O Bild, jornal mais lido da Alemanha, disse, esta Quinta-feira, que planeia publicar uma transcrição potencialmente explosiva de uma mensagem deixada pelo presidente alemão, Christian Wulff, ao editor do jornal tentando impedir a publicação de uma reportagem constrangedora sobre um empréstimo imobiliário.
Isso poderia prejudicar ainda mais a imagem de Wulff, que, Quarta-feira, foi à televisão tentar apaziguar o escândalo sobre um empréstimo particular contraído por ele e sobre a sua suposta tentativa de pressionar o jornal a não divulgar o caso.
O escândalo pode prejudicar a chanceler Angela Merkel, que indicou Wulff para a presidência em 2010. Sofrendo pressão para renunciar, Wulff deixou claro, Quarta-feira, que queria ficar no cargo, e até agora o apoio de Merkel garantiu a sua segurança.
Ela está preocupada em evitar um debate prolongado e potencialmente conflitivo dentro da sua coalizão sobre um sucessor e, como sua maior patrocinadora, ela está vulnerável a acusações de mau julgamento.
A imprensa alemã e os parlamentares da oposição renovaram, Quinta-feira, os ataques a Wulff, que na entrevista televisiva admitiu ter cometido um erro grave ao ligar para o editor do Bild, mês passado, e deixar uma mensagem ameaçadora no seu correio de voz.
Wulff disse que não tentou anular a reportagem, mas apenas adiar a sua publicação em um dia para ter tempo de respondê-la. O Bild rejeitou isso e divulgou uma carta, Quinta-feira, do editor Kai Diekmann para Wulff, na qual ele busca consentimento para publicar uma transcrição da mensagem.
“Observamos com surpresa a sua declaração, na televisão, de que a sua ligação para a minha caixa postal não tentava impedir a publicação da reportagem sobre o seu empréstimo imobiliário, mas sim adiá-la em um dia”, escreveu Diekmann.
“A fim de acabar com o mal entendido sobre os motivos e o conteúdo de sua ligação, achamos ser necessário publicar a transcrição da sua mensagem”.
“Guerra”
A mídia alemã divulgou que Wulff havia ameaçado o Bild com uma “guerra” e consequências legais se o jornal publicasse a história.
Na reportagem, que o Bild publicou, mês passado, o jornal divulgou que Wulff havia recebido um empréstimo imobiliário em 2008 a taxas baratas da esposa de Egon Geerkens, um amigo e rico empresário, quando ele ainda era premiê do Estado da Baixa Saxônia.
O actual presidente está a ser acusado de ter enganado o parlamento estadual quando negou ter relações de negócios com Geerkens, e os seus críticos dizem que ele pode ter infringido a lei ministerial.
Os alemães levam a sério o cargo de presidente. A pessoa no posto deve agir como uma autoridade moral para a nação, defendendo as leis constitucionais, inclusive um compromisso com a liberdade de imprensa.
A chefia do governo, no entanto, fica com o chanceler, que actua como um primeiro-ministro. O apoio público a Wullf caiu de 63 por cento para 47 por cento em dias, mostrou uma pesquisa feita pela televisão ARD.

