa Velha, em 1992. Com o desaparecimento físico de Júlio Matlombe – os amantes das artes e cultura, no país, da dança em particular – perdeu-se um irmão, amigo, colega, coreógrafo e educador.
Paz à sua alma!